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ELEIÇÕES-2002
Presidente acha que Lula é o adversário "ideal" e quer evitar que Ciro ou Garotinho ameacem a posição do petista
FHC negocia apoiodo PTB a Serra em troca de ministério
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) negocia o
apoio do PTB à candidatura presidencial do ministro da Saúde, o
tucano José Serra, em troca de
cargos na reforma ministerial
prevista para o começo de abril.
Ao analisar em conversas reservadas a candidatura Serra, FHC
aborda mais cinco ações importantes: 1) combate à dengue no
Estado do Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país ; 2) evitar
atrito irreversível com o PFL; 3)
impedir a fragilização de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); 4) diminuir
o potencial de dano do governador Tasso Jereissati (PSDB-CE); e
5) fazer um programa de TV de
impacto no início de março.
Confiante de que continuará a
recuperar popularidade e de que
terá condição de ser um forte eleitor, o presidente tem assumido
mais abertamente articulações a
favor de Serra, o seu preferido.
Foi de FHC a ajuda decisiva para o ministro superar Tasso na
disputa tucana pela candidatura,
atrair setores do PMDB e idealizar
um formato de equipe de campanha que permita a participação,
na sombra, do publicitário Nizan
Guanaes, que foi o responsável
pelo marketing da governadora
Roseana Sarney (PFL-MA).
Para FHC, se Serra chegar no
mês de abril na faixa de 13% ou
14% nas pesquisas, ele poderá alçá-lo ao patamar de 20%. No último levantamento do Datafolha,
feito no início de janeiro, Serra teve 7% no principal cenário pesquisado. Roseana alcançou 21%.
Lula liderava com 30%.
Troca-troca
Apesar de publicamente os dirigentes petebistas se dizerem fechados com Ciro Gomes, pré-candidato do PPS ao Palácio do
Planalto, caciques do partido se
reuniram com FHC.
O presidente nacional do PTB, o
deputado federal José Carlos
Martinez (PR), e o líder do partido na Câmara dos Deputados,
Roberto Jefferson (RJ), querem
cargos de segundo escalão e pelo
menos um ministério. Hoje o partido não tem nenhuma pasta ministerial. O PTB deseja ainda um
crescimento de Serra nas pesquisas para facilitar a debandada.
FHC está propenso a entregar
os Correios aos petebistas. Detalhe: o órgão tem R$ 691 milhões
para investimentos em 2002, verba superior à de muitos ministérios. Há ainda chance de o partido
levar o Ministério das Comunicações ou uma outra pasta.
FHC aconselhou Serra a escolher o adversário como ele fez em
1994 e em 1998. Ou seja, apostar
na rejeição do petista Luiz Inácio
Lula da Silva para vencer.
O crescimento da candidatura
do governador do Rio, Anthony
Garotinho (PSB), na faixa de 15%
nas pesquisas, preocupa FHC. O
presidente acha que Lula tem vaga no segundo turno, mas prefere
evitar o risco de ver o pré-candidato petista ameaçado por Garotinho ou por Ciro Gomes.
FHC julga Garotinho populista
e o que há de mais parecido com o
ex-presidente Fernando Collor de
Mello no pleito de 2002. Já Ciro é
visto como capaz de causar incômodo pela verve dura e pelo passado tucano. Para FHC, Serra deve tentar polarizar com Lula sem
atacá-lo, discutindo propostas e
tentando criar na mídia a sensação de que o segundo turno mais
provável será entre eles.
Um possível novo encontro
FHC-Lula no dia 27 para discutir
segurança pública faz parte da estratégia tucana de fortalecer o inimigo que julga mais conveniente.
FHC e a cúpula tucana prevêem
mais turbulência interna para
Serra. Tasso está mais contrariado do que nunca. O governador
cearense e Roseana, que se encontraram recentemente, acham que
Serra estaria estimulando acusações da imprensa contra os dois.
Em conversas reservadas, Tasso
diz que Serra deverá ser substituído se não crescer nas pesquisas
após o programa e os comerciais
de TV do PSDB. Ou seja, Tasso
quer usar o programa como um
bumerangue. Se Serra continuar
mal nas pesquisas após a exibição,
deverá bombardeá-lo.
Falar em candidatura com prazo é o que mais contraria Serra.
Ele teme reabrir o debate da falta
de unidade tucana e a discussão
de um hoje pouco provável "plano B" -Tasso ou o presidente da
Câmara, Aécio Neves (MG).
Interlocutores de Serra dizem
que ele sempre começa suas conversas na defensiva quando o assunto é pesquisa, tentando traçar
um paralelo com o percentual de
FHC em fevereiro de 1994, ano em
que o presidente concorreu ao
cargo pela primeira vez.
Naquela data, FHC tinha menos
de 10%, mas já havia engatilhado
o Plano Real para vitaminar sua
candidatura. Serra não tem uma
carta como essa na manga.
FHC ainda acredita num entendimento com o PFL. Voltou a pedir a tucanos que parem de rebater, por exemplo, declarações como as do prefeito do Rio, Cesar
Maia (PFL), que previu que em
maio Serra desistirá de concorrer.
Reforço publicitário
José Serra pilota diretamente
um reforço para a campanha de
publicidade e de combate à dengue no Estado do Rio de Janeiro.
Há uma campanha nacional
contra a dengue. No momento,
por recomendação da Funasa
(Fundação Nacional de Saúde),
porém, existe um reforço em três
Estados: Rio de Janeiro, Goiás e
Mato Grosso do Sul.
A Folha apurou que o secretário
de Comunicação de Governo,
João Roberto Vieira da Costa, o
Bob, determinou prioridade para
a publicidade nos três Estados,
mas é o Rio de Janeiro que, pelo
valor político, mais preocupa.
Bob, ex-assessor de comunicação
de Serra, é um dos estrategistas do
candidato tucano.
A estratégia de Serra é continuar
a dividir a responsabilidade pela
epidemia de dengue com Garotinho e Maia, mas mostrando interesse em ajudar o Estado.
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