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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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BICICLETA ERGOMÉTRICA

Ministro critica também a indiferença da máquina administrativa e a compara a uma "doença incurável"

Burocracia paralisa governo, diz Cristovam

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, aproveitou ontem seu discurso a integrantes de sua pasta reunidos em Brasília para fazer duras críticas à burocracia e à indiferença encontradas na máquina administrativa, que, segundo ele, "paralisam o governo".
Indiretamente, atacou também a inércia e a falta de verba para o setor da educação, apesar de dizer que isso não será motivo para deixar de apresentar novos projetos e tentar colocá-los em prática.
Cristovam disse ainda que há "infinita capacidade de sermos tolerantes com a tragédia".
"Depois de seis meses de governo, a gente já começa a se acostumar a ver meninos nas ruas com olhos tolerantes", afirmou Cristovam, ao criticar o que ele classificou de indiferença gerada pela burocracia. "A gente vai caindo numa indiferença. É o maior medo que tenho, não só de nós aqui, mas de todo o governo, que tem proposta, compromisso revolucionário", concluiu o ministro.
Para Cristovam, a união de burocracia e indiferença paralisa o governo. Mas fez a ressalva de que a burocracia tem o seu papel, dizendo que não dá para romper com ela. "A indiferença é a melhor aliada da burocracia. E a burocracia é a maior fábrica da indiferença. Quando junta a burocracia e a indiferença paralisa o governo". Afirmou também: "A indiferença começa a chegar aos 180 dias. E, ao chegar, ela fica. A indiferença é uma doença incurável".
As críticas foram feitas menos de uma semana depois de a cúpula do PT ter se reunido com 25 dos 27 ministros para pedir que gastem os recursos orçamentários e tirem do papel algumas medidas.
Nos primeiros cinco meses, os investimentos mal passaram de 1% do autorizado no Orçamento, ou seja, foram gastos R$ 149 milhões. No mesmo período, despesas com publicidade foram de 6%.
O discurso do ministro foi ouvido por cerca de cem dirigentes, assessores e técnicos da Educação no lançamento do Alinhamento Estratégico 2003, que traz as 19 principais metas para o setor.
"Vamos atravessar os próximos anos vivendo profundas crises e dificuldades. Crises porque, para fazer isso [cumprir as metas], vamos descontentar outras áreas. Para fazer isso, tem de fazer reformas que descontentam grupos que têm até razões para defender seus interesses, mas eles se contrapõem a interesses maiores do alinhamento", afirmou ele.
Dizendo que "se não vier o dinheiro de uma fonte, vamos atrás de outra e, se não vier de outra, vamos fazer sem dinheiro", reiterou que não há falta de verba, mas a não-priorização do ensino.
"A falta de recursos não existe pelo fato de o país não ter recursos, mas porque os outros movimentos são mais fortes do que o educacionista. Aí eles conseguem recursos para fazer coisas necessárias. Não estou falando de desperdício, mas dinheiro para fazer mais estradas, mais aeroportos, mais armazéns, para gastar mais na saúde. São coisas necessárias, mas temos de brigar pelo que consideramos núcleo central da transformação: a educação."
A Educação tem previsto para este ano R$ 18,7 bilhões no Orçamento, dos quais R$ 4 bilhões são destinados à aposentadorias.


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