São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / LEGISLATIVO

Em campanha rica e reservada, Palocci banca dobradinhas

Arrecadação expressiva permite ao petista custear atos de campanha de cerca de 100 candidatos a deputado estadual

Ex-ministro, com apoio de empresários e do grupo de Marta Suplicy, busca votos no ABC, Campinas, Alto Tietê, Sorocaba e na capital

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A fama de ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva e seu temperamento afável tem rendido a Antonio Palocci receptividade eleitoral no Estado de São Paulo em dois segmentos: nas classes populares, pela baixa inflação do período, e em importantes setores empresariais.
Mas é o trânsito de Palocci na cúpula da economia que lhe garante uma das maiores arrecadações declaradas à Justiça Eleitoral (R$ 667,5 mil até o início de setembro) e fôlego para fazer uma campanha com poderes inigualáveis às de outros petistas no Estado.
Afastado do governo Lula por seu suposto envolvimento na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Palocci deve se eleger deputado federal (isso, no PT, é fato consumado) e voltar à Câmara com foro privilegiado. Ele foi indiciado pela Polícia Federal.
Eleito, será importante aliado de Lula num segundo mandato para manter certa ortodoxia na política econômica. Não por acaso a eleição de Palocci incomoda setores do PT.
A Folha passou uma semana tentando acompanhar atividades de Palocci e fazendo contatos com dirigentes petistas, candidatos, aliados e inimigos do ex-ministro. A agenda da campanha é oculta. Descobre-se por onde Palocci passou algum tempo depois. Os correligionários estimam, sob reserva, que Palocci faça dobradas (campanha em conjunto) com cerca de 100 candidatos a deputado estadual. Normalmente, banca todos os custos.
Um candidato disse à Folha que o custo de uma campanha expressiva beira R$ 1 milhão.
Disponibiliza pessoal para trabalhar nas campanhas, kombis, peruas, materiais. Tem contratos de telemarketing, comitês espalhados em regiões diferentes do Estado, e "profissionais especializados" atuando na campanha -prefeitos e vereadores. Na capital, o seu comitê fica num bairro nobre, Jardim Paulistano. A estimativa de mercado para o aluguel do imóvel é R$ 20 mil.
Palocci não sai pelas ruas. Faz reuniões reservadas, conversa com empresários, prefeitos e grupos de militantes. Ele, que tradicionalmente tinha seu reduto eleitoral em Ribeirão Preto, expandiu os horizontes. Faz campanha no ABC Paulista, Sorocaba, Campinas, Alto Tietê, na capital e na Grande São Paulo. "Tem material dele no interior todo", revela um petista impressionado.

Grupo de Marta
Na capital e Grande SP, conta com o apoio de políticos ligados à ex-prefeita Marta Suplicy. Sob a condição de ter a identidade preservada, um candidato a deputado estadual revelou como foi sondado pelos aliados de Palocci. Um dos interlocutores é Branislav Kontic, ex-secretário de Marta e ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de Guarulhos. Ele ofereceu ao candidato uma dobrada arcando com todos os custos: contratação de pessoas, impressão de material e toda a propaganda visual. Kontic foi procurado pela Folha, mas não localizado.
Uma parceria que chama a atenção com Palocci na capital é a do deputado Adriano Diogo, ex-secretário de Marta. Procurado, a assessoria dele disse que ele faz dobrada com vários candidatos e que Palocci arca com metade dos custos.
Além da nova atuação na capital, Palocci dedica atenção especial ao ABC. Há semanas, segundo relatos de candidatos, esteve em Diadema. Participou de uma reunião na Papaiz. Circulou em outras duas empresas. Uma delas é a Paranoá. Numa fábrica de autopeças, um empresário defendeu Palocci.
Na última quinta-feira, a Folha presenciou panfletagem da campanha de Palocci na porta da Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo. Uma kombi chegou ao local. Os panfletos pediam votos em Palocci e Mário Reali, para deputado estadual. O coordenador da campanha no ABC, Carlos Augusto César, o Cafu, disse à Folha que Palocci tem sete dobradas na região. Diretor do Sindicato dos Químicos do ABC, Cafu diz que não recebe salário da campanha. Atua como militante.


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