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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A QUEDA
Pefelistas e tucanos na Câmara defendem reforma ampla, que extinga pastas; base se preocupa com potencial desagregador de Dirceu
Oposição aplaude demissão, mas acha pouco
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A saída de José Dirceu foi aplaudida pela oposição no Congresso,
com variação no tom entre parlamentares, e encarada pela base
aliada como oportunidade de reação às acusações que o governo
vem sofrendo. Há quem veja risco
de tensão devido às arestas acumuladas por Dirceu, e o embate
com Roberto Jefferson já é aguardado com expectativa.
Na Câmara, a oposição quer
mais cabeças. Líderes tucanos e
pefelistas defenderam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
promova uma reforma administrativa, com a saída de outros ministros e a extinção de pastas.
"Foi um bom começo, mas é
preciso uma mudança expressiva
no governo, que funciona muito
mal. Diminuir ministérios e secretarias é o próximo passo", afirmou o líder do PSDB na Câmara,
Alberto Goldman (SP).
Entre os oposicionistas, chegou
a circular ontem a idéia de dar a
Dirceu recepção dura, abrindo
contra ele processo de cassação.
"Para mim, não há diferença entre José Dirceu e Roberto Jefferson", disse o deputado Antônio
Carlos Magalhães Neto (BA), vice-líder do PFL. Jefferson, presidente nacional do PTB e deputado, é processado pelo Conselho
de Ética por quebra de decoro e
pode ser cassado em razão das
acusações de pagamento de
"mensalão" que fez à Folha.
A visão majoritária entre os
oposicionistas foi mais moderada, no entanto. "Vou recebê-lo na
Câmara com todo o respeito. Não
serei eu a levá-lo ao Conselho de
Ética", afirmou o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA)
"Ele não volta à Câmara para
defender o governo, mas para defender a si próprio", declarou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).
A oposição foi unânime em fazer ataque preventivo ao que vê
como estratégia do governo para
esvaziar a CPI dos Correios. "Espero que não seja uma cortina de
fumaça para abafar as investigações", disse Goldman.
Já a base demonstrou entusiasmo com o reforço de peso para
tentar melhorar o desempenho
parlamentar. "O governo perde,
mas a vinda de Dirceu nos fortalece, pois ele tem acúmulo, conhecimento e autoridade política", disse o líder do governo na Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Não está descartada a possibilidade de Dirceu integrar a CPI. O
PT já indicou seus membros
-eles podem, porém, ser substituídos a qualquer momento.
Para Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP), os problemas não acabaram. "Foi um gesto de coragem.
Ele não quis esperar nenhuma reforma e volta para defender o governo. José Dirceu era figura central, e o presidente Lula terá muita
dificuldade em substituí-lo."
No Senado
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que Dirceu retorna para a
Câmara com o objetivo de defender a sua honra e a do partido. Para a oposição na Casa, Jefferson
conseguiu produzir sua primeira
baixa no governo federal.
Apesar de Mercadante dizer
que a saída de Dirceu foi "gesto de
humildade e de grandeza política", alguns integrantes da base estão preocupados com o potencial
desagregador da presença do ex-ministro no Congresso.
Segundo esses governistas, Dirceu acumulou muitos adversários
na própria base devido a promessas não cumpridas e à postura
adotada de "primeiro-ministro".
Assim, pode ter sua autoridade
questionada. "Unanimidade ninguém é na vida pública. Pela força
da sua personalidade e pela riqueza de sua história, ele sempre será
um homem público polêmico",
disse Mercadante.
Na opinião do líder do PSDB,
senador Arthur Virgílio (AM), a
saída foi inevitável. "A decisão se
tornou necessária em face de todo
um quadro de desgaste." Virgílio,
porém, não celebrou. "Sou tucano, não sou abutre". PFL foi mais
provocativo. "Roberto Jefferson
derrubou o primeiro ministro,
com duplo sentido", disse o líder
pefelista, senador José Agripino
(RN), referindo-se à atitude adotada por Dirceu de principal operador do governo e da esperada
queda de outros ministros.
A avaliação de Agripino é que a
presença do ex-ministro na Câmara vai acelerar o esclarecimento das denúncias de corrupção
que têm sido feitas contra o governo. "Não vejo a hora de ver o
embate entre ele e Jefferson."
Segundo o líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), o fato
de Dirceu reassumir o mandato
tem prós e contras. "O lado positivo é que ele vai cuidar bem dos interesses dele, do partido e do governo. O lado negativo é que toda
ação tem uma reação, ele vai enfrentar um grande debatedor, que
é Jefferson."
(RANIER BRAGON, FÁBIO ZANINI E FERNANDA KRAKOVICS)
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