São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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ELEIÇÕES-2002

Presidente acha que Lula é o adversário "ideal" e quer evitar que Ciro ou Garotinho ameacem a posição do petista

FHC negocia apoiodo PTB a Serra em troca de ministério

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) negocia o apoio do PTB à candidatura presidencial do ministro da Saúde, o tucano José Serra, em troca de cargos na reforma ministerial prevista para o começo de abril.
Ao analisar em conversas reservadas a candidatura Serra, FHC aborda mais cinco ações importantes: 1) combate à dengue no Estado do Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país ; 2) evitar atrito irreversível com o PFL; 3) impedir a fragilização de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); 4) diminuir o potencial de dano do governador Tasso Jereissati (PSDB-CE); e 5) fazer um programa de TV de impacto no início de março.
Confiante de que continuará a recuperar popularidade e de que terá condição de ser um forte eleitor, o presidente tem assumido mais abertamente articulações a favor de Serra, o seu preferido.
Foi de FHC a ajuda decisiva para o ministro superar Tasso na disputa tucana pela candidatura, atrair setores do PMDB e idealizar um formato de equipe de campanha que permita a participação, na sombra, do publicitário Nizan Guanaes, que foi o responsável pelo marketing da governadora Roseana Sarney (PFL-MA).
Para FHC, se Serra chegar no mês de abril na faixa de 13% ou 14% nas pesquisas, ele poderá alçá-lo ao patamar de 20%. No último levantamento do Datafolha, feito no início de janeiro, Serra teve 7% no principal cenário pesquisado. Roseana alcançou 21%. Lula liderava com 30%.

Troca-troca
Apesar de publicamente os dirigentes petebistas se dizerem fechados com Ciro Gomes, pré-candidato do PPS ao Palácio do Planalto, caciques do partido se reuniram com FHC.
O presidente nacional do PTB, o deputado federal José Carlos Martinez (PR), e o líder do partido na Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson (RJ), querem cargos de segundo escalão e pelo menos um ministério. Hoje o partido não tem nenhuma pasta ministerial. O PTB deseja ainda um crescimento de Serra nas pesquisas para facilitar a debandada.
FHC está propenso a entregar os Correios aos petebistas. Detalhe: o órgão tem R$ 691 milhões para investimentos em 2002, verba superior à de muitos ministérios. Há ainda chance de o partido levar o Ministério das Comunicações ou uma outra pasta.
FHC aconselhou Serra a escolher o adversário como ele fez em 1994 e em 1998. Ou seja, apostar na rejeição do petista Luiz Inácio Lula da Silva para vencer.
O crescimento da candidatura do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), na faixa de 15% nas pesquisas, preocupa FHC. O presidente acha que Lula tem vaga no segundo turno, mas prefere evitar o risco de ver o pré-candidato petista ameaçado por Garotinho ou por Ciro Gomes.
FHC julga Garotinho populista e o que há de mais parecido com o ex-presidente Fernando Collor de Mello no pleito de 2002. Já Ciro é visto como capaz de causar incômodo pela verve dura e pelo passado tucano. Para FHC, Serra deve tentar polarizar com Lula sem atacá-lo, discutindo propostas e tentando criar na mídia a sensação de que o segundo turno mais provável será entre eles.
Um possível novo encontro FHC-Lula no dia 27 para discutir segurança pública faz parte da estratégia tucana de fortalecer o inimigo que julga mais conveniente.
FHC e a cúpula tucana prevêem mais turbulência interna para Serra. Tasso está mais contrariado do que nunca. O governador cearense e Roseana, que se encontraram recentemente, acham que Serra estaria estimulando acusações da imprensa contra os dois.
Em conversas reservadas, Tasso diz que Serra deverá ser substituído se não crescer nas pesquisas após o programa e os comerciais de TV do PSDB. Ou seja, Tasso quer usar o programa como um bumerangue. Se Serra continuar mal nas pesquisas após a exibição, deverá bombardeá-lo.
Falar em candidatura com prazo é o que mais contraria Serra. Ele teme reabrir o debate da falta de unidade tucana e a discussão de um hoje pouco provável "plano B" -Tasso ou o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG).
Interlocutores de Serra dizem que ele sempre começa suas conversas na defensiva quando o assunto é pesquisa, tentando traçar um paralelo com o percentual de FHC em fevereiro de 1994, ano em que o presidente concorreu ao cargo pela primeira vez.
Naquela data, FHC tinha menos de 10%, mas já havia engatilhado o Plano Real para vitaminar sua candidatura. Serra não tem uma carta como essa na manga.
FHC ainda acredita num entendimento com o PFL. Voltou a pedir a tucanos que parem de rebater, por exemplo, declarações como as do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), que previu que em maio Serra desistirá de concorrer.

Reforço publicitário
José Serra pilota diretamente um reforço para a campanha de publicidade e de combate à dengue no Estado do Rio de Janeiro.
Há uma campanha nacional contra a dengue. No momento, por recomendação da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), porém, existe um reforço em três Estados: Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso do Sul.
A Folha apurou que o secretário de Comunicação de Governo, João Roberto Vieira da Costa, o Bob, determinou prioridade para a publicidade nos três Estados, mas é o Rio de Janeiro que, pelo valor político, mais preocupa. Bob, ex-assessor de comunicação de Serra, é um dos estrategistas do candidato tucano.
A estratégia de Serra é continuar a dividir a responsabilidade pela epidemia de dengue com Garotinho e Maia, mas mostrando interesse em ajudar o Estado.



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