São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 1999

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CASO CECI CUNHA
Suposto pistoleiro, peça-chave no inquérito da morte da deputada, foi detido por outro crime em Sergipe
Polícia Federal prende 'Chapéu de Couro'

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

O suposto pistoleiro Maurício Novaes, o "Chapéu de Couro", tido pela Polícia Federal como principal testemunha do assassinato da deputada Ceci Cunha (PSDB-AL), foi preso ontem acusado de ter cometido um assassinato em Sergipe.
Desde que se apresentou à Polícia Federal, há 15 dias, "Chapéu de Couro" vinha sendo protegido pela PF em hotéis de São Paulo e Maceió. Acabou preso pelos cinco agentes que vinham dando proteção a vida dele.
"Não sabíamos que havia um mandado de prisão contra o "Chapéu de Couro', por isso não o prendemos antes. Ao recebermos o documentos, prendemos ele", afirmou o superintendente interino da PF de Alagoas, delegado Cláudio Lima.
O mandado de prisão contra "Chapéu de Couro" foi expedido no dia 18 de junho do ano passado pela juíza da 10ª Vara Criminal de Aracaju, Aydil Oliveira Teixeira, e remetido na noite de sexta-feira à PF alagoana.
O documento não revela quem teria sido assassinado pelo suposto pistoleiro. A juíza identificou "Chapéu de Couro" após ver e ouvir, pela TV, o depoimento dele na Comissão de Sindicância da Câmara, que apura o assassinato da deputada tucana.
"Chapéu de Couro" foi transferido ontem pela manhã para Aracaju, onde ficará preso no Reformatório Penal de Sergipe, enquanto aguarda o julgamento do caso.
O suposto pistoleiro vinha ajudando a PF e a Polícia Civil de Alagoas a rastrear os supostos autores materiais do assassinato de Ceci Cunha. Ele afirma que foi procurado pelo deputado Talvane Albuquerque (sem partido-AL) para assassinar, por R$ 200 mil, o também deputado Augusto Farias (PFL-AL).
Albuquerque nega. "Chapéu de Couro" e seus três irmãos são acusados de terem praticado cerca de 50 assassinatos no Nordeste.
"Não lembro quantos matei. Mas todas as mortes foram para vingar a morte de meu pai quando eu tinha 9 anos. Só me arrependo de uma coisa em minha vida, que foi ter retornado a ligação para o Talvane. Há dois anos eu vivia uma infância que não tive. Até desarmado eu andava em Juazeiro", afirmou "Chapéu de Couro" ontem à Agência Folha, antes do embarque para Aracaju.

Decoro
A comissão da Câmara que analisa a morte de Ceci Cunha, em 16 de dezembro, apontou diversas falhas no inquérito da polícia alagoana sobre o caso.
Por exemplo, o fato de testemunhas do crime não terem sido interrogadas -apesar de terem se apresentado para depor.
Para o corregedor da Câmara, Severino Cavalcanti (PPB-PE), as falhas podem ajudar Talvane Albuquerque em sua defesa judicial.
Para Cavalcanti, porém, essas falhas não deverão inocentar o deputado da acusação de falta de decoro parlamentar -o que deve levar à sua cassação.
O diálogo gravado entre Albuquerque e "Chapéu de Couro" é a principal evidência contra o deputado.
O deputado é suspeito de mandar matar Ceci Cunha para a polícia porque nas últimas eleições obteve a primeira suplência da bancada alagoana. Com a morte da tucana, ele foi diplomado para um novo mandato. Albuquerque sempre negou a autoria intelectual do crime.



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