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CARAJÁS
Juiz decide que coronel pode recorrer em liberdade; Pantoja poderá passar até cinco anos livre antes de decisão final
Oficial é condenado a 228 anos por massacre
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A Justiça do Pará condenou ontem o comandante da tropa da
Polícia Militar no conflito que deixou 19 mortos em Eldorado do
Carajás (sul do Estado) -ocorrido em 17 de abril de 1996- a 228
anos de prisão.
O coronel Mário Colares Pantoja, 56, não irá para a cadeia agora.
Como o juiz permitiu que ele recorresse da decisão em liberdade,
Pantoja poderá passar até cinco
anos solto antes de uma decisão
de última instância.
O coronel foi condenado por
homicídio por ter comandado
uma tropa de 89 PMs durante
confronto na rodovia PA-150. A
sentença o condenou a 12 anos de
prisão por cada uma das 19 mortes. Dos sete jurados, quatro foram favoráveis à condenação.
O juiz do caso, Roberto Moura,
decidiu que o coronel responderá
pelo crime em liberdade por não
ter antecedentes criminais e por
ser réu primário.
Caso sejam esgotadas todas as
etapas de sua defesa, Pantoja poderá recorrer ao Tribunal de Justiça do Pará, ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Superior Tribunal Federal).
Se for condenado na última instância, Pantoja cumprirá a prisão
em regime fechado -por um período máximo de 30 anos, conforme prevê a lei.
O advogado de Pantoja, Roberto Lauria, anunciou que entrará
hoje com apelação no TJ para
anular o julgamento. O recurso
será analisado por uma câmara de
desembargadores.
Como a sentença foi dada em
júri popular, a lei prevê que as
partes não podem recorrer da decisão. A apelação só pode ser feita
com um pedido de anulação do
julgamento.
Ordem
Em seu depoimento, Pantoja
afirmou ao juiz que cumpriu ordens do governador Almir Gabriel (PSDB) e do Comando Geral
da PM para desocupar a estrada
"de qualquer jeito".
O governador admitiu que deu
a ordem, mas negou que tenha
autorizado o uso de força.
O outro oficial julgado ontem, o
capitão Raimundo Almendra Lameira, 30, foi absolvido pelo jurados por seis votos a um.
Lameira é um dos policiais que
aparecem nas imagens gravadas
do confronto disparando uma rajada de metralhadora em direção
aos sem-terra.
A sentença dos dois oficiais foi
lida pelo juiz na madrugada de
ontem, às 4h15, no plenário do
Tribunal de Justiça do Pará, em
Belém. Na próxima terça-feira, o
major José Maria Pereira Oliveira,
comandante do Batalhão da PM
em Parauabepas (PA), na época
do conflito, será julgado (veja
quadro à esquerda).
Haverá ainda outras duas sessões do caso, totalizando o julgamento de 149 policiais.
Ministério Público
O Ministério Público do Estado
recorrerá ainda nesta semana da
decisão dos jurados de absolver o
capitão Lameira.
"Vamos manter a posição de
que ele [Lameira] teve participação direta na morte dos 19 sem-terra. Mas a condenação do Pantoja foi uma vitória da sociedade",
afirmou o promotor Marco Aurélio Nascimento. Ele também criticou a decisão do juiz de permitir
que Pantoja recorra em liberdade.
Segundo o advogado dos oficiais, Américo Leal, a defesa irá
recorrer da condenação do coronel por não concordar com a decisão dos jurados. "Não há sequer
uma prova que implique Pantoja
na autoria dos crimes", disse.
Antes da sentença dos jurados,
acusação e defesa trocaram provocações no plenário.
A defesa argumentou diante do
júri que o "MST [Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra,
do qual os mortos eram militantes] é um movimento criminoso"
e que "a falta de uma reforma
agrária" por parte do governo federal seria a raiz do confronto.
"Os jurados levarão a culpa por
legitimar toda a conduta arbitrária dos sem-terra", disse Lauria.
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