São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 2006

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CASO SANTO ANDRÉ

Documento complementa tese do legista morto Delmonte Printes sobre o assassinato do petista Celso Daniel

Laudo reafirma que prefeito sofreu tortura

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em laudo complementar sobre as circunstâncias da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), o médico-legista Paulo Vasques sustentou que o petista foi brutalmente torturado antes de ser morto.
O perito é o segundo a falar oficialmente em tortura. O primeiro foi o legista Carlos Delmonte Printes, morto em outubro. Ele fez a exumação do corpo de Celso Daniel ao lado de Vasques.
Em depoimento à Promotoria, em agosto, Printes disse nunca ter visto um caso com "ritual de tortura, de crueldade e a desproporcionalidade que se verificou no exame do corpo do prefeito". Ele afastou a possibilidade de crime comum. Por conta de sua conclusão, Printes afirmou ter sido rebaixado de cargo pela cúpula da Polícia Civil de São Paulo.
Para a polícia, Celso Daniel não foi torturado. Ele foi vítima de um seqüestro comum seguido de morte. A mesma versão é abraçada pelo PT, que foi representado no caso pelo deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) -que sempre refutou a possibilidade de tortura.
Para a Promotoria Criminal de Santo André, no entanto, a tese de tortura confirma que os criminosos infligiram intencionalmente dores e sofrimentos graves a Daniel para tentar obter informações que comprometeriam o empresário Sérgio Gomes da Silva.
O empresário e ex-segurança estava com Daniel no momento do seqüestro, em janeiro de 2002. Ele foi denunciado (acusado formalmente na Justiça) como o mandante do crime. A defesa de Gomes da Silva afirma que a versão da Promotoria é fantasiosa, sem respaldo em provas.

Laudo
Questionado sobre os elementos que permitem diagnosticar a tortura, Vasques citou a multiplicidade de tiros no rosto, as marcas de queimadura nas costas (feitas pelo cano do revólver), a expressão de terror e o espasmo cadavérico generalizado.
No laudo, Vasques explica de forma detalhada o espasmo como um caso particular de rigidez cadavérica. Segundo ele, acontece quando a vítima é submetida a uma situação tão extraordinária de tensão nervosa que a contração muscular persiste após a morte. A situação é mais comum, disse ele, em campos de batalha, quando uma pessoa morre com a atitude em que foi surpreendida.
Vasques destacou a cronologia das lesões. Cerca de 25 horas antes da morte, provavelmente no momento do seqüestro, Daniel foi atingido por uma pancada na cabeça. Horas depois, sofreu queimaduras e lesões por ricocheteamento de balas. Minutos ou horas depois, recebeu tiros no rosto. Depois, foi atingido por novos disparos no tórax (principal causa da morte).
Segundo o laudo, Daniel não foi torturado no mesmo local em que seu corpo foi abandonado, em uma rua de terra. O ricocheteamento foi causado por "fragmentação de projétil após colisão com superfície dura". Daniel também não vestia as roupas com as quais foi encontrado -não há perfurações compatíveis com os tiros.
As perguntas da Promotoria haviam sido dirigidas a Printes, que morreu antes da conclusão. Vasques foi indicado pelo diretor do IML paulista, Hideaki Kawata.


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