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País pode virar
nova Argentina,
afirma Serra
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há muito mais afinidades eletivas entre o pré-candidato do
PSDB à Presidência, José Serra, e a
política econômica do governo do
que supõe o ministro da Fazenda,
Pedro Malan.
A equipe econômica, por exemplo, acredita que a volatilidade
dos mercados está ligada ao medo
da alternância de poder no país.
Serra acha que o Brasil pode, sim,
virar uma nova Argentina.
Embora o discurso seja o mesmo da equipe econômica, o tucano rejeita a acusação de que o governo patrocine uma satanização
do PT. A seguir, trechos da entrevista que o senador concedeu por
escrito ontem à Folha.
Folha - Eleito, o sr. manterá o rumo da atual política econômica?
José Serra - Manterei o tripé
câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Neste caso, mantendo também as
metas de superávit primário.
Folha - Por que o desempenho de
Lula nas pesquisas atemoriza o
mercado? Trata-se de um problema
de ideologia ou de confiança?
Serra - Acho que um pouco dos
dois. Há também especulação,
manipulação de alguns, para ganharem dinheiro. São os factóides
que, de manhã, dizem que estou
em quarto lugar na corrida eleitoral para baixar a Bolsa [de Valores" e ganhar com isso. No final do
dia constata-se a mentira. Mas no
dia seguinte o truque se repete.
Folha - Atrair a oposição para o
debate sobre os "fundamentos da
política econômica" não é terrorismo eleitoral? A estratégia não repete o clima plebiscitário de 1998,
no qual o eleitor foi chamado a votar a favor ou contra o real e foi seguido pela desvalorização?
Serra - Terrorismo de quem? O
presidente Fernando Henrique, o
Malan e o Armínio estão empenhadíssimos em reverter a onda
especulativa.
Folha - Não é exagero dizer que o
Brasil pode virar uma Argentina?
Serra - Poder, pode, em face do
papel das expectativas internacionais no desempenho da economia. Gostemos ou não, somos
vulneráveis a elas. Mas não vai virar, não, se Deus quiser.
Folha - Discute-se mais os programas de TV do que os programas de
governo. O eleitor votará mais com
a emoção do que com a razão?
Serra - Realmente, os programas do PT me lembram de um
trecho da música do Cazuza:
"Suas idéias não correspondem
aos fatos". Na TV, o PT fala a favor da responsabilidade fiscal,
mas no Congresso votou contra e
chegou a recorrer ao STF. Como
sempre, a emoção pesará muito,
do mesmo modo que a qualidade
dos programas de TV. Mas a razão será decisiva, e o horário gratuito permitirá desfazer mitos
que, hoje, não têm contraditório.
Folha - O sr. diz que FHC arrumou
a casa e que pretende, se for eleito,
apenas acelerar algumas mudanças. Que tipo de mudança?
Serra - Casa arrumada não é
pouco. Significa impedir que o
Brasil saia do rumo, em direção
ao modelo argentino ou venezuelano. Mantido o rumo, vamos
acelerar o ritmo e a mudança. Por
exemplo, na política de comércio
exterior e industrial, para gerar
mais produção e emprego. Vamos transformar o Brasil numa
potência social.
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