São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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PF investiga envolvimento de Collor com máfia e traficantes

LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Roma

A Polícia Federal brasileira estuda uma forma de investigar se o ex-presidente Fernando Collor de Mello era beneficiário do dinheiro movimentado em conjunto pelo seu tesoureiro de campanha, PC Farias, pela máfia italiana e pelo narcotráfico colombiano.
Segundo apurou a Folha, o órgão procura uma justificativa, originada em um fato ocorrido nos Estados Unidos, que dê base legal para a abertura de um inquérito.
A construção de uma casa na Flórida (EUA), que supostamente pertence a Marcos Coimbra, cunhado de Collor e seu secretário-geral no governo (90 a 92), pode ser o pretexto para iniciar uma investigação formal das contas bancárias de Collor.
Na verdade, a PF não se interessa em apurar se a casa na Flórida é mesmo de Coimbra ou do ex-presidente, mas apenas poderia usar isso como justificativa.
Ajuda dos EUA
A abertura de um inquérito que tenha a Flórida como ponto de referência permitiria que o Brasil pedisse ajuda ao governo norte-americano para fazer as investigações.
Essa cooperação seria facilitada com o acordo de ajuda na área criminal que está sendo negociado entre os dois governos.
A Folha revelou na semana passada o relacionamento de PC Farias com a máfia italiana e o grupo narcotraficante Cartel de Cali, da Colômbia. A rede maneja contas na Itália, Holanda, Suíça e EUA.
Contas bancárias em Miami -a mesma cidade onde Collor mora desde que se auto-exilou após renunciar, em 92- eram utilizadas por PC e seus sócios do narcotráfico para movimentar recursos dos negócios com cocaína.
Por enquanto, a PF não irá abrir inquérito para apurar se a família Farias também estaria recebendo dinheiro do narcotráfico e da máfia. Mas o órgão irá colher dados para decidir se inicia uma investigação formal.
A PF já pediu à Justiça Federal a quebra de sigilo telefônico de suspeitos que poderiam estar repassando dinheiro do narcotráfico para Collor e para a família Farias.
Estilo de vida
A casa na Flórida fica em um terreno de propriedade do ex-embaixador Marcos Coimbra, casado com Leda, irmã de Collor.
Quando a notícia da construção da casa foi divulgada, Coimbra negou que fosse o proprietário. Voltou atrás e disse que o imóvel era seu e custaria US$ 1 milhão.
Levantamento feito pela Folha em agosto do ano passado em Miami constatou que Collor tem um gasto mensal de pelo menos US$ 37 mil, sem contar despesas extras com compras de sua mulher, Rosane, e viagens.
De acordo com a assessoria do ex-presidente, Collor paga as despesas com rendimentos das Organizações Arnon de Mello -que reúne o império de comunicação dos Collor em Maceió (AL).
Com o impeachment sofrido em 92, Collor ficou inabilitado para o exercício de funções públicas até o ano 2000. O ex-presidente já declarou que pretende concorrer à Presidência da República em 2002.
Outro lado
Na sexta-feira, em entrevista por telefone, de Miami, o ex-presidente disse que desconhecia qualquer ligação de seu tesoureiro com narcotraficantes e a máfia italiana.
``Minha reação mais forte e dolorida é pelas ilações. Nas entrelinhas, querem incluir meu nome.''
O ex-presidente afirmou ainda que nunca teve acesso a dinheiro de PC Farias depositado no exterior e que se mantém com a renda das empresas da família no Estado de Alagoas.
O ex-presidente afirmou que não sabia que PC mantinha contas em bancos de Miami e Nova York, nos Estados Unidos, e em instituições financeiras da Europa. Collor também negou conhecer a origem do dinheiro dessas contas.
``Até onde eu saiba, os recursos dele haviam sido arrecadados de empresas privadas para financiar as campanhas políticas de 90 e 91.''

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