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CELSO PINTO
A montanha-russa do câmbio
Desde o início da livre flutuação
do câmbio, a cotação do dólar subiu
a R$ 2,20, caiu para R$ 1,65, voltou
a subir para R$ 2,00 e está agora em
R$ 1,85, com perspectivas de cair
ainda mais. Faz algum sentido?
Câmbio flutuante, por definição,
flutua, mas é possível ouvir, em
Brasília, uma indicação sobre onde
o governo enxerga alguma racionalidade nesta montanha-russa de cotações.
O ponto de partida é uma conta
comum no mercado financeiro. O
cálculo é que na crise cambial, em
janeiro, o câmbio de R$ 1,21 por dólar estava subvalorizado em cerca
de 20%.
É preciso considerar, contudo, que
houve também uma forte deterioração nos termos de troca: uma
queda nos preços de bens exportados pelo Brasil e um aumento nos
preços de bens importados. A perda
estava em 15% nos 12 meses encerrados em outubro.
Supondo que metade desta perda
seja compensável por ganhos de
produtividade, seria razoável adicionar uns 7,5% na necessidade de
ajuste do câmbio. Somando, ainda,
uma inflação de uns 9% neste ano,
o reajuste "correto" do câmbio ficaria em torno de 40%, ou R$ 1,70 por
dólar. É claro que são cálculos apenas aproximados, que dependem
da base que utilizada.
Mesmo assim, imaginando uma
taxa "razoável" em R$ 1,70, qual seria uma flutuação também "razoável"? Algo entre R$ 1,50 a R$ 1,90
não seria despropositado, ouve-se
em Brasília.
Isso não quer dizer que o governo
trabalhe com esta banda, nem que
considere desejável ver o câmbio oscilar tanto. É apenas um exercício
sobre onde poderiam estar os limites do câmbio, com exageros, mas
com algum sentido.
Nos últimos meses, a grande preocupação foi com o teto, já que o
câmbio teimou em oscilar entre R$
1,90 e R$ 2,00. Para frente, a expectativa do mercado é que haja uma
maior apreciação do real em relação ao dólar.
Se, num cenário muito otimista,
esta apreciação for maior do que o
esperado, haveria um regulador
natural do piso do câmbio: a taxa
de juros. Com menor desvalorização, haveria um alívio na inflação,
o que abriria espaço para uma redução mais agressiva das taxas de
juros. A redução dos juros, a certo
nível, reverteria a apreciação do
câmbio.
A armadilha do FMI
Dez entre dez bancos esperam
problemas para o Brasil cumprir a
meta de reduzir a inflação anual
para 7%, no segundo trimestre do
próximo ano, como prometido ao
FMI. No segundo trimestre deste
ano, a inflação foi de apenas 1,05%.
Portanto, qualquer taxa acima desta vai elevar a inflação anual.
O IGP-DI vai fechar este ano em
torno de 20%. Mesmo que desacelere bastante, dificilmente cairia
abaixo de uns 16% ao ano, em julho
do próximo ano. Neste caso, calcula
o banco CSFB-Garantia, os reajustes de alguns preços administrados
terão que ficar neste nível, razão pela qual o banco projeta um reajuste
médio de 17,3% nos preços administrados em 2000 (e, ainda assim, o
IPCA fecharia o ano em 6,3%).
É muito provável que o IPCA fique acima de 8% ao final do segundo trimestre do próximo ano, o que
exigiria um acerto com o "staff" do
FMI. Ou até de 9%, o que exigiria
um pedido de "waiver" e negociações com o "board", mesmo que o
salto fosse apenas transitório.
Uma das vantagens do sistema de
metas inflacionárias é trabalhar
com um horizonte de mais longo
prazo, diz o professor Ilan Goldfajn,
da PUC do Rio. O BC leva em consideração não só a inflação, mas
também o impacto sobre o PIB e
ajusta seus instrumentos olhando o
médio prazo.
Neste sentido, trocar metas monetárias trimestrais, como critério de
desempenho, por metas inflacionárias, pode ter sido um mau negócio,
diz. Se é difícil atingir metas monetárias a curto prazo, é ainda mais
complicado atingir metas inflacionárias. Pode-se gerar uma rigidez
desnecessária na reação do BC a
desvios de curto prazo da inflação.
O presidente do BC, Armínio Fraga, minimiza este problema. Argumenta que mesmo choques teoricamente transitórios de oferta e de
preços administrados, se forem
grandes demais, devem gerar reações do BC. "A linha divisória entre
o transitório e o mais permanente
tem que ser administrada com cuidado", diz.
As metas trimestrais de inflação
ainda não foram oficializadas como metas de desempenho: dependem de decisões do "board" do FMI
e de negociações com o Brasil, em
janeiro. Goldfajn imagina que, por
esta razão, talvez seja possível renegociar a trajetória trimestral da meta inflacionária de uma forma mais
razoável do que a simples fixação
da taxa anual, a cada trimestre, 0,5
ponto percentual abaixo do trimestre anterior, como foi feito.
Para o mercado, seria um alívio,
já que todo mundo espera confusão
se as metas trimestrais de inflação
continuarem como estão.
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