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Temer é estagnação do PMDB, diz Jobim
Ex-presidente do STF, que quer presidir a legenda, critica atual direção por não defender nenhuma "bandeira nacional"
Ao reivindicar o cargo, ele sugere que sigla oriente os governadores e vê chances de o PMDB ter nome para 2010; Aécio seria "hipótese"
Sérgio Lima - 01.dez.2005/Folha Imagem
![](../images/n1702200701.jpg) |
Nelson Jobim, em seu gabinete no Supremo Tribunal Federal, quando presidia a instituição |
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nelson Jobim quer ser presidente do maior partido político
do Brasil, o PMDB. Está em
campanha há três meses. Quer
retirar da cadeira o deputado
Michel Temer (SP), que comanda a sigla desde 2001. A
convenção do PMDB está pré-marcada para o dia 11 de março.
A permanência de Temer e
de seu grupo, segundo Jobim,
será a "continuidade de uma
estagnação" no PMDB. Ex-ministro da Justiça de Fernando
Henrique Cardoso (1995-1997)
e integrante do Supremo Tribunal Federal de 1997 a 2006, o
gaúcho de Santa Maria é hoje
um dos peemedebistas mais
admirados pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula o desejou ministro ou
candidato a vice-presidente.
Jobim não quis. Ao deixar o Supremo, filiou-se novamente ao
PMDB, partido pelo qual foi
eleito deputado em 1986.
Jobim acha que o PMDB precisa ter uma presença nacional
e liderar os sete governadores
da sigla numa negociação que
apresente soluções aos problemas de caixa dos Estados.
Aos 60 anos, Jobim diz não
correr nenhum risco nessa sua
empreitada. "Só o de ser derrotado. Faz parte do jogo."
FOLHA - Por que um ex-ministro da
Justiça e ex-presidente do Supremo
se interessa pela disputa da presidência de um partido político?
NELSON JOBIM - Depois de sair
do Supremo, resolvi retornar à
minha atividade, que é a advocacia. Ao mesmo tempo, queria
ter uma atividade política, porém nada governamental, como ser ministro. Voltei ao
PMDB para contribuir com o
partido, que nos últimos anos
se tornou uma grande confederação de partidos regionais.
FOLHA - Sempre foi assim.
JOBIM - Não necessariamente.
Houve um período no passado
que não. Precisamos reconstituir o partido no sentido de
transformá-lo em uma agremiação nacional. O partido não
tem bandeira nacional. Minha
idéia ao me candidatar a presidente é fazer com que as posições assumidas pelo partido sejam relevantes nacionalmente.
FOLHA - Dê exemplos.
JOBIM - A questão financeira, a
tributária e a reforma política.
O partido não se reúne há
quanto tempo para tratar desses temas? Um exemplo concreto são os governadores. O
PMDB tem sete governadores.
Todos têm os seus problemas
fiscais. Em que momento a direção nacional se reuniu para
tentar formular um modelo de
solução fiscal para os Estados?
Nunca. Os governadores, individualmente, tentam buscar
soluções, todas díspares. O partido deve fazer um exame da situação econômica dos Estados
e engendrar uma solução perene, que respeite a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas que
viabilize o funcionamento dos
governos estaduais.
FOLHA - Por que, na sua visão, houve uma abulia no comportamento
do PMDB como sigla nacional?
JOBIM - A direção atual não
tem uma visão nacional.
FOLHA - Será que o sr. não exagera? O fracionamento do partido nos
Estados não inviabiliza sua tese?
JOBIM - Acho que não. Há uma
falta de perspectiva individual
dessas direções em termos de
visão nacional.
FOLHA - Falta ao presidente Michel
Temer esse tipo de atitude?
JOBIM - Falta. Falta formulação de um projeto nacional. Algo que passe por questões objetivas -como os problemas fiscais dos Estados, que eu já citei.
Por que não se tomou a iniciativa de o partido estar à frente de
seus governadores para encontrar uma solução?
FOLHA - Há tempo para o PMDB
construir uma candidatura própria
ao Planalto em 2010?
JOBIM - Acho possível.
FOLHA - Mas com quem?
JOBIM - Se começarmos a dizer
que tal ação servirá para fulano
ou para beltrano, as coisas não
andam.
FOLHA - Aliados seus dizem que o
ideal para o partido seria a filiação
do governador Aécio Neves (PSDB).
Esse será o nome forte do PMDB?
JOBIM - É uma hipótese. Mas
são situações que podem surgir
depois. As estruturas regionais
do PMDB são fortes e só apostarão numa saída nacional se
isso representar um reforço local. Se formos pensar primeiro
em nomes, e só depois na estrutura, dará a mesma coisa de
sempre. Ficaremos na base do
fisiologismo individual.
FOLHA - É possível o sr. reconsiderar a sua candidatura? Aceitar a proposta já feita: ser secretário-geral,
com Temer presidente, para daqui a
um ano e meio o sr. assumir?
JOBIM - Não existe essa hipótese. Não é aceitável. O tempo é
exíguo. O partido precisa desses quatro anos até 2010. Esse
acordo proposto será a continuidade de uma estagnação. E
outra coisa precisa ser dita,
queiramos ou não: o deputado
Michel Temer lidera só uma
parte do partido. Não agrega os
senadores, por exemplo.
FOLHA - Mas o seu caso não é idêntico? Numa eventual vitória sua,
uma parte também não o aceitará.
JOBIM - Não creio. Veja que os
apoios que tenho não se restringem a alguns senadores como Renan Calheiros [AL] e José Sarney [AP]. Tenho apoio
também de Jarbas Vasconcelos
[PE], de Pedro Simon [RS].
Também posso dizer que já tenho o apoio de cinco dos sete
governadores do PMDB. Creio
que chegarei a seis. E muitos
apoios entre os deputados. É
um grupo muito mais amplo.
Isso também ficou muito claro lá atrás, em novembro,
quando começaram as conversas institucionais entre o governo e o deputado Michel Temer na condição de presidente
do PMDB. Quem propiciou essas conversas com o governo
fui eu. Eu fiz a intermediação.
FOLHA - Ainda assim, não seria melhor evitar essa disputa?
JOBIM - O acordo só seria possível se passasse pelo meu nome
na presidência do PMDB. Fora
disso, não tem.
FOLHA - Por quê?
JOBIM - Por uma razão muito
simples. Quando houve a eleição para presidente da Câmara,
havia a possibilidade de um entendimento segundo o qual, se
eu viesse a ser o presidente do
PMDB, o Michel teria espaços
que poderiam ser ocupados na
condição de deputado. O que
aconteceu? Esse grupo ligado
ao Michel fechou os espaços
que tinha. Aí só sobrou para o
Michel ser presidente do partido. Da minha parte não há risco. O único risco é ser derrotado, algo que faz parte do jogo.
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