São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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NA CORDA BAMBA

Impedido de saltar de galeria, baiano recebe promessa de emprego de Sarney

Homem ameaça pular e pára Senado

Alan Marques/Folha Imagem
O baiano Edivaldo de Lima Araújo sobe em parapeito de galeria do Senado e, se dizendo desempregado, ameaça pular para o plenário


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de senadores atônitos, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), interrompeu ontem bruscamente a sessão, para tentar evitar que o baiano Edivaldo de Lima Araújo, 35, pulasse das galerias para o plenário, de uma altura de aproximadamente seis metros.
Foram 20 minutos de tensão. Em pé no parapeito das galerias, Araújo, desempregado há dois anos e meio, ameaçava se jogar sobre os senadores. Descontrolado, gritava: "Tô passando fome", "estou desesperado", "tenho filhos", "desde a manhã não como nada", e "quando o senhor era presidente, eu tinha emprego, não passava fome".
Tenso, Sarney começou a tocar a campainha sem parar e buscou manter um diálogo com Araújo, gritando frases ao microfone, na tentativa de evitar a queda, que parecia iminente. "Não pule", "venha falar comigo", "eu lhe garanto que vou tentar ajudar", dizia, enquanto Araújo ameaçava pular.
Uma assessora se aproximou de Sarney e lhe deu um remédio para pressão -Norvarsc, que ele toma diariamente no mesmo horário. Enquanto os seguranças do Senado se mobilizavam para subir à galeria, Sarney, sempre ao microfone e dirigindo-se ao baiano, convocou as senadoras Ana Júlia (PT-PA) e Fátima Cleide (PT-RO) para "convidá-lo" a descer e falar com ele no plenário.
Antes que elas e outros senadores chegassem à galeria, o segurança Jorge Bonfim chegou por trás e conseguiu imobilizar Araújo. Foram os momentos mais tensos. Cerca de oito seguranças pularam sobre o homem, que gritava "socorro", enquanto Sarney os desautorizava ao microfone, exaltado.
"Não toquem nele de nenhuma maneira. Aguardem as senadoras chegarem. Advirto os seguranças que não podem fazê-lo." Araújo foi retirado das galerias escoltado por um grupo de senadores, entre eles Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, Romeu Tuma (PFL-SP), primeiro secretário da Casa, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Heloísa Helena (sem partido-AL). De forma tumultuada, o homem -até então não identificado- foi levado por um caminho interno ao cafezinho do Senado, anexo ao plenário.
Da Mesa, Sarney pedia aos assessores que o rapaz fosse levado até ele. No cafezinho, o baiano tremia muito e não aceitou nem o sanduíche nem os biscoitos oferecidos. Disse o nome, que tem quatro filhos e está desempregado há dois anos e meio e que já havia trabalhado em uma imobiliária e em uma clínica veterinária, no serviço de limpeza. Disse ainda que tinha passagem na polícia por homicídio.
Diante da insistência de Sarney, Araújo foi escoltado pelos senadores até o plenário. Alguns tentaram evitar. Outros, ao contrário, defendiam que ele fosse levado até a Mesa. Por fim, Araújo foi levado até o meio do plenário, a alguns metros da Mesa. Sarney determinou que ele fosse levado para um ambiente localizado atrás da Mesa, onde ele foi atendido pelo serviço médico da Casa e conversou com o presidente do Senado.
Enquanto isso, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ao microfone, criticava duramente a atitude de Sarney.
"É um mau precedente para esta Casa. Depois de tudo isso, ainda vem ao plenário do Senado essa figura. Isso vai se tornar uma rotina. Desculpo a emoção de todos, mas o precedente é péssimo." ACM lembrou que, quando era presidente da Casa, aconteceu episódio semelhante. Um homem ameaçou se jogar. "Eu disse: "paciência se você se jogar, mas vai ter que sair"."
Alheio a essa discussão, Araújo foi liberado pelo serviço médico e levado pelos seguranças do Senado até a rodoviária, de onde pegaria um ônibus para ir embora. Antes, porém, os senadores, incluindo Sarney, se cotizaram e fizeram uma "vaquinha" para o desempregado.
Ele mora em Cidade Ocidental, uma cidade goiana que fica no entorno de Brasília. Sarney prometeu tentar ajudá-lo a conseguir emprego. (RU)


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