São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Prefeito de SP tende a aceitar candidatura, mas ainda avalia risco de enfrentar Lula

PSDB rejeita prévia e acena para Serra, que ainda balança

Bruno Miranda/ Folha Imagem
Os tucanos José Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso no seminário do Iedi, ontem


CÁTIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um dia marcado por intensas negociações, recados cifrados, provocações abertas e ironias, o PSDB praticamente transferiu para o prefeito José Serra a decisão de ser ou não ser o candidato do partido à Presidência da República. A Folha apurou que o prefeito paulistano tende a aceitar o desafio de disputar contra Luiz Inácio Lula da Silva pela segunda vez. Mas ainda não se decidiu completamente porque teme que Lula possa ser um adversário forte demais para justificar o risco de abandonar a prefeitura e lançar-se na aventura nacional.
O saldo do dia em que estiveram reunidos os principais cardeais tucanos em São Paulo recebeu sua melhor ilustração já perto da meia-noite, num jantar a quatro no restaurante Massimo. Estavam sentados à mesa o próprio Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas, Aécio Neves, e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati.
Na surdina, o quarteto havia abandonado o governador Geraldo Alckmin, que participava com o baixo clero tucano do jantar oficial do partido -uma homenagem ao deputado Alberto Goldman numa churrascaria.
A cena resume e dá a dimensão do isolamento a que foi submetido Alckmin desde a manhã, quando disse, num evento público ao qual Serra faltou sem avisá-lo, que o partido estava sendo prejudicado pela indefinição na escolha de seu candidato. A cúpula reagiu a Alckmin -e Aécio foi escalado para ironizá-lo, sugerindo "aos afobados" que tomassem Lexotan.
Mesmo apontando para a necessidade de entendimento, Tasso deixou escapar que o partido apenas pavimenta o caminho de Serra, ao responder se o prefeito atenderia a um eventual "chamamento partidário": "Quando o partido estiver maduro, acho que até logo depois do Carnaval, vamos chegar a essa definição e saber qual é a reação dele [Serra]".
O prefeito, por sua vez, afirmou que acatará as decisões do partido, mas disse que não se referia especificamente à questão da sucessão presidencial.
Questionado se o prefeito deveria assumir sua candidatura rapidamente, Tasso afirmou: "Isso eu acho que está mais ou menos evidente. Acho que vamos ter agora é um entendimento entre os dois. O Serra e o Alckmin. A gente precisa sentir o sentimento da maioria, fazer um grande consenso e chegar lá".
Alckmin contestou ontem a alta cúpula tucana ao insistir que o candidato do PSDB seja escolhido em prévias e ironizou a indefinição de Serra.
Ao ouvir que o prefeito teria admitido, em conversas recentes, sua intenção em concorrer às eleições, Alckmin respondeu: "Engraçado isso, né? Para mim, ele nunca manifestou [esse desejo]".
No dia em que as principais lideranças tucanas estiveram reunidas para um seminário sobre política monetária em São Paulo, o governador teve seu discurso em favor das prévias desautorizado por FHC, que, contrariado com a insistência de Alckmin, afirmou: "Quem tem experiência na vida não cria problemas antes da hora".
Ao saber da insistência de Alckmin de que o candidato tucano seja escolhido por votação, e não por consenso, Tasso afirmou que Serra é um dos "candidatos naturais" e sugeriu que o governador terá de moderar o discurso caso não seja escolhido. "Por enquanto, ainda está valendo [a insistência de Alckmin]. Contanto que ele pare na hora que tem de parar, tudo bem."
Enquanto Tasso e Fernando Henrique cobravam maturidade dos tucanos para uma "decisão negociada", Alckmin repetia que o partido precisa de uma "decisão democrática": "É lógico que o partido precisa ter um critério de escolha democrático. Não precisa ser prévia, pode ser colégio eleitoral, parlamentares, diretório".
Após chamar de desnecessária a convocação de prévia, FHC reagiu ao ouvir que os defensores da candidatura Alckmin pregavam a consulta: "Essa coisa de defensor de candidatura não adianta. O defensor verdadeiro de um candidato é o sentimento popular".
Uma amostra da pressão exercida agora sobre Serra é a crítica de Tasso quanto à demora na definição da candidatura tucana: "Isso está prejudicando o partido porque tem uma campanha em curso e o presidente Lula está se utilizando de todos os recursos. É como se tivesse uma campanha com um só candidato aberto."
Ele insiste que a escolha seja anunciada depois do Carnaval: "A expectativa é para que haja um candidato o mais cedo possível. O partido está ansioso, querendo um candidato na rua, está com sede de campanha".
Para FHC essa decisão é uma questão "momentânea". "Neste momento, talvez [prejudique o partido]. O problema é que a decisão não é neste momento. Tenho uma longa experiência em campanha. A população só se posiciona mais próximo da eleição."
Para o deputado Alberto Goldman (SP), a demora "não está prejudicando". "A demora é produto natural de uma questão complexa. O máximo que se pode fazer é catalisar essa questão."


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