São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Evento de prefeitos petistas vira ato de desagravo a ministro, que discursa por 30 minutos

Dirceu desafia a oposição e diz que viveu piores 32 dias

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após ter se declarado o "ministro do silêncio", José Dirceu (Casa Civil) aproveitou ontem, em um evento de prefeitos do PT para, em tom de desabafo, dizer que viveu "os piores 32 dias de sua vida" desde o surgimento do caso Waldomiro Diniz, que o governo não é "vaca de presépio", acusou a oposição de "namorar o perigo" e repetiu por duas vezes que não haverá mudanças na política econômica contra Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Em um discurso de mais de meia hora realizado em encontros de prefeitos do PT -que na verdade virou um ato de desagravo a Dirceu- o ministro, que ontem completou 58 anos, disse que não deveria falar o que estava falando, mas afirmou que pretendia não deixar nada sem resposta e que queria colocar "pingos nos "is'".
"A principal questão que se coloca é a eleição de 2004. Quem vai vencer a eleição de outubro de 2004. Pois do resultado da eleição de 2004 decide-se a política em 2005 e a antecipação ou não da sucessão presidencial", afirmou.
Segundo ele, alguns "namoram com o perigo" e sonham em desestabilizar o governo com o intuito de vencer as eleições. "Alguns namoram com o perigo tentando desestabilizar o governo. Outros namoram com o sonho de nos derrotar nas eleição de 2004 e de antecipar o calendário eleitoral. Todos em busca de um objetivo: desarrumar a política econômica e desarrumar o núcleo dirigente do governo, o centro do governo", afirmou.
Dirceu criticou também os aliados que cobram mudanças na política econômica. Ele disse que no próprio governo há discussões nesse sentido, mas que há hora e local para se cobrar isso. "Isso não significa não reconhecer os erros. Não significa que o partido não tenha comportamento crítico da avaliação da política de governo. Há momento e formas de fazer essas sugestões", disse.
"Não vamos fazer um tratamento suicida. Não haverá mudança na política econômica contra o ministro Palocci (repetiu a frase duas vezes). Não é verdade que no núcleo do governo existe oposição às medidas que são adotadas. Existe solidariedade, coesão e apoio, mas nós não somos vacas de presépio e nem somos de um partido antidemocrático. Debatemos e discutimos, dissentimos e fazemos propostas."
O ministro citou também o caso Waldomiro Diniz, afirmando que esses últimos 32 dias foram os piores de sua vida. "Eu passei esses 32 dias, não tenho a menor vergonha de confessar, foram os piores 32 dias de minha vida. (...) Não me conformo com a minha incompetência de não ter dado conta e de não ter resolvido esse problema. Me dói no fundo da alma ter sido responsável."

PMDB
Sobre a aliança com o PMDB, Dirceu disse que o governo não teria maioria sem isso e se disse admirado com as cobranças que são feitas contra a aliança.
Pela manhã, Dirceu foi homenageado durante um café da manhã com servidores. Ele improvisou um discurso para agradecer a iniciativa de funcionários da Casa Civil para organizar um café da manhã em sua homenagem.
Segundo a Folha apurou, o ministro estava muito sorridente, mas também falou em tom de desabafo pelas críticas que tem recebido nas últimas semanas.
Waldomiro Diniz, homem de confiança de Dirceu, aparece, em vídeo gravado em 2002, pedindo propina e doações de campanha para um empresário do jogo de loterias do Rio de Janeiro, quando ele presidia a Loterj (Loteria do Estado do RJ). À época, o Estado era governado pela petista Benedita da Silva. Pelo fato, Waldomiro foi exonerado a pedido do cargo de subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência.
As homenagens a Dirceu continuaram durante todo o dia. À tarde, após ter retornado do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pessoalmente cumprimentar Dirceu. Outros parlamentares fizeram o mesmo, como dos senadores Edison Lobão (PFL-MA), Aloizio Mercadante (PT-SP) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
(LUIS RENATO STRAUSS, SILVIO NAVARRO E RANIER BRAGON)


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