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Grampo tem elogio de preso na Navalha a dirigente do Dnit
Em escuta de operação da PF, envolvido em esquema afirma que diretor de Infra-Estrutura Rodoviária é "básico para nós"
Já o coordenador-geral de Construção Rodoviária do órgão foi fotografado em encontro com a diretora comercial da Gautama
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além da suspeita levantada
pela auditoria do Ministério
dos Transportes, documentos
da Polícia Federal na Operação
Navalha, ainda inéditos, revelam que um dos diretores do
Dnit é classificado como "tudo
pra nós" por acusados de desfalcar os cofres públicos, enquanto outro foi fotografado
em encontro com a "número
dois" do esquema.
O integrante do Dnit elogiado é Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infra-Estrutura Rodoviária. O dirigente é descrito assim por Geraldo Magela Rocha,
preso sob suspeita de receber
propina em troca de lobby no
governo do Maranhão. "Hideraldo é o básico pra nós. Pra
nós, o Hideraldo é tudo."
A fala foi captada em fevereiro, por meio de escuta telefônica autorizada pela Justiça. Em
gravação do ano passado, Magela já havia elogiado Hideraldo Caron, dessa vez em conversa gravada com Zuleido Veras,
dono da empreiteira Gautama.
"Na última hora, teve um diretor que queria pedir vista, tava orientado por alguém. Mas o
Hideraldo foi muito objetivo.
Disse: "Isso já tá acertado com a
Dilma, já está acertado com o
governador, eu dei minha palavra, não vai tirar vista, não vai
tirar nada. Esse negócio está
aprovado, pronto e acabou.
Porque senão eu peço vista dos
outros'", diz Magela, no grampo captado pela PF.
Ele se referia a reunião da diretoria do Dnit na qual era discutido convênio do órgão com o
Maranhão para obras na BR-402 que beneficiariam a Gautama. "No dia 27/06/06 [um dia
após o grampo telefônico], o recurso do Convênio 564440 foi
devidamente empenhado e assinado pelo Dnit", diz a PF.
Apesar da suposta intimidade com o diretor do Dnit demonstrada por Magela nos
grampos, a Folha não localizou
no inquérito gravações de diálogos dele com Caron, que nega
ter sido procurado por Magela.
Já em relação ao coordenador-geral de Construção Rodoviária do Dnit, Luiz Munhoz
Prosel Júnior, há fotos suas no
inquérito. Referem-se a monitoramento sigiloso que a PF fez
de encontro que ele teve no dia
30 de março com a diretora comercial da Gautama, Maria de
Fátima Palmeira.
A PF relata que Prosel -indicado ao cargo pelo ex-ministro
Anderson Adauto- chegou a
um restaurante no Lago Sul,
área nobre de Brasília, em um
carro de propriedade da Sotecom (Sociedade Técnica de Engenharia e Construção). Após
se reunir com Fátima, deixou o
local no mesmo carro que trouxera a diretora da Gautama.
Segundo a PF, no encontro
foi tratada "resolução de problema relativo à licença ambiental para continuidade de
execução de obra da BR 319-AM (trecho km 166 a 370) e obtenção de mais recursos". À
Justiça Maria de Fátima confirmou que o assunto era "a
questão ambiental da BR-319"
e disse ter recebido "um documento" de Prosel. O funcionário do Dnit confirma o encontro, classificando-o como uma
reunião de trabalho.
Diretor-geral
O outro integrante do Dnit
que é citado nos grampos é o diretor-geral do órgão, Mauro
Barbosa. Seu nome aparece em
uma gravação em que o lobista
Sérgio Sá -também preso na
Operação Navalha- relata a
Zuleido, em julho de 2006, uma
reunião em que teria sido
"acertado" o direcionamento
de uma obra para a Gautama.
"[Sá] diz [a Zuleido] que conversaram também sobre a BR-020; diz que esteve, juntamente com Wellington [Dias, governador do Piauí], com Mauro, do Dnit, e diz que a delegação já ficou acertada; diz que a
Engevix fará o projeto básico e
o executivo, e [que] já acertou o
esquema da obra "para vocês"
da Gautama", afirma a transcrição. O diretor-geral do Dnit nega o encontro.
(RANIER BRAGON E
SILVIO NAVARRO)
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