São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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Temer é estagnação do PMDB, diz Jobim

Ex-presidente do STF, que quer presidir a legenda, critica atual direção por não defender nenhuma "bandeira nacional"

Ao reivindicar o cargo, ele sugere que sigla oriente os governadores e vê chances de o PMDB ter nome para 2010; Aécio seria "hipótese"


Sérgio Lima - 01.dez.2005/Folha Imagem
Nelson Jobim, em seu gabinete no Supremo Tribunal Federal, quando presidia a instituição


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nelson Jobim quer ser presidente do maior partido político do Brasil, o PMDB. Está em campanha há três meses. Quer retirar da cadeira o deputado Michel Temer (SP), que comanda a sigla desde 2001. A convenção do PMDB está pré-marcada para o dia 11 de março.
A permanência de Temer e de seu grupo, segundo Jobim, será a "continuidade de uma estagnação" no PMDB. Ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (1995-1997) e integrante do Supremo Tribunal Federal de 1997 a 2006, o gaúcho de Santa Maria é hoje um dos peemedebistas mais admirados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula o desejou ministro ou candidato a vice-presidente.
Jobim não quis. Ao deixar o Supremo, filiou-se novamente ao PMDB, partido pelo qual foi eleito deputado em 1986.
Jobim acha que o PMDB precisa ter uma presença nacional e liderar os sete governadores da sigla numa negociação que apresente soluções aos problemas de caixa dos Estados. Aos 60 anos, Jobim diz não correr nenhum risco nessa sua empreitada. "Só o de ser derrotado. Faz parte do jogo."
 

FOLHA - Por que um ex-ministro da Justiça e ex-presidente do Supremo se interessa pela disputa da presidência de um partido político?
NELSON JOBIM -
Depois de sair do Supremo, resolvi retornar à minha atividade, que é a advocacia. Ao mesmo tempo, queria ter uma atividade política, porém nada governamental, como ser ministro. Voltei ao PMDB para contribuir com o partido, que nos últimos anos se tornou uma grande confederação de partidos regionais.

FOLHA - Sempre foi assim.
JOBIM -
Não necessariamente. Houve um período no passado que não. Precisamos reconstituir o partido no sentido de transformá-lo em uma agremiação nacional. O partido não tem bandeira nacional. Minha idéia ao me candidatar a presidente é fazer com que as posições assumidas pelo partido sejam relevantes nacionalmente.

FOLHA - Dê exemplos.
JOBIM -
A questão financeira, a tributária e a reforma política. O partido não se reúne há quanto tempo para tratar desses temas? Um exemplo concreto são os governadores. O PMDB tem sete governadores. Todos têm os seus problemas fiscais. Em que momento a direção nacional se reuniu para tentar formular um modelo de solução fiscal para os Estados? Nunca. Os governadores, individualmente, tentam buscar soluções, todas díspares. O partido deve fazer um exame da situação econômica dos Estados e engendrar uma solução perene, que respeite a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas que viabilize o funcionamento dos governos estaduais.

FOLHA - Por que, na sua visão, houve uma abulia no comportamento do PMDB como sigla nacional?
JOBIM -
A direção atual não tem uma visão nacional.

FOLHA - Será que o sr. não exagera? O fracionamento do partido nos Estados não inviabiliza sua tese?
JOBIM -
Acho que não. Há uma falta de perspectiva individual dessas direções em termos de visão nacional.

FOLHA - Falta ao presidente Michel Temer esse tipo de atitude?
JOBIM -
Falta. Falta formulação de um projeto nacional. Algo que passe por questões objetivas -como os problemas fiscais dos Estados, que eu já citei. Por que não se tomou a iniciativa de o partido estar à frente de seus governadores para encontrar uma solução?

FOLHA - Há tempo para o PMDB construir uma candidatura própria ao Planalto em 2010?
JOBIM -
Acho possível.

FOLHA - Mas com quem?
JOBIM -
Se começarmos a dizer que tal ação servirá para fulano ou para beltrano, as coisas não andam.

FOLHA - Aliados seus dizem que o ideal para o partido seria a filiação do governador Aécio Neves (PSDB). Esse será o nome forte do PMDB?
JOBIM -
É uma hipótese. Mas são situações que podem surgir depois. As estruturas regionais do PMDB são fortes e só apostarão numa saída nacional se isso representar um reforço local. Se formos pensar primeiro em nomes, e só depois na estrutura, dará a mesma coisa de sempre. Ficaremos na base do fisiologismo individual.

FOLHA - É possível o sr. reconsiderar a sua candidatura? Aceitar a proposta já feita: ser secretário-geral, com Temer presidente, para daqui a um ano e meio o sr. assumir?
JOBIM -
Não existe essa hipótese. Não é aceitável. O tempo é exíguo. O partido precisa desses quatro anos até 2010. Esse acordo proposto será a continuidade de uma estagnação. E outra coisa precisa ser dita, queiramos ou não: o deputado Michel Temer lidera só uma parte do partido. Não agrega os senadores, por exemplo.

FOLHA - Mas o seu caso não é idêntico? Numa eventual vitória sua, uma parte também não o aceitará.
JOBIM -
Não creio. Veja que os apoios que tenho não se restringem a alguns senadores como Renan Calheiros [AL] e José Sarney [AP]. Tenho apoio também de Jarbas Vasconcelos [PE], de Pedro Simon [RS]. Também posso dizer que já tenho o apoio de cinco dos sete governadores do PMDB. Creio que chegarei a seis. E muitos apoios entre os deputados. É um grupo muito mais amplo. Isso também ficou muito claro lá atrás, em novembro, quando começaram as conversas institucionais entre o governo e o deputado Michel Temer na condição de presidente do PMDB. Quem propiciou essas conversas com o governo fui eu. Eu fiz a intermediação.

FOLHA - Ainda assim, não seria melhor evitar essa disputa?
JOBIM -
O acordo só seria possível se passasse pelo meu nome na presidência do PMDB. Fora disso, não tem.

FOLHA - Por quê?
JOBIM -
Por uma razão muito simples. Quando houve a eleição para presidente da Câmara, havia a possibilidade de um entendimento segundo o qual, se eu viesse a ser o presidente do PMDB, o Michel teria espaços que poderiam ser ocupados na condição de deputado. O que aconteceu? Esse grupo ligado ao Michel fechou os espaços que tinha. Aí só sobrou para o Michel ser presidente do partido. Da minha parte não há risco. O único risco é ser derrotado, algo que faz parte do jogo.


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