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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A QUEDA
Ministro diz que não se envergonha de nada e que mobilizará o PT para reagir aos que querem "interromper o processo político-democrático"
"Combaterei quem quer desestabilizar Lula"
Alan Marques/Folha Imagem
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Acompanhado da mulher, Maria Rita, Dirceu se despede do cargo cercado de ministros e assessores |
JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao anunciar ontem sua saída da
Casa Civil e o retorno à Câmara
dos Deputados, José Dirceu disse
que vai mobilizar o PT a combater
aqueles que querem "desestabilizar" o governo e "interromper" o
processo democrático.
Num discurso em que procurou
passar a todo tempo a impressão
de estar no ataque, Dirceu disse
que tem "humildade" para retornar à militância petista e que não
se considera fora do governo,
mesmo deixando seu gabinete no
Palácio do Planalto. "Sei lutar na
planície e no Planalto", afirmou.
Dirceu, em fala improvisada de
cerca de cinco minutos em um salão do Planalto, rotulou de "infundadas" as recentes denúncias
contra o governo, como os supostos casos de corrupção nos Correios e o pagamento de mesada
pelo PT a partidos da base aliada.
Ao falar da família (mãe, mulher e filhos), ele chegou a embargar a voz. A seguir, resumiu sua
atuação no Planalto. "Não me envergonho de nada que fiz no governo do presidente Lula. Tenho
as mãos limpas, o coração sem
amargura e tenho a mente sempre
colocada naquilo [por] que sempre lutei, que é pelo Brasil, pelo
povo brasileiro, por isso saio de
cabeça erguida do ministério."
Dirceu, que amanhã deve conceder entrevista coletiva na sede
nacional do PT, em São Paulo, citou no discurso suas recentes conversas com Lula acerca de sua saída do governo. "Durante esses
dias eu tenho conversado reiteradas vezes com o presidente Lula e
hoje [ontem] pedi e comuniquei
ao presidente Lula que quero voltar à Câmara." Sobre a reação de
Lula, disse: "Ele aceitou meu pedido de afastamento do governo".
A partir de quarta, Dirceu voltará à Câmara, onde cumprirá o restante de seu mandato (2003-2006)
como representante do PT paulista. Na terça, seu pedido de exoneração da Casa Civil será publicado
no "Diário Oficial" da União.
Até que Lula escolha o substituto de Dirceu, a chefia da Casa Civil, suas três subchefias e os órgãos vinculados ficarão por conta
de Swedenberger Barbosa, até ontem secretário-executivo de Dirceu. Funcionários de alto escalão
da Casa Civil colocaram ontem
seus cargos à disposição.
Dirceu afirmou que, na Câmara,
responderá às recentes denúncias
contra o governo e o PT. "Eu vou
poder esclarecer ao país, à opinião
pública, os temas que estão hoje
em debate na sociedade, tanto
com relação às profundas transformações econômicas, sociais e
políticas que estamos fazendo sob
a liderança do presidente Lula,
como das denúncias infundadas
contra a minha pessoa, o meu
partido e o meu governo."
Ao deixar a Casa Civil, prometeu ir ao confronto com a oposição, citada por ele como fonte de
desestabilização do governo.
"Vou também voltar como militante e dirigente ao PT, que é, na
verdade, a minha vida. Vou voltar
para junto, ao lado e apoiando o
presidente [José] Genoino, [para]
percorrer o Brasil. Vou mobilizar
o PT para dar combate a aqueles
que querem interromper o processo político-democrático e querem desestabilizar o governo do
presidente Lula."
Dirceu disse ainda que é preciso
"consolidar" a base de sustentação do governo no Congresso,
atualmente função de Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política. "O nosso governo tem uma
agenda de mudanças que está para ser votada no Congresso e nós
precisamos consolidar uma
maioria pra aprovar essa agenda
de mudanças políticas e sociais."
E, diferentemente do que costuma fazer, elogiou a política econômica do governo, capitaneada por
Antonio Palocci (Fazenda). "O
nosso governo tem um programa
econômico que está neste momento tendo sucesso, e nós precisamos apoiá-lo e sustentá-lo. Que
o nosso governo, o nosso partido
e eu temos um patrimônio ético,
temos um patrimônio que a sociedade conhece, e eu vou defender esse patrimônio."
Dirceu agradeceu o "privilégio"
de ocupar tal cargo, o que, disse
ele, sempre foi um de seus "sonhos". "Quero agradecer de coração, primeiro ao presidente, que
me deu esse privilégio, essa oportunidade de servir primeiro ao
Brasil, depois servir a ele. Todos
aqui sabem que eu sempre sonhei
em governar o Brasil ao lado do
presidente Lula e vou continuar
governando o Brasil como deputado e como dirigente do PT."
Os elogios ao governo e ao presidente prosseguiram a seguir,
quando falou na "paixão" que
tem pela administração petista.
"Não me considero fora do governo. Me considero parte integrante
do governo. O governo do presidente Lula é a minha paixão, é a
minha vida e eu, ao sair, deixo
aqui parte da minha alma, do
meu coração, todos sabem."
À Câmara e ao PT, ele disse que
levará sua "alma" de governo.
"Mas não deixo a minha alma. Ela
vai comigo para a luta. Eu sei lutar
na planície e no Planalto, e tenho
humildade para voltar ao meu
partido como militante e para voltar à Câmara como deputado."
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