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PF investiga envolvimento de
Collor com máfia e traficantes
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Roma
A Polícia Federal brasileira estuda uma forma de investigar se o
ex-presidente Fernando Collor de
Mello era beneficiário do dinheiro
movimentado em conjunto pelo
seu tesoureiro de campanha, PC
Farias, pela máfia italiana e pelo
narcotráfico colombiano.
Segundo apurou a Folha, o órgão procura uma justificativa, originada em um fato ocorrido nos
Estados Unidos, que dê base legal
para a abertura de um inquérito.
A construção de uma casa na
Flórida (EUA), que supostamente
pertence a Marcos Coimbra, cunhado de Collor e seu secretário-geral no governo (90 a 92), pode ser o pretexto para iniciar uma
investigação formal das contas
bancárias de Collor.
Na verdade, a PF não se interessa
em apurar se a casa na Flórida é
mesmo de Coimbra ou do ex-presidente, mas apenas poderia usar
isso como justificativa.
Ajuda dos EUA
A abertura de um inquérito que
tenha a Flórida como ponto de referência permitiria que o Brasil pedisse ajuda ao governo norte-americano para fazer as investigações.
Essa cooperação seria facilitada
com o acordo de ajuda na área criminal que está sendo negociado
entre os dois governos.
A Folha revelou na semana passada o relacionamento de PC Farias com a máfia italiana e o grupo
narcotraficante Cartel de Cali, da
Colômbia. A rede maneja contas
na Itália, Holanda, Suíça e EUA.
Contas bancárias em Miami -a
mesma cidade onde Collor mora
desde que se auto-exilou após renunciar, em 92- eram utilizadas
por PC e seus sócios do narcotráfico para movimentar recursos dos
negócios com cocaína.
Por enquanto, a PF não irá abrir
inquérito para apurar se a família
Farias também estaria recebendo
dinheiro do narcotráfico e da máfia. Mas o órgão irá colher dados
para decidir se inicia uma investigação formal.
A PF já pediu à Justiça Federal a
quebra de sigilo telefônico de suspeitos que poderiam estar repassando dinheiro do narcotráfico
para Collor e para a família Farias.
Estilo de vida
A casa na Flórida fica em um terreno de propriedade do ex-embaixador Marcos Coimbra, casado
com Leda, irmã de Collor.
Quando a notícia da construção
da casa foi divulgada, Coimbra negou que fosse o proprietário. Voltou atrás e disse que o imóvel era
seu e custaria US$ 1 milhão.
Levantamento feito pela Folha
em agosto do ano passado em Miami constatou que Collor tem um
gasto mensal de pelo menos US$
37 mil, sem contar despesas extras
com compras de sua mulher, Rosane, e viagens.
De acordo com a assessoria do
ex-presidente, Collor paga as despesas com rendimentos das Organizações Arnon de Mello -que
reúne o império de comunicação
dos Collor em Maceió (AL).
Com o impeachment sofrido em
92, Collor ficou inabilitado para o
exercício de funções públicas até o
ano 2000. O ex-presidente já declarou que pretende concorrer à Presidência da República em 2002.
Outro lado
Na sexta-feira, em entrevista por
telefone, de Miami, o ex-presidente disse que desconhecia qualquer
ligação de seu tesoureiro com narcotraficantes e a máfia italiana.
``Minha reação mais forte e dolorida é pelas ilações. Nas entrelinhas, querem incluir meu nome.''
O ex-presidente afirmou ainda
que nunca teve acesso a dinheiro
de PC Farias depositado no exterior e que se mantém com a renda
das empresas da família no Estado
de Alagoas.
O ex-presidente afirmou que não
sabia que PC mantinha contas em
bancos de Miami e Nova York, nos
Estados Unidos, e em instituições
financeiras da Europa. Collor também negou conhecer a origem do
dinheiro dessas contas.
``Até onde eu saiba, os recursos
dele haviam sido arrecadados de
empresas privadas para financiar
as campanhas políticas de 90 e 91.''
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