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NA EUROPA
Em meio a tratamento cordial dos espanhóis, presidente diz que fará o "necessário, o possível e o impossível"
Lula pede que o julguem no fim do mandato
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Pode ter sido mera coincidência, mas no dia em que até um jornal espanhol publicou dados da
pesquisa que mostra queda na
popularidade do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para ser julgado apenas no final de seu período de quatro anos.
"Só peço para que as pessoas
não me julguem, para o bem ou
para o mal, com apenas seis meses
de mandato, porque tenho quatro
anos", afirmou, em entrevista coletiva no Palácio de la Moncloa,
sede do governo espanhol.
A pergunta nem era sobre o assunto, mas o presidente aproveitou para pedir que os resultados
de sua gestão só fossem "contabilizados no final do mandato".
Até lá, espera estar fazendo o
impossível, conforme frase que
repete uma e outra vez: "Vou começar fazendo o necessário, depois o possível e, quando menos
esperarem, farei o impossível."
Motivos para exageros até que o
presidente tinha, tal o cordialíssimo tratamento recebido do governo, do empresariado e do rei
da Espanha. Ontem, segundo dia
da visita de Estado à Espanha, foi
também um dia de pompas.
Começaram cedo: às 10h10
(5h10 em Brasília), o presidente já
estava descendo do Rolls Royce
preto da Coroa espanhola para a
tradicional cerimônia de deposição de flores ao pé do monumento em honra "a todos os que deram a vida pela Espanha".
Dali, Lula seguiu para a Plaza de
la Villa, onde fica a prefeitura madrilena, para receber a chave -de
ouro- de Madri. Ao descer do
Rolls Royce, ouviu um solitário
grito de "Lula, Lula" de algum
brasileiro, que estava postado à
entrada da praça.
O prefeito, Alberto Ruiz Gallardón, é do conservador PP (Partido Popular), mas bem que poderia pedir filiação ao PT brasileiro,
pelo calor dos elogios à Lula.
Disse, primeiro, que as esperanças despertadas pela eleição de
Lula "não serão frustradas", para,
depois, emendar: "Permita-me
dizer que, acima de eventuais diferenças ideológicas, somos muitos os que acreditamos compartilhar com o senhor a paixão por
transformar a realidade quando
esta é claramente injusta".
Na resposta, Lula fez o discurso
protocolar de praxe, mas exagerou no final, ao aludir a chave de
ouro recebida: "Tenho certeza de
que as portas de Madri estão abertas para o povo brasileiro e de outros países".
Não é bem assim: a Espanha,
como todos os países europeus,
adota políticas muito restritivas
para a imigração.
A manhã continuou com outra
cerimônia tradicional: recepção
pelo Congresso de Deputados, na
sala da Comissão de Relações Internacionais (é férias, e o Parlamento está em recesso, motivo
pelo qual nem todos os parlamentares foram à sessão).
Quando Lula começou a falar,
em português -como sempre o
faz-, os espanhóis presentes não
quiseram fazer de conta que entendiam e recorreram aos fones
de ouvido da tradução simultânea. Até Marco Aurélio Garcia,
assessor internacional do presidente, usou-os, "para conferir a
tradução".
Depois de reuniões com o atual
primeiro-ministro, José María
Aznar, e seu antecessor, Felipe
González, as pompas terminaram
no ato de despedida, iniciado às
18h38 (13h38 em Brasília), com o
sol ainda impiedoso e um azul de
oceano tomando todo o céu sobre
o Palácio de El Pardo, a residência
dos hóspedes de Estado.
Lula abraçou o rei Juan Carlos,
com o qual os governadores Cássio Cunha Lima e Ronaldo Lessa
fizeram questão de serem fotografados, e foi para o aeroporto, já
sem o Rolls Royce.
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