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MÃOS SUJAS
Empresário recebeu dinheiro da máfia em contas abertas na Suíça pelo Trade Link Bank, sediado em paraíso fiscal
Banco de Cayman escoou dinheiro de PC
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
O empresário Paulo César Farias, o PC, movimentou dinheiro
obtido no Brasil e recebeu depósitos da máfia em três contas abertas
na Suíça em nome do banco Trade
Link Bank, sediado nas Ilhas Cayman (paraíso fiscal na América
Central).
A informação consta das investigações feitas pela polícia italiana
sobre o envolvimento financeiro
de PC com um grupo de mafiosos
de Agriento, sul da Sicília, liderado
por Alfonso Caruana.
PC abriu pelo menos três contas
em nome do banco -duas no
S.C.S. Alliance, em Genebra, outra
no Suisse Bank Corporation, em
Zurique. PC era o procurador do
banco responsável pela movimentação das contas.
A Polícia Federal já havia detectado seis contas movimentadas
por PC na Suíça, além de uma conta na Holanda e três nos Estados
Unidos. Das 6 contas na Suíça, 3
estão em nome do Trade Link.
Por isso, a PF suspeita que o banco Trade Link foi usado para escoar o dinheiro obtido pelo esquema PC -rede de tráfico de influência comandada pelo empresário durante o governo Collor
(1990-1992).
A PF tentará investigar a movimentação de dinheiro do Trade
Link Bank no inquérito que será
aberto nesta semana pelo delegado
Daniel Lorenz, da Dcoie (Divisão
de Combate ao Crime Organizado
e Inquéritos Especiais).
A maior dificuldade da PF será
quebrar o sigilo bancário do Trade
nas Ilhas Cayman. Os paraísos fiscais não admitem a violação das
contas em nenhuma hipótese. Isso, porém, pode ser feito com as
contas na Europa e nos EUA.
Das contas do Trade Link Bank
eram feitas transferências para a
conta de PC na Holanda. Dessa
conta o dinheiro era transferido
para três outras contas mantidas
por PC nos Estados Unidos.
Segundo a polícia italiana, a sede
do Trade, em Cayman, teria recebido em 93 um depósito de US$ 2,6
milhões do italiano Angelo Zanetti, ex-administrador financeiro de
operações do narcotráfico.
Zanetti ajudou a revelar à Justiça
da Itália o envolvimento financeiro de PC com mafiosos da Sicília
ligados ao tráfico de cocaína. O colombiano Gustavo Delgado,
ex-caixa de Pablo Escobar (cartel
de Medellín), também deu informações à Justiça.
De acordo com a polícia italiana,
Zanetti recebia dinheiro e ordens
de um primo de Alfonso Caruana.
Do mesmo grupo, participavam os
intermediários responsáveis pela
aquisição de cocaína na Colômbia,
os italianos Luciano Scibilia e Antonio Scambia.
Os ex-companheiros mafiosos
de Zanetti estariam foragidos no
Brasil. A Itália encaminhou em
1994 pedidos de prisão contra os
ex-companheiros de Zanetti à Justiça Federal.
Zanetti começou a administrar
operações financeiras da máfia em
1992. No seu depoimento consta
que ele desconhecia se antes de 92
outros depósitos foram feitos pela
máfia nas contas de PC na Holanda, Ilhas Cayman e Uruguai.
Informações passadas à PF pela
polícia italiana dão conta de que
Zanetti participava do grupo de
traficantes que fez oito remessas
de cocaína a Itália, no período de
dezembro de 1991 a maio de 1994.
O ex-administrador financeiro
da máfia foi preso em 1994 após a
apreensão de 5,5 toneladas de cocaína na Itália no porto de Gênova.
Depois, ele se tornou ``pentiti'',
denominação dada pelos italianos
aos traficantes ``arrependidos''
que passam a colaborar com as investigações. Atualmente, Zanetti
vive na Itália sob a proteção.
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