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Governo Yeda completa 29 meses de crise
Problemas começaram antes mesmo da posse, quando tucana tentou aprovar um aumento de impostos e foi derrotada
Ajuste fiscal melhorou as contas da administração, mas provocou ruptura com o vice e acirrou os conflitos com os servidores públicos
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Afora as denúncias de caixa
dois e do uso do dinheiro para
compra de uma casa, alvo de
apuração, os 29 meses de governo de Yeda Crusius (PSDB)
no Rio Grande do Sul são marcados pela instabilidade política e por um ajuste fiscal duro,
sempre sob fogo cerrado da
oposição e de ex-aliados.
São esses os três fatores, alternando-se em ordem de importância, que, desde o começo
da atual gestão, em janeiro de
2007, têm levado o Estado a
uma situação política tensa,
com entidades organizadas pedindo o impeachment da governadora, a primeira mulher a
comandar o Rio Grande do Sul.
Nem o fim de um déficit histórico nas contas públicas foi
capaz de dar fôlego à tucana.
Em um Estado onde a herança
do trabalhismo de Getúlio Vargas (1882-1954) ainda se faz
sentir e que teve o PT no comando na administração estadual de 1999 até 2002, o "choque de gestão" tucano transformou-se em mais combustível
para a luta política.
"Estamos diante de um governo tipicamente neoliberal
em plena crise do neoliberalismo. Nós não vamos aceitar isso", afirma o deputado estadual
Raul Pont, ex-prefeito de Porto
Alegre de 1997 a 2000 e um dos
principais líderes da oposição.
O secretário da Fazenda, Ricardo Englert, rebate as críticas: "O décimo terceiro salário
do funcionalismo há anos não
era pago com recursos próprios. Em 2008, foi. Retomamos o pagamento de precatórios [dívidas da administração
pública pagas a mando da Justiça]. Recuperamos capacidade
de investimento."
Para fazer o "choque de gestão", Yeda instituiu um teto salarial para o servidor do Estado
e propôs limitar gratificações
para a categoria, o que desagradou o funcionalismo público. O
Estado aumentou sua receita,
cortou gastos e terá R$ 1,2 bilhão para investir neste ano.
"É uma crise constante, desde a posse. Aliás, de antes mesmo da posse. Digamos que há
um vício de origem", afirma o
cientista social Benedito Tadeu
César, coordenador do programa de pós-graduação da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul).
O pesquisador, assim como
aliados e inimigos da governadora, se refere especificamente
a dois episódios ocorridos ainda em 2006: a tentativa de aumento das alíquotas do ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços), para
melhorar a arrecadação e equilibrar as contas, e o desentendimento com o DEM, partido de
seu vice, Paulo Afonso Feijó.
No primeiro caso, a então governadora eleita contrariou seu
discurso de campanha, de que
não elevaria impostos. Ela encampou o projeto de aumento,
mas foi derrotada na Assembleia, ainda na Legislatura anterior. O resultado foi a perda
de apoio no empresariado, nos
sindicatos e dentro de sua base.
Feijó, que é empresário, passou a vocalizar a insatisfação de
sua categoria e do partido (por
conta de espaços no governo) e
se transformou em um dos
principais críticos da gestão.
Derrotado no segundo turno
pela tucana, o PT gaúcho iniciou uma oposição que tem nas
denúncias de irregularidades
seu ponto mais agudo.
"Yeda foi eleita sem base,
sem apoio social, amparada em
propostas novas que atraíram
quem estava cansado da luta
entre o PT e o polo mais conservador. Mas ela não soube
compor, e o PSDB é frágil no
Rio Grande do Sul", diz César.
Em 2006, apesar da vitória
de Yeda, os tucanos elegeram
apenas dois deputados federais, contra sete do PT, cinco do
PMDB, cinco do PP, três do
PDT e três do PTB.
Na Assembleia, o PSDB elegeu cinco deputados, contra
dez do PT, nove do PMDB, nove do PP e sete do PDT.
Desde a posse, a governadora
alterou 21 vezes seu secretariado. No Legislativo, sofreu derrotas importantes, como a segunda tentativa de aumentar o
ICMS e a abertura de uma CPI
para investigar corrupção.
Agora, por conta das suspeitas que pairam sob a compra da
casa onde mora, a governadora
depende do PMDB e do PP para
evitar a abertura de outra CPI.
O relacionamento com a sociedade organizada também é
conflituoso. Yeda entrou em
rota de colisão com os movimentos sociais e sindicalistas
ao nomear o coronel Paulo Roberto Mendes, antigo inimigo
dos sem-terra no RS, para o comando da Brigada Militar. Ele
acabaria substituído após choques entre a polícia e manifestantes em atos contra a tucana.
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