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ELEIÇÕES-2002
Provável novo líder do partido na Câmara, João Paulo diz que "franjas" dissidentes da base governista são alvo de Lula
PT investe em "feudos" de Jader, ACM e Tasso
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos responsáveis pela estratégia eleitoral do PT, o deputado
federal João Paulo Cunha (SP), 43,
diz que o partido vai investir em
dissidências regionais da base governista para tentar alavancar a
candidatura presidencial de Luiz
Inácio Lula da Silva, hoje estacionada na casa dos 30%.
O petista cita como meta preferencial do partido conquistar as
bases eleitorais do governador
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e dos
ex-senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA), entre outros.
Todos são lideranças regionais
da coalizão governista que, por
um motivo ou outro, se afastaram
do núcleo do governo FHC.
"No momento em que o governo precisou deles, usou bem. No
momento em que não precisou
mais, jogou fora. Esse pessoal e
seus respectivos eleitorados vão
poder optar na eleição", diz João
Paulo, que deve ser eleito nesta semana o novo líder da bancada, de
59 deputados, do PT na Câmara.
A estratégia não passa por fazer
acordos com os governistas descontentes, mas poderá ser facilitada pelo fato de parte dos eleitores
de ACM e Tasso já votar em Lula,
segundo pesquisas feitas pelo PT.
Integrante da ala moderada do
partido, o deputado diz que há
"franjas" dentro do próprio PSDB
descontentes com a forma de
atuação do governo federal, que já
sinalizaram apoio ao petista.
João Paulo é um dos principais
encarregados pelo PT de formular
a tática eleitoral do partido. Na
eleição de 2000, coordenou o grupo de trabalho sobre o tema montado pela direção petista.
Segundo João Paulo, a quarta
tentativa de Lula de chegar ao Planalto trará um tom de apelo pessoal ao eleitor. O slogan da campanha deverá ser algo na linha
"Dê uma chance ao Lula".
"Vamos dizer à população que
ela já deu chance para o Collor,
deu chance duas vezes para o Fernando Henrique. Os militares ficaram tantos anos. Por que não
dar chance ao Lula?"
Folha - Que agenda buscará o PT
na Câmara em 2002?
João Paulo Cunha - A prioridade
é tentar introduzir na pauta projetos que incidam sobre o problema
da segurança pública. Precisa ser
enfrentada a reestruturação da
polícia, que vai do debate sobre
salário à sua integração. Outro
ponto é a CPMF. Vamos nos colocar favoravelmente à prorrogação
até o final de 2003, mas estamos
vinculando essa questão a uma
reforma tributária, na qual queremos aprovar uma alíquota menor, que servirá mais como base
de combate à sonegação.
Folha - Com qual cenário vocês
trabalham na eleição presidencial?
João Paulo - Acho que, do ponto
de vista do governo, a tendência é
PMDB, PSDB e PFL terem um
candidato só, que deve ser José
Serra. A candidatura da Roseana
Sarney peca por vários problemas
que a impedirão de vingar. A nova elite, produzida pelos neoliberais que se beneficiaram das privatizações, não admite uma oligarca regional. O novo capital
precisa de alguém integrado a essa face mais moderna.
O segundo aspecto é que o PFL
tem dificuldade em se estabelecer
pelos Estados. Dos oito principais, tem palanque sólido em um
ou dois. Não tem em São Paulo,
Minas, Rio, Ceará e Rio Grande
do Sul. A terceira razão é que o
PFL tem instinto de sobrevivência
muito grande. Bastará uma pequena queda da Roseana e uma
pequena subida do Serra para dizerem que "um dispara e outro
despenca". O comando do PFL é
pragmático. No momento certo,
vão aderir a Serra.
Folha - E do lado da oposição?
João Paulo - O ideal -e que
acho possível- é que a gente chegue até junho num denominador
comum. O governador Anthony
Garotinho sabe da responsabilidade que tem de não permitir que
este modelo continue imperando
no país. Assim como o Ciro Gomes seria bem-vindo. E continuamos dialogando com o Itamar
Franco. Uma parte do PMDB -e
não é pequena- não vai apoiar o
candidato do governo. Você tem
uns 25 deputados federais nesse
caso, que podem apoiar o Lula.
Folha - Por que o Lula não consegue avançar além dos 30%? Enquanto Roseana e Garotinho subiram, Lula ficou parado.
João Paulo - Por que a pergunta
não é feita ao contrário? Por que o
Lula não cai de 30 mesmo apanhando do jeito que apanha? Não
começou a campanha. Se Itamar
declarar apoio a Lula, se José
Alencar, Requião, Garotinho,
Maguito declararem, você vai formar uma base. Quando esse time
for para a rua, o Lula vai crescer.
Folha - O caminho para subir então é buscar alianças com dissidentes da base governista?
João Paulo - Vamos convocar as
lideranças regionais para integrar
um projeto nacional. Não estamos buscando aliança sem critério, fisiológica. É com base num
programa. Tem gente no PMDB,
PL e PTB. O tratamento é caso a
caso. Ser oposição ao governo
FHC é um dos critérios, mas não é
o único. Precisa compactuar com
nosso programa, ser oposição ao
FHC e ao modelo neoliberal.
