São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grampo tem elogio de preso na Navalha a dirigente do Dnit

Em escuta de operação da PF, envolvido em esquema afirma que diretor de Infra-Estrutura Rodoviária é "básico para nós"

Já o coordenador-geral de Construção Rodoviária do órgão foi fotografado em encontro com a diretora comercial da Gautama

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além da suspeita levantada pela auditoria do Ministério dos Transportes, documentos da Polícia Federal na Operação Navalha, ainda inéditos, revelam que um dos diretores do Dnit é classificado como "tudo pra nós" por acusados de desfalcar os cofres públicos, enquanto outro foi fotografado em encontro com a "número dois" do esquema.
O integrante do Dnit elogiado é Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infra-Estrutura Rodoviária. O dirigente é descrito assim por Geraldo Magela Rocha, preso sob suspeita de receber propina em troca de lobby no governo do Maranhão. "Hideraldo é o básico pra nós. Pra nós, o Hideraldo é tudo."
A fala foi captada em fevereiro, por meio de escuta telefônica autorizada pela Justiça. Em gravação do ano passado, Magela já havia elogiado Hideraldo Caron, dessa vez em conversa gravada com Zuleido Veras, dono da empreiteira Gautama.
"Na última hora, teve um diretor que queria pedir vista, tava orientado por alguém. Mas o Hideraldo foi muito objetivo. Disse: "Isso já tá acertado com a Dilma, já está acertado com o governador, eu dei minha palavra, não vai tirar vista, não vai tirar nada. Esse negócio está aprovado, pronto e acabou. Porque senão eu peço vista dos outros'", diz Magela, no grampo captado pela PF.
Ele se referia a reunião da diretoria do Dnit na qual era discutido convênio do órgão com o Maranhão para obras na BR-402 que beneficiariam a Gautama. "No dia 27/06/06 [um dia após o grampo telefônico], o recurso do Convênio 564440 foi devidamente empenhado e assinado pelo Dnit", diz a PF.
Apesar da suposta intimidade com o diretor do Dnit demonstrada por Magela nos grampos, a Folha não localizou no inquérito gravações de diálogos dele com Caron, que nega ter sido procurado por Magela.
Já em relação ao coordenador-geral de Construção Rodoviária do Dnit, Luiz Munhoz Prosel Júnior, há fotos suas no inquérito. Referem-se a monitoramento sigiloso que a PF fez de encontro que ele teve no dia 30 de março com a diretora comercial da Gautama, Maria de Fátima Palmeira.
A PF relata que Prosel -indicado ao cargo pelo ex-ministro Anderson Adauto- chegou a um restaurante no Lago Sul, área nobre de Brasília, em um carro de propriedade da Sotecom (Sociedade Técnica de Engenharia e Construção). Após se reunir com Fátima, deixou o local no mesmo carro que trouxera a diretora da Gautama.
Segundo a PF, no encontro foi tratada "resolução de problema relativo à licença ambiental para continuidade de execução de obra da BR 319-AM (trecho km 166 a 370) e obtenção de mais recursos". À Justiça Maria de Fátima confirmou que o assunto era "a questão ambiental da BR-319" e disse ter recebido "um documento" de Prosel. O funcionário do Dnit confirma o encontro, classificando-o como uma reunião de trabalho.

Diretor-geral
O outro integrante do Dnit que é citado nos grampos é o diretor-geral do órgão, Mauro Barbosa. Seu nome aparece em uma gravação em que o lobista Sérgio Sá -também preso na Operação Navalha- relata a Zuleido, em julho de 2006, uma reunião em que teria sido "acertado" o direcionamento de uma obra para a Gautama.
"[Sá] diz [a Zuleido] que conversaram também sobre a BR-020; diz que esteve, juntamente com Wellington [Dias, governador do Piauí], com Mauro, do Dnit, e diz que a delegação já ficou acertada; diz que a Engevix fará o projeto básico e o executivo, e [que] já acertou o esquema da obra "para vocês" da Gautama", afirma a transcrição. O diretor-geral do Dnit nega o encontro. (RANIER BRAGON E SILVIO NAVARRO)

Texto Anterior: Auditoria do governo põe cúpula do Dnit sob suspeita
Próximo Texto: Filósofo Marcos Nobre estréia na terça coluna semanal na Folha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.