São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Em nota, partido recua de pedido de demissão de Palocci feito pelo presidente da sigla, mas mantém posicionamento sobre juros

Lula cobra Alencar, e Costa Neto se retrata

RANIER BRAGON
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter pedido ao seu vice, José Alencar, retratação oficial do PL, a bancada de deputados federais e membros da Executiva do partido se reuniram ontem e divulgaram uma nota desautorizando os ataques do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e ao presidente do BC, Henrique Meirelles.
Lula conversou com Alencar ainda anteontem depois de saber que Costa Neto pedira a demissão de Palocci e de Meirelles por falta de "competência", durante a posse do novo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL), no Palácio do Planalto.
Foi a primeira vez que Lula cobrou Alencar direta e duramente. Em 2003, o presidente, com jeito, disse ao vice que suas críticas aos juros altos dificultavam o trabalho do ministro e do presidente do Banco Central. Lula gosta de Alencar e tolera suas críticas, mas Costa Neto ultrapassou limites.
Após falar com Lula, Alencar procurou Costa Neto. Disse que ele tinha exagerado, que o presidente estava irado e que o PL tinha de se manifestar contra. Lula ficou contrariado, pois nem o PT, que divulgou nota pedindo "mudanças", fez ataques tão duros.
Mais: Lula avaliou que a atitude de Costa Neto, dentro do Planalto, transmitia imagem de descontrole sobre o governo e os aliados, na hora em que tenta debelar a crise do caso Waldomiro Diniz. Lula também julgou prejudicial à autoridade de Palocci vê-lo receber forte ataque depois de o próprio presidente ter enquadrado membros do governo e do PT que minam o ministro da Fazenda.
Assinam a nota do PL Costa Neto e o deputado Sandro Mabel (GO), líder do partido na Câmara. Nela, a Executiva Nacional da legenda e os deputados reafirmam o "apoio incondicional" ao governo, sublinham que é de "competência exclusiva" do presidente a nomeação ou demissão de ministros e, como contraponto, mantêm as críticas aos juros, cujas altas taxas "inibem os investimentos em atividades produtivas".
O presidente do PT, José Genoino, foi um dos petistas que entraram no circuito para falar com Costa Neto e costurar o recuo: "Qualquer partido da base pode reivindicar, sugerir. O que conversamos com a direção do PL é que o debate sobre a economia não pode cair em um discurso sobre quem cai, quem entra".
Na reunião do partido, Costa Neto reconheceu que errou, mas reafirmou suas opiniões sobre Palocci, a quem critica faz tempo, entre outros motivos, devido a nomeações para cargos federais.
Os deputados criticaram também o PT, dizendo que teria "aberto a porta" do ataque a Palocci ao pedir mudanças na política econômica. "Se o PT pode, por que a gente não pode?", foi uma pergunta repetida na reunião.
Após a redação, a nota foi levada ao Planalto, onde Lula se reuniu com Nascimento e Alencar. Por sua assessoria, Costa Neto disse achar "curiosa" a repercussão de suas palavras, já que não escondia sua opinião fazia tempo.


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