São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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Diretora de entidade vai pedir interpelação

DA AGÊNCIA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A diretora regional da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais) Silvia Camurça quer explicações do Exército sobre a espionagem de ONGs que atuam na Amazônia, revelada ontem pela Folha.
Ela vai pedir ao presidente da entidade, Sérgio Haddad, que interpele judicialmente o Exército para ter acesso aos relatórios secretos. Haddad considerou "estranho" o monitoramento das ONGs, mas o atribui ao pensamento de um grupo de oficiais do Exército e não da instituição.
"Acreditar no contrário é admitir a possibilidade de regressarmos a um período obscuro da história recente", disse, referindo-se ao regime militar (1964-1985). Para ele, a ação das ONGs "é fruto da saúde democrática do Brasil".
As entidades representadas pela Abong defendem a tese da soberania brasileira com relação a Amazônia, segundo Haddad. "A Amazônia é um assunto que diz respeito somente ao governo e à sociedade do Brasil", afirmou.
Para a ambientalista Marluze Santos, da Abong no Maranhão, a espionagem é "autoritária". Ela diz que é o governo brasileiro que põe em risco a soberania em acordos como o firmado com os Estados Unidos para uso da base de Alcântara (MA). Pelo acordo, o Brasil não pode investir o dinheiro obtido com a cessão da base no desenvolvimento de um veículo lançador de satélites -os EUA temem eventual uso militar.
O ativista James Cavallaro, diretor da ONG Centro de Justiça Global, tachou a espionagem de "um absurdo, algo que não pode existir num Estado democrático".
Segundo Cavallaro, as ONGs não representam ameaça alguma à região. "Só militar é capaz desse tipo de raciocínio", disse.
O coordenador do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário, ironizou a ação do Exército. "Eles poderiam economizar tempo e nos procurar. Nossas contas e atividades são públicas", disse. Segundo Adário, os dados coletados pelos ativistas são repassados para órgãos como o Ibama.


Colaborou a Sucursal do Rio



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