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Câmara deve cortar cargos e verba indenizatória, diz FGV
Propostas constam de estudo que prevê redução de até R$ 57,7 mi em gastos da Casa
Documento, encomendado por Aldo, está parado na direção geral da Câmara desde dezembro; Chinaglia diz ainda não ter visto texto
SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudo da FGV (Fundação
Getúlio Vargas) encomendado
pela Câmara para avaliar o impacto dos gastos extras dos deputados aponta que é preciso
reduzir o valor das verbas recebidas mensalmente pelos parlamentares, o que poderia levar
a economia de até R$ 57,7 milhões por ano. Também propõe
dar mais transparência ao uso
dos recursos e avaliar um corte
de funcionários nos gabinetes.
O documento ao qual a Folha teve acesso foi produzido a
pedido do ex-presidente da Casa Aldo Rebelo (PC do B-SP) no
auge do desgaste causado pelo
debate sobre o reajuste de 91%
nos salários dos parlamentares.
A elaboração do documento
custou cerca de R$ 140 mil. Ele
segue parado na direção geral
da Câmara desde o fim de dezembro. Até hoje, nenhuma das
medidas sugeridas foi adotada
e o conteúdo sequer foi mostrado à maioria dos deputados. O
próprio presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou ontem ainda não ter tido
acesso ao documento.
O estudo diz que a forma como as verbas dos deputados são
usadas traz "entraves burocráticos acarretadores de custos financeiros e de tempo".
A análise sugere a fusão de
três cotas repassadas mensalmente aos deputados: a verba
indenizatória de R$ 15 mil e as
cotas para passagens aéreas e
uso de telefone e correio.
Para justificar sua tese, os
técnicos compararam os valores pagos pela Câmara desde a
criação das cotas com a variação do índice do IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo) no mesmo período. Conclusão: "os valores atuais da cota de transporte aéreo e da verba indenizatória são, substancialmente, superiores à variação do IPCA no período".
A distorção flagrada se deve
ao fato de os reajustes serem
determinados nas reuniões da
Mesa da Câmara, na maioria
das vezes superando a inflação.
A fundação analisou dois cenários, aglutinando as três cotas. No primeiro deles, ela reduziu 20% no valor final, o que
geraria economia de R$ 38,3
milhões por ano. Outro cenário
é o ajuste pelo IPCA, acarretando economia de R$ 57,7 milhões por ano, ou 28,35%, proposta que "representa uma
economia não só maior, como
tecnicamente mais racional".
A Câmara desembolsa R$
192,6 milhões por ano com essas despesas, valor que cairia
para R$ 154, 3 milhões com o
corte de 20%, ou R$ 134,8 milhões, se fosse de 28,35%.
O corte de R$ 57,7 mi representa cerca de 1,6% do Orçamento total da Câmara -R$ 3,4
bilhões para este ano.
No caso da verba indenizatória, cada parlamentar tem direito a R$ 15 mil para gastar
com combustíveis e despesas
dos seus escritórios nos Estados. O valor sugerido pela FGV
é de R$ 12 mil ou de R$ 10,7 mil.
"É o raciocínio correto, mas a
pergunta é se é do interesse dos
parlamentares", disse o primeiro-secretário da Casa, Osmar
Serraglio (PMDB-PR).
Outra incongruência apontada pelo estudo é a chamada
"verba de gabinete", de R$ 50,8
mil mensais que, na prática, os
deputados usam para pagar salários dos seus funcionários.
Cada gabinete emprega até 25
pessoas sem concurso público.
O estudo defende a redução
de 25 cargos para 12 e sugere
que seja feita uma descrição
das atribuições de cada cargo,
além de uma indicação clara
dos requisitos para ocupá-los.
Também faz críticas à transparência dos gastos dos parlamentares e ressalta a "necessidade de controles mais efetivos
dessas despesas". A sugestão é
que os valores reembolsados
pela Câmara sejam submetidos
a uma auditoria feita por amostragem. A idéia é que sejam escolhidos 15 deputados por sorteio para serem auditados.
Chinaglia
O presidente da Câmara afirmou ontem que há três meses
ouve falar do estudo da FGV,
mas ainda não pegou o documento e ficou "torcendo para
ele aparecer". "Faz três meses
que tem esse estudo da FGV,
mas parece aquela história:
sempre quem ganha na loteria
está longe de você", afirmou.
Chinaglia disse que não poderia comentar os pontos do
estudo antes de ter acesso a ele.
"Vou ter que pegar o estudo para ver se tem um nível, se é um
bom estudo. Nós priorizamos a
pauta [de votação]. Agora vem a
parte administrativa."
Colaborou a Agência Folha, em Campo Grande
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