São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BRASIL PROFUNDO

Após ouvir de parlamentares que o governo é "impotente", vice-presidente atacou política econômica

Alencar relaciona tensão no campo a juros

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião ontem no Palácio do Planalto com parlamentares petistas ligados à questão agrária, o vice-presidente da República, José Alencar, relacionou a atual onda de violência fundiária no país, principalmente no Pará, à política econômica e de juros adotada pelo governo federal.
A afirmação ocorreu após ter ouvido de deputados e senadores que o governo é "impotente" para conter a disputa pelas terras no Pará devido à falta de estrutura nas ações da Polícia Federal, do Exército e do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis) no Estado.
Alencar, que atuou na condição de presidente interino, questionou ainda a importância do pagamento de juros em detrimento aos investimentos no país.
Segundo parlamentares presentes ao encontro, o vice-presidente disse que os juros têm a rubrica mais importante do Orçamento e que nenhum outro item alcança esse patamar. Alencar afirmou ainda que no resto [do Orçamento] se mexe em tudo.
Disposto a propagandear seus ataques aos juros do país, Alencar pediu que assessores distribuíssem aos parlamentares cópias de uma tabela preparada pela consultoria econômica GRC Visão, na qual o Brasil aparece como líder de juros reais num ranking de 40 países. "Um quarto do que se arrecada neste país é gasto com o pagamento de juros", disse Alencar, também ministro da Defesa.
A seguir, ao ser questionado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se levaria o documento à reunião de ontem do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, o vice-presidente disse: "A culpa não é dos meninos do Copom. Eles são profissionais e fazem isso há muito tempo. O problema é a visão e o direcionamento da política econômica".
Ontem, o Copom elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, para 18,75% ao ano, um aumento de 0,5 ponto percentual.
Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, Alencar tem aparecido, no primeiro escalão do governo, como o principal crítico das "altas" taxas de juros e das medidas "conservadoras" do BC.
Na reunião, de cerca de uma hora e meia, Alencar se disse chocado com a precariedade estrutural no interior do Pará, como a falta de bases da PF, de carros, armamento e telefones via satélite.
Estiveram no encontro parlamentares que integram a CPI da Terra e outros que representaram o Legislativo no enterro da freira americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, anteontem, no Pará. Participaram também o governador do Acre, Jorge Viana (PT), e o presidente paraense da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Antonio de Souza Carvalho.
Para o relator da CPI, deputado João Alfredo (PT-CE), a preocupação dos parlamentares é que as ações no Pará sejam apenas "temporárias". "O desaparelhamento local é muito grande, portanto as ações não podem ser emergenciais e temporárias."
Jorge Viana, que representou o presidente Lula no enterro da freira, seguiu a linha: "A população local, apesar de organizada, está apavorada. O envio de tropas do Exército foi acertado e deve ser por tempo indeterminado".
Ontem à tarde, durante solenidade no Planalto, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse que o governo manterá uma "postura firme de repressão ao crime e à ilegalidade". "Não haverá impunidade e não haverá prevalência da ilegalidade na Amazônia. Acabou-se o tempo da grilagem, do desmatamento ilegal, das queimadas ilegais e da ocupação de terras pela força."


Texto Anterior: Pastoral compara intervenção no Pará com ação da ditadura militar
Próximo Texto: PF do Pará diz que clima é de tranqüilidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.