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SOB INVESTIGAÇÃO
Inversora Rineos, uma empresa de fachada, investiu US$ 7 milhões na empresa do cunhado de Maluf
Frangogate tem conexão no Uruguai
MARCIO AITH
enviado especial ao Uruguai
IGOR GIELOW
da Reportagem Local
A Inversora
Rineos S/A,
companhia uruguaia que investiu US$ 7 milhões na distribuidora de frango A D'Oro Alimentícia entre 1991 e 1996 sem obter retorno financeiro, é uma empresa de fachada.
A Folha apurou que a Rineos
uruguaia não existe fisicamente e
foi fundada por um escritório de
contabilidade especializado em
criar e vender empresas por cerca
de US$ 1.500.
Durante quase sete anos, ela teve
um presidente que nega ter ocupado o cargo e um capital declarado
insuficiente (US$ 300 mil) para investir o que investiu no Brasil.
Em 10 de julho passado, quando
o Frangogate já ocupava o noticiário brasileiro, mudou seu capital
para US$ 5 milhões.
A A D'Oro é a empresa de Fuad
Lutfalla, cunhado de Paulo Maluf,
que está sendo acusada de favorecimento na venda de frangos à
Prefeitura de São Paulo entre agosto de 1996 e fevereiro deste ano.
O Ministério Público também
investiga a A D'Oro por ter comprado frangos vivos da Obelisco,
empresa da mulher do então prefeito paulistano, Sylvia Maluf.
A Inversora Rineos detém 46%
do capital da A D'Oro. Segundo
Caio Lutfalla, filho de Fuad, diretor da A D'Oro e da subsidiária
brasileira da Rineos, a Inversora
Rineos pertence a "investidores
uruguaios". Há outras versões para isso (leia texto nesta página).
Receptora
Durante cinco dias, a reportagem conversou com pessoas envolvidas em sua criação e constatou indícios de que ela é receptora
de dinheiro vindo do exterior.
Constatou também que, diferentemente do que disse Caio Lutfalla
à Folha na semana retrasada, há
ligações entre os envolvidos com a
criação da Rineos uruguaia e a família da mulher de Paulo Maluf.
A Rineos foi fundada em 1985
por um escritório de contabilidade, não operando até 1990. Em seu
endereço declarado, plaza Independencia, 811-térreo, Montevidéu, funciona o escritório de advocacia especializado em clientes
estrangeiros Guyer & Regules.
O advogado brasileiro Oscar
Martin Renaux Niemeyer assumiu
a presidência no fim de 1990. Niemeyer nega conhecer os Lutfalla.
"Conheço só de nome", disse à
Folha na sexta-feira retrasada.
Em 13 de dezembro de 1989, porém, o escritório de Niemeyer assessorou a criação da Quimicorp
Indústria e Comércio -primeira
razão social da futura A D'Oro Alimentícia. "Só dei vistas no processo", alegou, ao ser questionado sobre o fato na quinta-feira passada.
Em 17 de dezembro de 1990, Niemeyer passou uma procuração
ampla para seu então sócio André
de Vivo -amigo e colega de escola
de Caio Lutfalla, segundo o próprio. Niemeyer dividiu o escritório
de advocacia com de Vivo e seu
pai, Livio de Vivo, até 1991.
Essa procuração foi registrada
no Uruguai e no 6º Cartório de Notas de São Paulo, por se tratar de
uma empresa que atua no país.
Nela, Niemeyer aparece como
"presidente da diretoria".
Em 26 de dezembro de 90, a procuradora da Rineos, María Sara
Pérez, afirma ao Registro Público
uruguaio que o Niemeyer é o presidente da empresa.
Negativa
"Saí da empresa em fevereiro de
1991. A ata que me desligou saiu
um pouco depois, em 21 de junho
de 1991, e me sucedeu André de Vivo", afirmou Niemeyer.
Não existe registro público da
saída de Niemeyer da empresa. O
nome de André de Vivo também
não aparece nos documentos públicos uruguaios.
A única alteração do contrato social da Rineos ocorreu no mês passado, quando o escândalo do
Frangogate já ocupava as páginas
dos jornais brasileiros.
No dia 10 de julho, Nicolas Juan
-justamente do escritório Guyer
& Regules, que fica no endereço
oficial da Rineos desde 1990-
aparece como sócio em registro de
aumento no capital da empresa.
Em 1990, a Rineos foi fundada
com US$ 300 mil. No dia 10 de julho, aumentou para US$ 5 milhões
-exatamente o valor que Caio
Lutfalla afirmou à Folha ter entrado na A D'Oro nos últimos anos
via Uruguai.
Um favor
A Folha visitou Juan na terça-feira passada. "Podem escrever o
que quiserem", disse, antes de expulsar a reportagem do prédio.
Em janeiro de 1991, quando a A
D'Oro ainda se chamava Alicorp
(sua segunda razão social), a Rineos assumiu 20% do capital da
empresa -que somava o equivalente a R$ 14.083, segundo tabela
de conversão do Tribunal de Justiça de São Paulo para pagamento
de precatórios (dívidas judiciais).
Quatro anos depois, esse capital
somava R$ 5,5 milhões -sendo
46% da Rineos. Em 12 de dezembro de 1995, a Rineos uruguaia
criou a Rineos Empreendimentos
Ltda. Sócio minoritário com 20%
das ações, Caio Lutfalla passou a
assinar pela empresa.
"Foi só um favor que fiz a eles",
disse Lutfalla. Dezesseis dias depois, a Rineos uruguaia transferiu
suas cotas na A D'Oro para a Rineos brasileira. Caio Lutfalla passou a controlar 66% das ações
(20% seus na A D'Oro mais os 46%
da Rineos).
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