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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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NA EUROPA

Em meio a tratamento cordial dos espanhóis, presidente diz que fará o "necessário, o possível e o impossível"

Lula pede que o julguem no fim do mandato

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Pode ter sido mera coincidência, mas no dia em que até um jornal espanhol publicou dados da pesquisa que mostra queda na popularidade do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para ser julgado apenas no final de seu período de quatro anos.
"Só peço para que as pessoas não me julguem, para o bem ou para o mal, com apenas seis meses de mandato, porque tenho quatro anos", afirmou, em entrevista coletiva no Palácio de la Moncloa, sede do governo espanhol.
A pergunta nem era sobre o assunto, mas o presidente aproveitou para pedir que os resultados de sua gestão só fossem "contabilizados no final do mandato".
Até lá, espera estar fazendo o impossível, conforme frase que repete uma e outra vez: "Vou começar fazendo o necessário, depois o possível e, quando menos esperarem, farei o impossível."
Motivos para exageros até que o presidente tinha, tal o cordialíssimo tratamento recebido do governo, do empresariado e do rei da Espanha. Ontem, segundo dia da visita de Estado à Espanha, foi também um dia de pompas.
Começaram cedo: às 10h10 (5h10 em Brasília), o presidente já estava descendo do Rolls Royce preto da Coroa espanhola para a tradicional cerimônia de deposição de flores ao pé do monumento em honra "a todos os que deram a vida pela Espanha".
Dali, Lula seguiu para a Plaza de la Villa, onde fica a prefeitura madrilena, para receber a chave -de ouro- de Madri. Ao descer do Rolls Royce, ouviu um solitário grito de "Lula, Lula" de algum brasileiro, que estava postado à entrada da praça.
O prefeito, Alberto Ruiz Gallardón, é do conservador PP (Partido Popular), mas bem que poderia pedir filiação ao PT brasileiro, pelo calor dos elogios à Lula.
Disse, primeiro, que as esperanças despertadas pela eleição de Lula "não serão frustradas", para, depois, emendar: "Permita-me dizer que, acima de eventuais diferenças ideológicas, somos muitos os que acreditamos compartilhar com o senhor a paixão por transformar a realidade quando esta é claramente injusta".
Na resposta, Lula fez o discurso protocolar de praxe, mas exagerou no final, ao aludir a chave de ouro recebida: "Tenho certeza de que as portas de Madri estão abertas para o povo brasileiro e de outros países".
Não é bem assim: a Espanha, como todos os países europeus, adota políticas muito restritivas para a imigração.
A manhã continuou com outra cerimônia tradicional: recepção pelo Congresso de Deputados, na sala da Comissão de Relações Internacionais (é férias, e o Parlamento está em recesso, motivo pelo qual nem todos os parlamentares foram à sessão).
Quando Lula começou a falar, em português -como sempre o faz-, os espanhóis presentes não quiseram fazer de conta que entendiam e recorreram aos fones de ouvido da tradução simultânea. Até Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente, usou-os, "para conferir a tradução".
Depois de reuniões com o atual primeiro-ministro, José María Aznar, e seu antecessor, Felipe González, as pompas terminaram no ato de despedida, iniciado às 18h38 (13h38 em Brasília), com o sol ainda impiedoso e um azul de oceano tomando todo o céu sobre o Palácio de El Pardo, a residência dos hóspedes de Estado.
Lula abraçou o rei Juan Carlos, com o qual os governadores Cássio Cunha Lima e Ronaldo Lessa fizeram questão de serem fotografados, e foi para o aeroporto, já sem o Rolls Royce.


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