Folha - O PT vai procurar Paulo
Maluf (ex-prefeito de São Paulo, do
PPB), os ex-senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho,
políticos que hoje se colocam como
de oposição ao governo?
João Paulo - Não. Representam
outro projeto. É oposição que não
combina com a nossa. Têm seus
caminhos. Nós temos os nossos.
Folha - Por que (o ex-governador
de São Paulo, do PMDB, Orestes)
Quércia pode e Jader não pode?
João Paulo - Primeiro não é só o
Quércia, é com o PMDB. Já estivemos junto a figuras históricas do
PMDB, o que acabou facilitando o
diálogo, diferentemente do Jader,
do ACM e do Maluf. Nossa mensagem vai ser para o povo brasileiro. Se ela atingir o eleitorado que
vota em Maluf, ACM, não vamos
negar, porque não tem como separar. Não vamos abandonar
nossas posições históricas. O que
vamos adotar é uma forma diferente de propugnar esses mesmos
compromissos históricos. Porque
é inaceitável que a população
mais pobre, a que mais se beneficia com nossos programas, deixe
de votar em nós.
Folha - Tudo indica que Serra não
terá o apoio entusiástico de figuras
importantes do PSDB, como Tasso
Jereissati (governador do Ceará). O
PT pode se aproveitar desses pontos vulneráveis?
João Paulo - ACM, Jader e Tasso
estão sofrendo com um modo de
fazer política que é o de chupar a
laranja e jogar fora o bagaço. No
momento em que o governo precisou, usou bem. No momento
em que não precisou mais, jogou
fora. Esse pessoal e seus respectivos eleitores vão poder optar na
eleição. O Tasso, se quiser manter
esse método, apóia o Serra.
Folha - Se não quiser, faz um
acordo com o PT?
João Paulo - Não tem acordo
com o Tasso. Mas o eleitorado do
Tasso precisa saber que o nosso
método de fazer política é diferente. Mesma coisa na Bahia, com o
eleitorado do ACM. Muita gente
vota no Lula e no ACM.
Folha - Quando for à Bahia, Lula
então vai poupar ACM?
João Paulo - Não. Somos oposição ao carlismo. Agora, o eleitorado baiano pode votar eventualmente no Lula e no ACM. O que
nós achamos é que o ACM experimentou um método de governar,
que é o método de FHC e Serra,
que o eleitorado dele vai julgar.
Não vai nenhum acordo aí. Isso se
repete no Ceará. Muita gente vota
no Tasso e no Lula.
Folha - Lula tem altas taxas de rejeição em cidades governadas pelo
PT, como Porto Alegre e São Paulo.
Como resolver isso?
João Paulo - Nós estamos preferindo trabalhar no sentido afirmativo, de pedir uma chance ao
povo brasileiro. Que o Brasil dê
uma chance para o Lula.
Folha - Será este o slogan da campanha, "Dê uma chance ao Lula"?
João Paulo - Não sei se será exatamente esse, mas o tom será esse.
Certamente vamos fazer um apelo forte à população brasileira.
Por que não dar uma chance para
o Lula, para a gente aplicar os nossos programas? Vamos por exemplo apresentar um projeto de reforma agrária para o Brasil. E vamos dizer: "Dê uma chance para a
gente aplicar esse programa".
Folha - Isso não dá um tom de súplica, um tom emocional demais?
João Paulo - Nós não estamos
pedindo por favor. Não é um tom
emocional, é um tom adequado.
O povo já sabe que o PT tem proposta, em todas as áreas. O povo
experimentou oito anos de FHC.
Será que não é o caso agora de dar
oportunidade para um outro grupo, alternância de poder?
Folha - O PSDB tem uma chamada
"ala esquerda", seções críticas ao
governo do FHC. É o caso de investir nessas "franjas" do tucanato?
João Paulo - Existem deputados
em todos os partidos que têm
idéias boas. E o Lula vai defender
idéias boas. Individualmente,
"franjas", pessoas do PSDB e de
outros partidos, vão apoiar Lula.
Na campanha e no governo.
Folha - Pessoas do PSDB vão
apoiar Lula na campanha?
João Paulo - Certamente. Deputados individualmente em alguns
lugares, como Minas Gerais, Ceará, Paraíba. Deputados, vereadores. Não vou dar nomes porque
seria indelicado, mas tem deputados da base do governo, do PSDB,
que não estão satisfeitos com a
forma que o presidente tem adotado na condução do governo.
Folha - Mas vocês vão procurar o
PSDB ou esperar pelo apoio deles?
João Paulo - É uma via de mão
dupla. Tem muitos lugares em
que você pode atuar ativamente.
Se você sabe que tem um lugar em
crise, procura as pessoas e conversa. No curso deste ano, vamos
dialogar com as pessoas. Se você
vê a entrevista melancólica do
Paulo Renato, você vê que é um
poço de rancor. Se ele, ministro,
da cozinha do palácio, é tratado
daquele jeito, imagina neste país
afora. Pega o exemplo do PSDB-MA. Como o governo está dando
tudo para o grupo da Roseana,
tem um setor do PSDB de lá completamente descontente. Para
nós, é uma oportunidade.
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