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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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OPOSIÇÃO

Em entrevista ao site do PSDB, ex-presidente também criticou as reformas

Para FHC, Lula "exagera na dose" ao manter juros altos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua mais dura crítica ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acha que o governo do PT "exagera na dose" ao manter a política fiscal apertada e os juros altos. "O PT nada fez ainda. Por enquanto, expressou apenas intenções. Num único ponto seguiu mais de perto o que fizemos: na política econômica. Mas, na minha avaliação, exageraram na dose", afirmou.
E continuou: "Não sou irresponsável, acho que tinham de fazer o que fizeram, subir a taxa de juros, porque a inflação está aí", diz FHC. O que ele questiona é a manutenção dessa política por tanto tempo. "Será que é preciso manter por tanto tempo as taxas de juros tão altas? Será que é preciso um recolhimento compulsório tão elevado sobre os depósitos bancários, encolhendo ainda mais um crédito que já é escasso? Será que é preciso um superávit primário tão elevado?"
O ex-presidente deu uma longa entrevista ao site do PSDB na internet (www.psdb.org.br) a pretexto dos 15 anos do partido, que se comemoram no próximo dia 25, e de um encontro de prefeitos tucanos, hoje, em Brasília.
Na entrevista, o tucano criticou o aparelhamento da máquina pública pelo PT, os termos da reforma da Previdência do governo, a política de alianças de Lula e balizou os termos da oposição que deve ser exercida pelo PSDB:
"É um episódio lastimável o que assistimos agora, de novo. As pessoas são votadas para a oposição e vão para o governo", disse. "Isso não é possível. Está errado. Eu jamais procurei cooptar para o meu ponto de vista o PT, o PSB, o PC do B. E é perigoso o que está acontecendo agora, a organização de um rolo compressor que avança na oposição. O PSDB tem obrigação de ficar na oposição mesmo".
FHC afirmou que há "um retrocesso" na ocupação da máquina pública pelos partidos aos quais o PT se aliou para governar. "Quando se dá a um partido um setor do governo, por exemplo, uma aduana qualquer ou uma [superintendência] da Receita, isso não pode. É preciso evitar ao máximo o clientelismo nisso aí".
O ex-presidente refere-se à entrega de áreas da Receita Federal a partidos aliados de Lula. Segundo ele, em seu governo as áreas de decisão fundamental ficaram de fora da "barganha política".
O tucano previu crescimento negativo no segundo semestre, a exemplo do primeiro. "Pequeno, mas negativo." E ressalta: "Nunca houve recessão nos oito anos de governo do PSDB, nunca houve crescimento negativo em nenhum trimestre. Agora houve e provavelmente nesse segundo trimestre o fato vai se repetir". Para o ex-presidente o país perdeu dois anos em seu processo de crescimento econômico.
"Eu não posso concordar com a idéia de que o PT está usando nossas teses. Não. Com algumas está tentando ganhar credibilidade, desdizendo o que sempre disseram", afirma FHC aos tucanos.
O ex-presidente afirmou ainda que a suposta "herança maldita" que o governo afirma ter recebido na realidade foi feita pelo PT. "No passado, o descontrole que nós seguramos foi em função do medo, não foi propagado por nós, mas pelas palavras que eles usaram durante anos".
FHC ironizou o aumento que o governo deu ao funcionalismo, de 1%: "Os funcionários têm todas as razões para estarem profundamente descontentes".


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