São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Ovídio de Ângelis rompe com PMDB "do contra" ao saber que Iris Rezende articulava sua demissão do governo

FHC veta saída de ministro e atinge Itamar

Alan Marques/Folha Imagem
Ovídio de Ângelis, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso abortou ontem a saída de um dos ministros do PMDB de seu governo e enfraqueceu ainda mais a posição dos peemedebistas que defendem a candidatura do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, a presidente da República.
O ministro que estaria para sair era Ovídio de Ângelis, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Ligado ao PMDB de Goiás, sua saída estava planejada para dar fôlego a um dos candidatos a presidente nacional da sigla, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) -que precisava demonstrar independência ao público interno do partido.
Maguito vai disputar a presidência do PMDB contra o deputado federal Michel Temer (SP), na convenção nacional do partido, em 9 de setembro. Michel representa a ala governista da sigla.
Sem consultar Ovídio, os peemedebistas goianos anunciaram a sua saída do governo. Ovídio não concordou por dois motivos que relatou anteontem à noite ao principal líder do PMDB de Goiás, o senador Iris Rezende, numa longa e ríspida conversa, segundo a Folha apurou.
Primeiro, Ovídio reclamou que não foi consultado sobre a conveniência da sua saída do governo. Chegou a dizer a interlocutores que se sentia apenas um "boneco" ou um "fantoche". Segundo, ele se considerou traído. Anteontem, Iris Rezende passou o dia inteiro tentando falar com FHC sobre a eventual saída do secretário de Desenvolvimento Urbano.
Como não conseguia, pediu ajuda ao próprio Ovídio para marcar a audiência, sem dizer qual era o objetivo da conversa. Quando Ovídio soube que quase ajudou Iris a tramar sua demissão, ficou obviamente desapontado com o senador goiano.
Na prática, Ovídio decidiu romper com Iris e Maguito. Ontem de manhã, telefonou para o presidente da República, que ainda não havia recebido nem falado ao telefone com Iris. Depois de ouvir um relato de Ovídio, FHC agradeceu pela lealdade do aliado. Disse um curto "vamos trabalhar", sinalizando que o secretário permaneceria no governo. Uma das funções de Ovídio nos próximos dias é cabalar votos de convencionais do PMDB a favor da candidatura do deputado Michel Temer.
Ontem de manhã, Ovídio telefonou para para Michel Temer e comunicou-lhe sobre a conversa com FHC. Em seguida, entrou em contato com os oito deputados federais que o PMDB tem em Goiás. Conseguiu a solidariedade de cinco deles para a sua permanência no governo federal.
O resultado prático da permanência de Ovídio no governo FHC é o enfraquecimento de Itamar Franco dentro da sigla. O mineiro depende do sucesso da candidatura de Maguito Vilela para se viabilizar como presidenciável peemedebista em 2002.
Maguito contava com a saída de Ovídio para demonstrar que sua candidatura era para valer. Para piorar as coisas, Ovídio não apenas se recusou a sair como está trabalhando para conquistar apoios de convencionais no país inteiro contra Maguito.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano é responsável por pequenas obras de infra-estrutura, como asfaltamento de ruas. São pedidos de pequeno valor, mas que redem muitos votos para deputados e senadores.
Durante a operação para abafar a CPI da corrupção, no primeiro semestre, Ovídio de Ângelis foi peça importante para convencer deputados a não assinarem o requerimento da investigação.



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