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CASO SANTO ANDRÉ
Documento complementa tese do legista morto Delmonte Printes sobre o assassinato do petista Celso Daniel
Laudo reafirma que prefeito sofreu tortura
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em laudo complementar sobre
as circunstâncias da morte do
prefeito de Santo André, Celso
Daniel (PT), o médico-legista
Paulo Vasques sustentou que o
petista foi brutalmente torturado
antes de ser morto.
O perito é o segundo a falar oficialmente em tortura. O primeiro
foi o legista Carlos Delmonte
Printes, morto em outubro. Ele
fez a exumação do corpo de Celso
Daniel ao lado de Vasques.
Em depoimento à Promotoria,
em agosto, Printes disse nunca ter
visto um caso com "ritual de tortura, de crueldade e a desproporcionalidade que se verificou no
exame do corpo do prefeito". Ele
afastou a possibilidade de crime
comum. Por conta de sua conclusão, Printes afirmou ter sido rebaixado de cargo pela cúpula da
Polícia Civil de São Paulo.
Para a polícia, Celso Daniel não
foi torturado. Ele foi vítima de um
seqüestro comum seguido de
morte. A mesma versão é abraçada pelo PT, que foi representado
no caso pelo deputado federal
Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) -que sempre refutou a possibilidade de tortura.
Para a Promotoria Criminal de
Santo André, no entanto, a tese de
tortura confirma que os criminosos infligiram intencionalmente
dores e sofrimentos graves a Daniel para tentar obter informações
que comprometeriam o empresário Sérgio Gomes da Silva.
O empresário e ex-segurança
estava com Daniel no momento
do seqüestro, em janeiro de 2002.
Ele foi denunciado (acusado formalmente na Justiça) como o
mandante do crime. A defesa de
Gomes da Silva afirma que a versão da Promotoria é fantasiosa,
sem respaldo em provas.
Laudo
Questionado sobre os elementos que permitem diagnosticar a
tortura, Vasques citou a multiplicidade de tiros no rosto, as marcas
de queimadura nas costas (feitas
pelo cano do revólver), a expressão de terror e o espasmo cadavérico generalizado.
No laudo, Vasques explica de
forma detalhada o espasmo como
um caso particular de rigidez cadavérica. Segundo ele, acontece
quando a vítima é submetida a
uma situação tão extraordinária
de tensão nervosa que a contração
muscular persiste após a morte. A
situação é mais comum, disse ele,
em campos de batalha, quando
uma pessoa morre com a atitude
em que foi surpreendida.
Vasques destacou a cronologia
das lesões. Cerca de 25 horas antes
da morte, provavelmente no momento do seqüestro, Daniel foi
atingido por uma pancada na cabeça. Horas depois, sofreu queimaduras e lesões por ricocheteamento de balas. Minutos ou horas
depois, recebeu tiros no rosto.
Depois, foi atingido por novos
disparos no tórax (principal causa
da morte).
Segundo o laudo, Daniel não foi
torturado no mesmo local em que
seu corpo foi abandonado, em
uma rua de terra. O ricocheteamento foi causado por "fragmentação de projétil após colisão com
superfície dura". Daniel também
não vestia as roupas com as quais
foi encontrado -não há perfurações compatíveis com os tiros.
As perguntas da Promotoria haviam sido dirigidas a Printes, que
morreu antes da conclusão. Vasques foi indicado pelo diretor do
IML paulista, Hideaki Kawata.
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