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PARTIDOS
Grupo do governador cearense diz ser vítima de traições na legenda
Tasso ameaça formar uma
dissidência dentro do PSDB
ANDRÉ SINGER
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
"Posso até fazer uma dissidência interna, mas sair do PSDB, não
saio", disse ontem à Folha Tasso
Jereissati. Um governador do
Ceará com aspecto cansado e
preocupado avaliava no Palácio
do Cambeba, em Fortaleza, as repercussões - graves, a seu ver-
do que ocorreu em Brasília na
quarta. Também no palácio, os
senadores Lúcio Alcântara e Luiz
Pontes, ambos do PSDB cearense.
Apesar de toda a irritação pelo
que é visto no Cambeba como um
conjunto de traições aplicadas ao
grupo cearense na capital da República, o governador é enfático
em afirmar que não há hipótese
de abandonar o PSDB.
"Esse partido tem o meu sangue
e pelo menos uma safena minha",
disse o governador cearense, referindo-se às operações coronárias
a que se submeteu depois de ingressar na política.
A Folha apurou que a série de
"traições" a Tasso incluem a ruptura unilateral de um acordo com
vistas a adiar para depois do Carnaval a escolha do deputado Jutahy Magalhães (BA) como líder
da bancada do PSDB na Câmara.
A protelação era vista por Tasso
como fundamental para não
afrontar ainda mais o já derrotado senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), de quem o deputado baiano é inimigo pessoal.
Houve um acerto entre os principais caciques tucanos para postergar a eleição do líder da bancada. A certa altura, porém, Tasso
percebeu que agia sozinho. Os demais envolvidos na combinação
não faziam nada.
O governador decidiu, então, liberar os deputados do Ceará para
que acompanhassem os demais
parlamentares. A escolha de Jutahy foi anunciada poucas horas
depois da renovação das mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal e deve ser confirmada na próxima terça-feira.
O gesto do PSDB é visto como a
gota d'água para empurrar ACM
a uma posição de quase ruptura
com o governo. E havia no Cambeba um clima de que esse afastamento pode não ser reversível.
A mágoa mais profunda, no entanto, dizia respeito à sequência
de acordos não cumpridos. Além
da indicação precipitada de Jutahy, houve a exclusão do senador
Lúcio Alcântara de um dos postos
de poder na direção do Senado (a
vice-presidência ou a primeira secretaria), percebida como um ataque à socapa depois de o senador
ter, por influência de Tasso, decidido não concorrer à presidência
daquela Casa.
"Dei uma demonstração de espírito partidário, já que uma candidatura minha significaria a implosão do PSDB", diz Alcântara.
Cogitado como uma possível
"terceira via" do PFL entre os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Jefferson Péres (PDT-AM),
Lúcio Alcântara poderia ter, de
acordo com assessores, rachado o
PSDB e obtido apoios no PMDB e
até na oposição.
A consequência, porém, teria sido comprometer a eleição de Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência da Câmara, que dependia dos votos do PMDB. "Houve
muita pressão dentro do Senado
para que eu fosse candidato. Não
fui para preservar o partido e o
troco foi de uma desconsideração
total", afirma Alcântara.
Liderança no Senado
Para completar o quadro de punhaladas, a bancada do PSDB no
Senado reconduziu à liderança o
senador Sérgio Machado (PSDB-CE), o único dos três representantes cearenses que está afastado de
Tasso. Nesse tópico, havia também um acordo, o de aguardar
para decidir a eleição do líder
mais tarde, de modo a haver espaço para negociação.
Mas, assim que Jader tomou
posse, o nome de Machado foi
anunciado. Conclusão: sem avisar
os dois senadores ligados a Tasso
(foram os únicos a não votar), os
demais tucanos resolveram fechar a escolha do líder enquanto
se processava a eleição de Jader.
Teria sido uma espécie de golpe.
Mesmo diante da verdadeira
noite de São Bartolomeu -o célebre massacre dos huguenotes
franceses reunidos em Paris em
1572- que caiu sobre as hostes
de Tasso na quarta-feira quente
de Brasília, o Cambeba evita citar
quem seriam os mandantes.
"Ninguém sabe se é falta de articulação ou é uma articulação tão
bem feita que nós não entendemos e fomos feitos de bobos", diz
Alcântara.
Na hipótese de um complô maquiavélico, os dois mais prováveis
algozes -que ninguém ousa
mencionar no palácio cearense-
são o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro da Saúde, José Serra, hoje o mais forte
presidenciável tucano. O fato é
que a derrota de ACM em tese tira
uma pedra do sapato de FHC e diminui a força da candidatura presidencial de Tasso, a quem o cacique baiano apóia. Além disso, isolar Tasso e seu grupo dentro do
PSDB é uma manobra que o enfraquece ainda mais.
"Essas eleições no Congresso,
com todas as denúncias, acordos
e traições que envolveram, mancham a todos os políticos, inclusive nós do PSDB", afirma Tasso.
Para ele, o PSDB precisa reencontrar o discurso da ética, em torno
do qual nasceu e que hoje está em
vias de ser capturado pelo PT. "A
força do governo é que a figura de
Fernando Henrique nunca foi
contaminada por problemas éticos. Ele precisa manter isso",
acrescenta Alcântara.
Tasso acha que o PSDB perdeu
o rumo. "Acho que o partido precisa retomar o caminho da ética,
que foi a marca que lhe possibilitou chegar ao poder", conclui o
governador. Com essa bandeira, a
idéia de formar uma dissidência
interna não parecia nada distante
ontem do Cambeba.
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