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ELEIÇÕES 2008/SÃO PAULO
Comitê de vereadora distribui cesta básica
Casal diz ser da periferia e recebeu alimentos e material de campanha da candidata à reeleição Myryam Athie, do PDT
Beneficiados pelo auxílio trabalham para o candidato a vereador Vicente Viscome, que disputa votos com Athie na região da zona leste
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao longo da semana, a Folha
registrou cenas da guerra particular travada pelos candidatos
a uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo. Longe da fiscalização, vereadores aliciam
cabos eleitorais de concorrentes e trocam cestas básicas por
promessas de votos.
Às 16h10 da última quinta-feira, Robson Nogueira e Elaine Cristina foram ao escritório
político da vereadora Myryam
Athie (PDT), no Tatuapé, zona
leste. O local, transformado em
comitê de campanha da candidata à reeleição, abriga cerca de
20 funcionários.
Nogueira e Cristina se apresentaram a uma mulher chamada Sandra Almeida, contaram que vinham da periferia e
ouviram que a vereadora poderia ajudá-los com uma cesta básica. Saíram dali com duas cestas básicas, mas só depois de
preencherem um formulário e
receberem orientação para levar ao comitê mais 50 pessoas.
Sandra, segundo a dupla,
também lhes prometeu emprego e forneceu o e-mail para que
enviassem currículos. "Ela falou para ele voltar na semana
que vem para buscar outra
[cesta] e eu terei direito a outra
no final do mês, caso a gente
queira trabalhar como voluntário", explicou Cristina, mostrando o material de propaganda entregue pela mulher no local: cerca de 2.000 santinhos,
50 adesivos de carro e informativos sobre as realizações de
Athie em seus três mandatos.
Cristina contou ainda que,
para conseguir a cesta básica,
não precisou apresentar nenhum documento ou dar mais
explicações. Recebeu ainda o
cartão de visitas de Myryam
Athie com o brasão da Câmara
Municipal. Sandra não foi encontrada pela reportagem. A
assessoria de imprensa da vereadora disse desconhecer a
distribuição de cestas básicas.
Denúncia
Cristina e Nogueira são nomes fictícios. Trata-se de dois
jovens a serviço do ex-vereador
Vicente Viscome, condenado
em 1999 à prisão por envolvimento na máfia dos fiscais. Viscome cumpriu quatro anos e
meio da pena de 16 anos, extinta no ano passado. Agora quer
voltar à Câmara Municipal (leia
entrevista ao lado).
"Queríamos mostrar que essa vereadora troca cestas básicas por votos", explica Viscome. Segundo ele, a distribuição
é feita de maneira discreta para
burlar a fiscalização.
A cesta distribuída pelo comitê de Athie é da empresa
Agro Comercial da Vargem
Ltda. e tinha 5kg de arroz, 2kg
de feijão, 800g de leite em pó,
1kg de açúcar, 900ml de óleo de
soja, 500g de polpa de tomate,
500g de macarrão, 1kg de sal,
duas latas de sardinha e 500g
de farinha de mandioca.
No dia seguinte ao flagrante,
a reportagem voltou ao comitê
de Athie e questionou os funcionários. Sandra não estava.
Quem atendeu foi Celso Lopes,
que se identificou como assessor parlamentar de Athie. "Essas cestas são um benefício para os 12 motoristas que trabalham aqui", justificou.
Em seguida, mostrou um
quarto nos fundos do imóvel
onde estavam armazenadas
mais oito cestas básicas.
"São poucas, o que prova que
são para nossos motoristas",
concluiu Lopes. Segundo Vicente Viscome, centenas de
cestas são armazenadas em
uma casa perto do comitê.
A Folha encontrou o imóvel
fechado, mas vizinhos confirmaram a movimentação diária
de funcionários da campanha
de Athie. Uma moradora apontou a casa da mãe de Athie, do
outro lado da rua. A assessoria
de imprensa da vereadora desautorizou as declarações de
Lopes e disse que o comitê tem
apenas três motoristas contratados e mais três cedidos por
empresários amigos.
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