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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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RELIGIÃO

Cardeal é indicado para a presidência por "conservadores" e "progressistas"

D. Geraldo Majella deve ser próximo presidente da CNBB

Márcio Fernandes - 13.jul.2001/Folha Imagem
D. Geraldo Majella, que deve ser escolhido presidente da CNBB


RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, d. Geraldo Majella Agnelo, 69, deve ser o próximo presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A 41ª Assembléia Geral da entidade, que escolherá o sucessor de d. Jayme Chemello, começa no dia 30, em Indaiatuba (SP).
A escolha é dada como praticamente certa por bispos ouvidos pela Folha pelo fato de seu nome constar como indicado à presidência da CNBB nas duas chapas apresentadas aos cerca de 300 bispos que farão a escolha -uma que representa setores "progressistas" da igreja e outra que representa os mais "conservadores" (os termos são apontados como imprecisos pelos bispos).
Embora os nomes apresentados nas chapas sejam sugestões -em tese os bispos podem votar em qualquer colega-, a tradição é que os membros da CNBB escolham entre os nomes sugeridos.
A chapa "progressista" tem entre seus articuladores d. Tomás Balduino, presidente da Pastoral da Terra, órgão ligado à igreja que participou da formação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e que tradicionalmente apóia suas ações.
Um dos principais articuladores pelo lado dos "conservadores" é d. Amaury Castanho, bispo de Jundiaí (SP), que defende uma igreja com menor envolvimento em questões estritamente políticas. A Folha apurou que d. Cláudio Hummes, cardeal arcebispo de São Paulo, foi o primeiro nome pensado para a presidência pela chapa apoiada por d. Amaury. D. Cláudio recusou o convite alegando falta de tempo para a função.
Os dois grupos apresentaram nomes distintos para os outros dois cargos mais importantes da entidade: vice-presidente e secretário-geral. Da escolha desses nomes surgirá o perfil "político" da CNBB nos próximos quatro anos.
D. Geraldo concilia as duas tendências ao reunir a proximidade e fidelidade ao Vaticano com o engajamento social. Em 1991, foi nomeado pelo papa João Paulo 2º secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, órgão do Vaticano que cuida da liturgia da igreja. Em 1983, em companhia de Zilda Arns, criou a Pastoral da Criança.
O arcebispo de Salvador costuma dizer que todo bispo é ao mesmo tempo e necessariamente conservador e progressista. Conservadores por defenderem valores tradicionais da igreja, opondo-se, por exemplo, à prática do aborto e ao divórcio. Progressistas por se preocuparem com problemas sociais.
D. Geraldo adotou muitas vezes tom crítico em relação à política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, disse ser "uma grande preocupação para a igreja que a preservação do plano [Real]" fosse feita "à custa do desemprego e de um maior sofrimento para a população".
Nasceu em 19 de outubro de 1933, em Juiz de Fora (MG). Foi arcebispo de Londrina (PR) entre 1982 e 1991. Em 1999 foi escolhido vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano. Tornou-se cardeal, um dos oito do país, em janeiro de 2001.


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