São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Jeitinho e tapetão

O Brasil deu os parabéns ao escolhido. Pelo telefone, René Préval sugeriu até visitar Lula antes da posse.
Em canais de notícias e jornais pelo mundo, porém, as reações ao anúncio da eleição no Haiti foram constrangidas.
A BBC, por exemplo, em meio às imagens da festa na capital, lembrou que "a controvérsia vai se manter".
O "New York Times", em apoio subliminar, desde cedo destacou a decisão na manchete de seu site, com o enunciado "Um acordo é alcançado para a nomeação de um vitorioso no Haiti". O jornal registrou como "o Brasil liderou um esforço de diplomatas para descartar os votos em branco e declarar René Préval presidente".
O apoio aparente do "NYT" -sempre crítico da intervenção americana- se reproduziu no site do "Washington Post", em submanchete, sublinhando que o "acordo acabou com a crise de nove dias". O espanhol "El País" foi a mesma linha, com foto e submanchete.
 
O britânico "Financial Times", por outro lado, não destacou em sua home page -e abriu o texto dizendo que, apesar de criticar a decisão, o segundo colocado no pleito "declarou que nada fará para romper com a autoridade eleitoral" haitiana.
O francês "Le Monde" evitou também destacar na home e procurou se restringir à simples informação, com o enunciado "Após a semana de confusão, Préval é proclamado eleito para presidente do Haiti".
Por toda parte, o quadro foi dado por definido. A publicação que lamentou mais abertamente foi a revista "The Economist", britânica:
- Uma eleição crucial desce para a confusão e desconfiança, sujando desnecessariamente a vitória eleitoral de Préval.
 
Logo apelidada de "jeitinho brasileiro" no Globo Online, a saída encontrada para encerrar a crise pós-eleitoral no Haiti, a certa altura, era mais atacada no Brasil que no exterior.
Em particular, nos blogs de oposição a Lula. Sites noticiosos e telejornais pareciam satisfeitos com "o fim do impasse". Nas manchetes da Record:
- No Haiti, René Préval é o novo presidente.
Do "Jornal Nacional":
- Préval é declarado o novo presidente e a população vai às ruas para comemorar.
Só o SBT criticou:
- Eleição no tapetão.

FESTA

Reprodução

A BBC mostrou o anúncio do resultado na TV haitiana e, de imediato, a festa dos partidários de René Préval, de madrugada na capital, Port-au-Prince

PONTES

Em meio a especulações de um racha sul-americano, Argentina e Uruguai voltaram ontem a trocar acusações por conta da fábrica uruguaia supostamente poluidora às margens do rio Uruguai, que banha aos dois países. O governo argentino, como se lia na manchete do "Clarín", ameaça apelar à ONU -e pontes entre os países seguem fechadas. O governo uruguaio, como se lia na BBC Brasil, quer a intervenção do Mercosul.
E o Brasil entrou na história. Aos jornais argentinos, a diplomacia brasileira, em meio às entrevistas sobre o Haiti, se dispôs a "ajudar" -ainda que não "mediar", como questionaram os correspondentes.
De todo modo, o mesmo "Clarín", o mais vinculado ao isolacionismo de Néstor Kirchner, já trata de apontar que uma fábrica brasileira em São Borja, também no rio e na fronteira, estaria levando políticos argentinos a uma situação de "alerta", preocupados com "o respeito às normas ecológicas".

Penas voando
Tasso Jereissati tem pressa, FHC critica. Geraldo Alckmin quer prévia, FHC critica. E até o "JN" já percebeu:
- Lado a lado, José Serra e Alckmin pouco se olharam.

Na saída
O racha tucano levou o blog coletivo E-Agora ao limite. Eduardo Graeff, Augusto de Franco e Antonio Fernandes, três tucanos, andam trocando adjetivos -de "covarde" para baixo. Já andaram chamando até para um "olho no olho".

"License to kill"
Reuters e demais agências questionavam ontem, por todo lado na internet, a impunidade no massacre do Carandiru, sob títulos como:
- Licença para matar?
Já a cobertura local sumia com o tema do "SPTV", dos demais telejornais e sites.
A rádio Jovem Pan, além de destacar entrevistas em favor da decisão do Tribunal de Justiça, dizia que o Ministério Público de São Paulo pode nem recorrer a Brasília.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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