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FHC perdeu "agressividade", avalia consultor
DO ENVIADO A MADRI
Má notícia para José Serra, o
virtual candidato presidencial do
PSDB, se ele de fato quer o empenho do presidente Fernando
Henrique Cardoso em sua campanha: o presidente, como está
para deixar o cargo, perdeu "a
agressividade política".
A avaliação foi obtida pela Folha de um dos interlocutores de
ontem de FHC, um companheiro
de profissão (sociólogo) e também consultor favorito de empresários espanhóis e até do primeiro-ministro José María Aznar.
Com o livro "O presidente segundo o sociólogo", uma longa
entrevista do jornalista Roberto
Pompeu de Toledo com FHC, devidamente autografado na pasta,
o consultor conversou com o presidente na residência da embaixada do Brasil em Madri. Depois relatou pedaços da conversa à Folha, com o compromisso de que
seu nome fosse preservado.
O apetite político de FHC não
parece ter sido despertado nem
mesmo pela avaliação de que Luiz
Inácio Lula da Silva tem, desta
vez, melhores cartas do que em
qualquer de suas tentativas anteriores, na avaliação que frequentou a conversa.
Lula ainda assusta? Um pouco,
mas menos do que os agentes de
mercado fazem crer.
Primeiro, "não estamos falando
de mudanças traumáticas", diz o
consultor. Ou seja, a expectativa é
a de que uma eventual vitória do
candidato petista não será o ponto de partida de uma revolução no
Brasil.
Não obstante, o teorema traçado pelo interlocutor matutino de
FHC faz certo sentido, até porque
não carrega a dose de preconceito
que embasa em geral as avaliações
feitas pelos agentes financeiros.
Ponto 1: "Lula não se parece
com Chávez (Hugo Chávez, o presidente venezuelano), mas, de todo modo, cria a incerteza do desconhecido".
Ponto 2: "A incerteza do desconhecido é tanto mais complicada
em um sistema, como o brasileiro, cuja característica é o personalismo".
É uma referência à dose menor
de incertezas em países europeus,
em que os partidos são fortes o
suficiente para servir de contrapeso aos nomes que elegem.
Ponto 3: "Mais importante, como fator de risco, é a região (a
América do Sul), que está em uma
situação complicada. Vai se introduzir uma complicação adicional
(a incerteza do desconhecido),
ganhe quem ganhe. Mesmo que
seja Serra, porque, de todo modo,
implica um mudança".
É significativo que, ao contrário
do que ocorre no Brasil, em que a
mais recente pesquisa do Datafolha, mostra uma maioria desejosa
de mudanças, na Europa, pelo
menos na Europa do establishment, o ideal seria que Fernando
Henrique continuasse indefinidamente.
"Dos ibero-americanos, é a pessoa mais respeitada no exterior",
diz o consultor e sociólogo.
Emenda outro interlocutor de
ontem de FHC, Iñigo Oriol, presidente da Iberdrola, uma das empresas espanholas que invadiu a
América Latina nos anos recentes, sem pedir reserva do nome:
"Ouvir Fernando Henrique Cardoso é uma lição permanente".
Oriol almoçou ontem com o
presidente brasileiro, ao lado de
outros pesos-pesados do empresariado espanhol, também com
interesses grandes na América
Latina (ver texto abaixo).
Detalhe: a análise que o sociólogo compartilhou ontem com FHC
também frequentou a reunião
que ele manteve com o presidente
do PFL, o senador Jorge Bornhausen, que acaba de regressar de
Madri.
O consultor não deve ter estimulado a busca eventual de uma
candidatura alternativa à de Serra, como parte do PFL quer.
"Quem é melhor candidato que
Serra? Eu não sei", pergunta e responde o consultor, que se considera bem informado sobre o Brasil (e, de fato, na conversa com a
Folha, mostrou-se bastante atualizado).
(CLÓVIS ROSSI)
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