São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A QUEDA

Ministro diz que não se envergonha de nada e que mobilizará o PT para reagir aos que querem "interromper o processo político-democrático"

"Combaterei quem quer desestabilizar Lula"

Alan Marques/Folha Imagem
Acompanhado da mulher, Maria Rita, Dirceu se despede do cargo cercado de ministros e assessores


JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao anunciar ontem sua saída da Casa Civil e o retorno à Câmara dos Deputados, José Dirceu disse que vai mobilizar o PT a combater aqueles que querem "desestabilizar" o governo e "interromper" o processo democrático.
Num discurso em que procurou passar a todo tempo a impressão de estar no ataque, Dirceu disse que tem "humildade" para retornar à militância petista e que não se considera fora do governo, mesmo deixando seu gabinete no Palácio do Planalto. "Sei lutar na planície e no Planalto", afirmou.
Dirceu, em fala improvisada de cerca de cinco minutos em um salão do Planalto, rotulou de "infundadas" as recentes denúncias contra o governo, como os supostos casos de corrupção nos Correios e o pagamento de mesada pelo PT a partidos da base aliada.
Ao falar da família (mãe, mulher e filhos), ele chegou a embargar a voz. A seguir, resumiu sua atuação no Planalto. "Não me envergonho de nada que fiz no governo do presidente Lula. Tenho as mãos limpas, o coração sem amargura e tenho a mente sempre colocada naquilo [por] que sempre lutei, que é pelo Brasil, pelo povo brasileiro, por isso saio de cabeça erguida do ministério."
Dirceu, que amanhã deve conceder entrevista coletiva na sede nacional do PT, em São Paulo, citou no discurso suas recentes conversas com Lula acerca de sua saída do governo. "Durante esses dias eu tenho conversado reiteradas vezes com o presidente Lula e hoje [ontem] pedi e comuniquei ao presidente Lula que quero voltar à Câmara." Sobre a reação de Lula, disse: "Ele aceitou meu pedido de afastamento do governo".
A partir de quarta, Dirceu voltará à Câmara, onde cumprirá o restante de seu mandato (2003-2006) como representante do PT paulista. Na terça, seu pedido de exoneração da Casa Civil será publicado no "Diário Oficial" da União.
Até que Lula escolha o substituto de Dirceu, a chefia da Casa Civil, suas três subchefias e os órgãos vinculados ficarão por conta de Swedenberger Barbosa, até ontem secretário-executivo de Dirceu. Funcionários de alto escalão da Casa Civil colocaram ontem seus cargos à disposição.
Dirceu afirmou que, na Câmara, responderá às recentes denúncias contra o governo e o PT. "Eu vou poder esclarecer ao país, à opinião pública, os temas que estão hoje em debate na sociedade, tanto com relação às profundas transformações econômicas, sociais e políticas que estamos fazendo sob a liderança do presidente Lula, como das denúncias infundadas contra a minha pessoa, o meu partido e o meu governo."
Ao deixar a Casa Civil, prometeu ir ao confronto com a oposição, citada por ele como fonte de desestabilização do governo. "Vou também voltar como militante e dirigente ao PT, que é, na verdade, a minha vida. Vou voltar para junto, ao lado e apoiando o presidente [José] Genoino, [para] percorrer o Brasil. Vou mobilizar o PT para dar combate a aqueles que querem interromper o processo político-democrático e querem desestabilizar o governo do presidente Lula."
Dirceu disse ainda que é preciso "consolidar" a base de sustentação do governo no Congresso, atualmente função de Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política. "O nosso governo tem uma agenda de mudanças que está para ser votada no Congresso e nós precisamos consolidar uma maioria pra aprovar essa agenda de mudanças políticas e sociais."
E, diferentemente do que costuma fazer, elogiou a política econômica do governo, capitaneada por Antonio Palocci (Fazenda). "O nosso governo tem um programa econômico que está neste momento tendo sucesso, e nós precisamos apoiá-lo e sustentá-lo. Que o nosso governo, o nosso partido e eu temos um patrimônio ético, temos um patrimônio que a sociedade conhece, e eu vou defender esse patrimônio."
Dirceu agradeceu o "privilégio" de ocupar tal cargo, o que, disse ele, sempre foi um de seus "sonhos". "Quero agradecer de coração, primeiro ao presidente, que me deu esse privilégio, essa oportunidade de servir primeiro ao Brasil, depois servir a ele. Todos aqui sabem que eu sempre sonhei em governar o Brasil ao lado do presidente Lula e vou continuar governando o Brasil como deputado e como dirigente do PT."
Os elogios ao governo e ao presidente prosseguiram a seguir, quando falou na "paixão" que tem pela administração petista. "Não me considero fora do governo. Me considero parte integrante do governo. O governo do presidente Lula é a minha paixão, é a minha vida e eu, ao sair, deixo aqui parte da minha alma, do meu coração, todos sabem."
À Câmara e ao PT, ele disse que levará sua "alma" de governo. "Mas não deixo a minha alma. Ela vai comigo para a luta. Eu sei lutar na planície e no Planalto, e tenho humildade para voltar ao meu partido como militante e para voltar à Câmara como deputado."


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