São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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TÍTULOS SOB SUSPEITA
Dirigentes de bancos, corretoras e distribuidoras devem ser denunciados por crime do colarinho branco
CPI vai priorizar busca de documentos

CARI RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


A CPI dos Precatórios muda de rumo a partir desta semana e vai priorizar a busca de documentos em vez de insistir no depoimento dos envolvidos em irregularidades com títulos públicos.
Os técnicos do BC, Receita Federal e Polícia Federal devem acelerar os trabalhos de cruzamento dos telefonemas trocados entre os donos dos bancos e corretoras que negociaram papéis destinados ao pagamento de precatórios (dívidas judiciais) de Santa Catarina, Alagoas e Pernambuco.
``A partir de agora, a CPI terá menos interrogatórios públicos e mais tempo para investigar'', disse o relator Roberto Requião (PMDB-PR).

``Laranjas''
Requião disse ainda que, a partir desta semana, devem ser acirradas as investigações em torno do grupo político que estava por trás dos ``laranjas'', dos bancos e das corretoras envolvidas no escândalo investigado pela CPI.
Para descobrir quem ``costurava'' todo o esquema da lavagem do dinheiro, o relator, junto com a PF, pretende rastrear os cheques que foram quebrados em pequenos valores pela corretora Perfil e pelo Banco Vetor, e que acabaram nas mãos de doleiros.
Para os técnicos que auxiliam a CPI, as provas documentadas para incriminar os responsáveis pelo suposto esquema investigado pela comissão só deverão aparecer ao final das buscas feitas pela PF e Receita Federal.
O prejuízo estimado para os Estados de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina com as negociações de títulos é de R$ 600 milhões, segundo a CPI.
A Polícia Federal deve apresentar nos próximos dias os primeiros resultados das investigações sobre as pessoas físicas e jurídicas que receberam cheques das empresas IBF Factoring, SMJT, Ianes, Tradetronic, além de Fausto Solano Pereira, dono da corretora Boa Safra.
Cheques
A SMJT, Ianes e Tradetronic receberam cerca de R$ 40 milhões em cheques da Perfil. O destino desse dinheiro é considerado a chave para descobrir o mentor do esquema.
Luiz Calabria, dono da empresa, diz que as empresas destinatárias dos cheques foram indicadas por Wagner Baptista Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública do município de São Paulo.
A CPI analisa hoje informações importantes decorrentes da quebra do sigilo telefônico, segundo o senador Esperidião Amin (PPB-SC).
Ele diz acreditar que já é possível indiciar criminalmente os donos do Banco Vetor, da Perfil, Negocial e os quatro funcionários da Prefeitura de São Paulo, que participaram do esquema.

Colarinho branco
Todos os dirigentes de bancos, corretoras e distribuidoras financeiras, entre outros que depuseram na CPI, serão denunciados ao Ministério Público por terem praticado crime do colarinho branco.
O senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), sub-relator da CPI, disse ontem que a comissão também vai recomendar ao Senado que altere a resolução que regulamenta o endividamento público.
A idéia é levar o Banco Central a fiscalizar com mais rigor as instituições financeiras que atuam no mercado de capitais.
Tanto Kleinubing quanto Amin -que têm procurado, sobretudo, desvendar as irregularidades no processo de emissão e comercialização das Letras Financeiras do Tesouro de Santa Catarina- esperam saber, esta semana, para onde foi o dinheiro arrecadado.
Segundo Fábio Nahoum, um dos donos do banco Vetor, que intermediou os negócios com os papéis no mercado financeiro, o lucro obtido com o deságio na venda dos papéis foi entregue a ``laranjas'', no exterior. Para Amin, isto é suficiente para que os envolvidos sejam enquadrados em crime de evasão de divisas.


Colaborou a Agência Folha

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