São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Para presidente, pré-candidatos têm "preocupação social"

Todos os presidenciáveis são "progressistas", diz FHC

Lula Marques/Folha Imagem
FHC e o presidente da Câmara, Aécio Neves, brindam após assinatura de convênio em Madri


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O presidente Fernando Henrique Cardoso, na contramão da demonização de candidatos oposicionistas feita por setores de seu governo, deu ontem um carimbo de "progressistas" a todos os que disputam a eleição presidencial no Brasil.
"Todos os candidatos lá têm um compromisso nessa direção", disse o presidente em improvisada entrevista coletiva ontem, no pátio da embaixada do Brasil em Madri.
A afirmação do presidente foi feita em resposta a uma pergunta da Folha sobre a possibilidade de que, no Brasil, se repita a "varredura" que está havendo na Europa contra representantes da chamada "Terceira Via".
Trata-se de movimento criado pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que busca um caminho intermediário entre o liberalismo puro e duro e as tendências estatizantes da velha social-democracia.
"Na Europa, tem havido uma mudança", reconheceu FHC, em alusão ao fato de que seus parceiros de "Terceira Via" já perderam eleições na Itália, em Portugal, na França e, agora, na Holanda, sem contar os Estados Unidos.
Mas, no Brasil, o presidente deu como "garantidos os ideais da "Terceira Via", qualquer que seja o eleito".
Definiu tais ideais como "saber que o mercado é importante, mas não se restringir a ele e, sim, tendo uma preocupação social".
É claro que FHC não deixou de acrescentar que espera que o eleito seja de seu partido, mas não citou o nome de José Serra, virtual candidato do PSDB.

Fantasma europeu
O presidente aproveitará seu discurso de hoje, na sessão plenária da reunião de cúpula União Européia/América Latina e Caribe, para tocar no fantasma que passou a assombrar a Europa, na forma da ascensão de partidos de extrema-direita.
"Democracia é alguma coisa que interessa também à Europa", comenta FHC, no que não deixa de realizar uma pequena vingança, na medida em que os europeus (como os norte-americanos) sempre deram lições de democracia à América Latina, e agora vêem crescer grupos tidos como antidemocráticos.
"Hoje, estamos sentindo ares que não são os melhores em certas regiões", diz FHC, para tocar em dois dos medos dos europeus: "Há muito medo da questão da imigração, muito medo da violência, do crime. Entendo o medo do crime, mas não se resolve isso se não com mais cooperação".
O aval que o presidente deu ao "progressismo" de todos os pré-candidatos, sem diferenciar o presidenciável José Serra dos adversários, combina à perfeição com a "falta de agressividade política" do presidente identificada por um de seus interlocutores de ontem.

Reza
Para compensar, o presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), que faz parte da comitiva presidencial, comprometeu-se ontem a rezar muito na Basílica de São Pedro, em Roma, para que seu correligionário Serra suba nas pesquisas de intenção de voto.
"Só assim, vão acreditar que eu não tenho mesmo a mais remota intenção de substituí-lo como candidato", brinca Aécio (ele irá com FHC a Roma para a cerimônia de canonização, no domingo, de Madre Paulina, primeira santa brasileira).
Brincadeira à parte, Aécio, sempre citado como eventual alternativa a Serra no PSDB, diz que não há hipótese de retirada da candidatura, por dois motivos: "Primeiro, porque ele não pensa no assunto. Segundo, porque não há outro candidato".



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