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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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RUMO A 2006

Presidente e ministro da Fazenda planejam forma para combinar agendas política e econômica em 2004

Lula já estuda como aquecer a economia em ano de eleições

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja aquecer a economia na eleições municipais de 2004 para tentar favorecer os candidatos do PT e dos partidos aliados. Com um bom resultado em 2004, Lula avalia que será facilitada sua reeleição em 2006.
O presidente discute com Antonio Palocci Filho (Fazenda) a melhor forma de casar a agenda política com a econômica, segundo apurou a Folha. Lula rejeita patrocinar uma farra fiscal ou afrouxar a política monetária, mas avalia que os atuais índices de desemprego e de queda de renda do trabalhador prejudicarão o PT se não houver reversão.
Por isso, o presidente deseja combinar "o tempo econômico com o tempo político" -expressão usada por integrantes do núcleo duro do governo (como é chamado o grupo de ministros e auxiliares petistas mais próximos ao presidente da República).
A data das eleições é 3 de outubro. Em conversas reservadas, Palocci disse a Lula que, a partir de maio de 2004, quando a campanha eleitoral começa a esquentar de fato, poderão ser sentidas as melhorias na economia real.
Palocci prevê a geração de empregos, o aumento da renda e do consumo. Acha que a queda consistente dos juros básicos estimulará os investimentos industriais.
Esse cronograma político ajuda a explicar a cautela que tem guiado a política monetária. Depois de uma queda de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de juros em agosto (de 24,5% para 22% ao ano), os meses de setembro e de outubro foram de maior cautela, com baixas de 2 pontos e de 1 ponto percentual, respectivamente. Hoje, a taxa básica de juros (Selic) está em 19% ao ano.
A queda de 2,5 pontos percentuais de agosto foi um movimento para atender o presidente, que cobrava a emissão de um sinal positivo para os agentes econômicos. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, recebeu a mensagem do núcleo duro, articulou a queda e ganhou pontos com o presidente Lula.
Hoje, Meirelles ocupa maior espaço nas conversas com Lula do que no início do governo. O presidente, insatisfeito com o desempenho de muitos ministros e auxiliares, faz questão de ressalvar as escolhas de Palocci e de Meirelles como acertadas.
O entrosamento entre Lula, Palocci e Meirelles abre espaço para a introdução do componente político nas conversas sobre o reaquecimento econômico.

Pressão do PT
Alertado por Meirelles de que poderia haver remarcação de preços no final do ano, Lula se convenceu da necessidade de maior cautela na política monetária. Baixar os juros demais agora e ter de voltar atrás no início do ano comprometeria o projeto do governo de fazer a economia se aquecer mais fortemente a partir de maio.
O discurso público do governo será sempre o de que a política não vai interferir na economia. No entanto uma preocupação forte de Lula nos últimos dias foi a insatisfação crescente dos moderados do PT, incluindo prefeitos e governadores.
No dia 20 de outubro, dia em que Lula lançou a unificação dos programas sociais, o governador Jorge Viana (PT-AC) fez alertas aos ministros Palocci e José Dirceu (Casa Civil). Com Palocci, Viana foi claro: "Hoje, você é unanimidade. A partir de janeiro, pode não ser mais. O aperto [fiscal] está muito forte".
Viana, cuja preocupação é compartilhada por outros governadores, prefeitos e deputados do PT, usou palavras semelhantes com Dirceu ao descrever a insatisfação com o ritmo de liberação de verbas (emendas parlamentares, por exemplo) e de investimentos nos Estados. No dia 24 de outubro, cerca de 20 dirigentes do chamado Campo Majoritário, a união das correntes moderadas do PT, reuniram-se num hotel de Brasília. As críticas à política econômica foram o centro dos debates.
Os moderados manifestaram temor de que a alta taxa de desemprego e a queda na renda dos trabalhadores prejudiquem os candidatos do partido. "Deixei o pessoal desabafar", conta o presidente do PT, José Genoino.


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