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MUDANÇA MINISTERIAL
"O povo, e não apenas o presidente, está impaciente, quer ver que existe uma equipe unida"
"Os incomodados podem sair", diz FHC
AUGUSTO GAZIR
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem
que seu novo ministério não terá
"brigas e futricas". "Naturalmente, os incomodados podem sempre se retirar", disse FHC.
Um dos objetivos principais da
troca de ministros foi reafirmar a
autoridade presidencial, questionada nas últimas semanas por
uma série de desavenças entre
seus aliados.
FHC explicitou essa preocupação no discurso de 30 minutos
que fez ao anunciar sua nova
equipe, no qual pregou um governo apoiado por partidos, e não dividido em "facções".
"O povo, e não apenas o presidente, está impaciente, quer ver
que existe (...) uma equipe unida,
sem divergências, sem ineficiência no atendimento à sociedade,
com coesão."
Uma disputa antiga no governo
-a que opõe a equipe econômica
e os defensores de uma política
mais agressiva voltada para o
crescimento- foi mencionada
por FHC.
O presidente disse que, sem estabilidade, o desenvolvimento só
beneficia os ricos. "No meu governo, não haverá condescendência, facilidade, tentativa de popularidade, populismo fácil que possa prejudicar o objetivo central de
crescimento duradouro que beneficie a maioria, os mais pobres."
"Mas também estabilidade, sem
desenvolvimento, não cria raízes.
Não cria na população a crença da
estabilidade como um valor. O
governo há de se empenhar para a
criação de condições de desenvolvimento econômico e social".
O presidente demorou três dias
para anunciar o novo ministério,
depois de pedir a renúncia coletiva de seus ministros na última terça-feira. Nesta semana, tucanos e
peemedebistas trocaram farpas e
disputaram espaço no novo ministério. Foi mantido o mesmo
número de ministros para cada
partido aliado (cinco do PSDB,
quatro do PFL e três do PMDB).
"Enganam-se os que pensam
que o presidente estaria com considerações de tal ou qual sorte para acomodar. O presidente só teve
um pensamento: tentar não errar
para corresponder aos anseios do
país", disse FHC.
A necessidade de conciliar os
diversos interesses de seus aliados
foi descrita assim pelo presidente:
"Não deixei de tomar em consideração que um governo democrático, eleito pelo povo, mas pelos
canais partidários, precisa de
apoio do Congresso. Mas o governo não é reflexo imediato das forças partidárias. O governo tem de
ser um instrumento de execução
de um programa e da vontade
presidencial".
Reformas e clamores
O presidente afirmou que o governo vai "se empenhar a fundo"
e ter uma "ação focalizada e contínua" para aprovar no Congresso
a reforma tributária, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as reformas
trabalhistas e dar continuidade à
reforma da Previdência.
Ele responsabilizou por essas
medidas os ministros Pedro Malan (Fazenda), Martus Tavares
(Orçamento), Francisco Dornelles (Trabalho) e Waldeck Ornélas
(Previdência), respectivamente.
O presidente afirmou que a velocidade das medidas na área social vai depender da aprovação
dessas reformas.
Em temas como reformas política e do Judiciário, a ação do Executivo, segundo FHC, será de
"apoio", não de "liderança".
FHC repetiu que ouve "o clamor das ruas", mas que toma decisões e assume responsabilidades. Segundo ele, é preciso transformar para se adaptar à nova ordem econômica, gerencial e política. Sem citar nomes, ele elogiou
os ministros e secretários que deixam o governo e disse que ficaria
"feliz" se fosse possível, em algum
momento, renomeá-los.
"Nenhuma consideração de ordem pessoal, de amizade ou partidária travou minha decisão. Ela
foi tomada tendo em vista o que
me parecia necessário para o governo ganhar maior efetividade e
velocidade."
FHC, durante o discurso, resumiu as mudanças na estrutura
dos ministérios e os objetivos:
1) Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior: vai passar a controlar
a Camex (Câmara de Comércio
Exterior, hoje no Planalto) e terá
de ser uma "alavanca" para a
reestruturação produtiva e a exportação. Assuntos relativos a café, açúcar e álcool passam para o
Ministério da Agricultura. O
BNDES, segundo FHC, terá de ganhar rapidez para apoiar a pequena e a média empresa e a exportação. Para o presidente, a indicação de Clóvis Carvalho vai permitir a integração do ministério no
Plano Plurianual de desenvolvimento e com a equipe econômica;
2) Ministério da Agricultura: segundo FHC, vai se empenhar com
o Itamaraty e o Desenvolvimento
nas negociações da Alca, com a
União Européia e na Rodada do
Milênio. Para o presidente, o nome de Pratini de Moraes é significativo na importância do órgão
para o aumento das exportações;
3) Casa Civil: com a indicação
de Pedro Parente, estará entrosada com a equipe econômica para
colocar em marcha o Plano Plurianual, classificado por FHC como um "projeto nacional" para a
infra-estrutura e a área social. A
Casa Civil continua com o trabalho de coordenação jurídica;
4) Ministério da Integração Nacional: objetivo é promover o
crescimento equilibrado, dando
atenção especial às regiões amazônica, Nordeste e Centro-Oeste.
"Tenho de há muito essa idéia.
Não se trata de inchar uma secretaria existente, trata-se de enfrentar um desafio", disse FHC. O ministério vai coordenar os órgãos
de desenvolvimento regional e
gerir os fundos constitucionais.
Segundo o presidente, essas instituições regionais precisam ser repensadas. "Não se trata de um ministério para acomodar interesses
políticos." FHC afirmou que para
que "o país se integre" é necessário, além do esforço governamental, a mobilização da sociedade;
5) Secretaria Geral da Presidência: Vai cuidar da articulação política com os governadores e com o
Congresso, em harmonia com o
presidente e com o ministro das
Comunicações, Pimenta da Veiga, que, segundo FHC, continua
também com a função. "(A articulação) não pode ser vista em
termos menores, simplesmente
de atendimento a esses ou aqueles", disse FHC. FHC dá posse coletiva aos novos ministros na segunda-feira, às 12h.
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