São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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País pode virar nova Argentina, afirma Serra

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há muito mais afinidades eletivas entre o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e a política econômica do governo do que supõe o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
A equipe econômica, por exemplo, acredita que a volatilidade dos mercados está ligada ao medo da alternância de poder no país. Serra acha que o Brasil pode, sim, virar uma nova Argentina.
Embora o discurso seja o mesmo da equipe econômica, o tucano rejeita a acusação de que o governo patrocine uma satanização do PT. A seguir, trechos da entrevista que o senador concedeu por escrito ontem à Folha.
 

Folha - Eleito, o sr. manterá o rumo da atual política econômica?
José Serra
- Manterei o tripé câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Neste caso, mantendo também as metas de superávit primário.

Folha - Por que o desempenho de Lula nas pesquisas atemoriza o mercado? Trata-se de um problema de ideologia ou de confiança?
Serra
- Acho que um pouco dos dois. Há também especulação, manipulação de alguns, para ganharem dinheiro. São os factóides que, de manhã, dizem que estou em quarto lugar na corrida eleitoral para baixar a Bolsa [de Valores" e ganhar com isso. No final do dia constata-se a mentira. Mas no dia seguinte o truque se repete.

Folha - Atrair a oposição para o debate sobre os "fundamentos da política econômica" não é terrorismo eleitoral? A estratégia não repete o clima plebiscitário de 1998, no qual o eleitor foi chamado a votar a favor ou contra o real e foi seguido pela desvalorização?
Serra
- Terrorismo de quem? O presidente Fernando Henrique, o Malan e o Armínio estão empenhadíssimos em reverter a onda especulativa.

Folha - Não é exagero dizer que o Brasil pode virar uma Argentina?
Serra
- Poder, pode, em face do papel das expectativas internacionais no desempenho da economia. Gostemos ou não, somos vulneráveis a elas. Mas não vai virar, não, se Deus quiser.

Folha - Discute-se mais os programas de TV do que os programas de governo. O eleitor votará mais com a emoção do que com a razão?
Serra
- Realmente, os programas do PT me lembram de um trecho da música do Cazuza: "Suas idéias não correspondem aos fatos". Na TV, o PT fala a favor da responsabilidade fiscal, mas no Congresso votou contra e chegou a recorrer ao STF. Como sempre, a emoção pesará muito, do mesmo modo que a qualidade dos programas de TV. Mas a razão será decisiva, e o horário gratuito permitirá desfazer mitos que, hoje, não têm contraditório.

Folha - O sr. diz que FHC arrumou a casa e que pretende, se for eleito, apenas acelerar algumas mudanças. Que tipo de mudança?
Serra
- Casa arrumada não é pouco. Significa impedir que o Brasil saia do rumo, em direção ao modelo argentino ou venezuelano. Mantido o rumo, vamos acelerar o ritmo e a mudança. Por exemplo, na política de comércio exterior e industrial, para gerar mais produção e emprego. Vamos transformar o Brasil numa potência social.



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