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BRASIL PROFUNDO
Após ouvir de parlamentares que o governo é "impotente", vice-presidente atacou política econômica
Alencar relaciona tensão no campo a juros
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ontem no Palácio
do Planalto com parlamentares
petistas ligados à questão agrária,
o vice-presidente da República,
José Alencar, relacionou a atual
onda de violência fundiária no
país, principalmente no Pará, à
política econômica e de juros adotada pelo governo federal.
A afirmação ocorreu após ter
ouvido de deputados e senadores
que o governo é "impotente" para
conter a disputa pelas terras no
Pará devido à falta de estrutura
nas ações da Polícia Federal, do
Exército e do Ibama (Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Renováveis) no Estado.
Alencar, que atuou na condição
de presidente interino, questionou ainda a importância do pagamento de juros em detrimento
aos investimentos no país.
Segundo parlamentares presentes ao encontro, o vice-presidente
disse que os juros têm a rubrica
mais importante do Orçamento e
que nenhum outro item alcança
esse patamar. Alencar afirmou
ainda que no resto [do Orçamento] se mexe em tudo.
Disposto a propagandear seus
ataques aos juros do país, Alencar
pediu que assessores distribuíssem aos parlamentares cópias de
uma tabela preparada pela consultoria econômica GRC Visão,
na qual o Brasil aparece como líder de juros reais num ranking de
40 países. "Um quarto do que se
arrecada neste país é gasto com o
pagamento de juros", disse Alencar, também ministro da Defesa.
A seguir, ao ser questionado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se levaria o documento à reunião de ontem do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, o vice-presidente disse: "A culpa não é dos meninos do
Copom. Eles são profissionais e
fazem isso há muito tempo. O
problema é a visão e o direcionamento da política econômica".
Ontem, o Copom elevou a taxa
básica de juros da economia, a Selic, para 18,75% ao ano, um aumento de 0,5 ponto percentual.
Desde o início do governo Luiz
Inácio Lula da Silva, em janeiro de
2003, Alencar tem aparecido, no
primeiro escalão do governo, como o principal crítico das "altas"
taxas de juros e das medidas
"conservadoras" do BC.
Na reunião, de cerca de uma hora e meia, Alencar se disse chocado com a precariedade estrutural
no interior do Pará, como a falta
de bases da PF, de carros, armamento e telefones via satélite.
Estiveram no encontro parlamentares que integram a CPI da
Terra e outros que representaram
o Legislativo no enterro da freira
americana naturalizada brasileira
Dorothy Stang, anteontem, no
Pará. Participaram também o governador do Acre, Jorge Viana
(PT), e o presidente paraense da
Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Antonio de
Souza Carvalho.
Para o relator da CPI, deputado
João Alfredo (PT-CE), a preocupação dos parlamentares é que as
ações no Pará sejam apenas "temporárias". "O desaparelhamento
local é muito grande, portanto as
ações não podem ser emergenciais e temporárias."
Jorge Viana, que representou o
presidente Lula no enterro da freira, seguiu a linha: "A população
local, apesar de organizada, está
apavorada. O envio de tropas do
Exército foi acertado e deve ser
por tempo indeterminado".
Ontem à tarde, durante solenidade no Planalto, o ministro José
Dirceu (Casa Civil) disse que o governo manterá uma "postura firme de repressão ao crime e à ilegalidade". "Não haverá impunidade e não haverá prevalência da
ilegalidade na Amazônia. Acabou-se o tempo da grilagem, do
desmatamento ilegal, das queimadas ilegais e da ocupação de
terras pela força."
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