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ELEIÇÕES 2006 / LEGISLATIVO
Em campanha rica e reservada, Palocci banca dobradinhas
Arrecadação expressiva permite ao petista custear atos de campanha de cerca de 100 candidatos a deputado estadual
Ex-ministro, com apoio de empresários e do grupo de Marta Suplicy, busca votos no ABC, Campinas, Alto Tietê, Sorocaba e na capital
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A fama de ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio
Lula da Silva e seu temperamento afável tem rendido a Antonio Palocci receptividade
eleitoral no Estado de São Paulo em dois segmentos: nas classes populares, pela baixa inflação do período, e em importantes setores empresariais.
Mas é o trânsito de Palocci na
cúpula da economia que lhe garante uma das maiores arrecadações declaradas à Justiça
Eleitoral (R$ 667,5 mil até o
início de setembro) e fôlego para fazer uma campanha com
poderes inigualáveis às de outros petistas no Estado.
Afastado do governo Lula por
seu suposto envolvimento na
violação do sigilo bancário do
caseiro Francenildo Costa, Palocci deve se eleger deputado
federal (isso, no PT, é fato consumado) e voltar à Câmara com
foro privilegiado. Ele foi indiciado pela Polícia Federal.
Eleito, será importante aliado de Lula num segundo mandato para manter certa ortodoxia na política econômica. Não
por acaso a eleição de Palocci
incomoda setores do PT.
A Folha passou uma semana
tentando acompanhar atividades de Palocci e fazendo contatos com dirigentes petistas,
candidatos, aliados e inimigos
do ex-ministro. A agenda da
campanha é oculta. Descobre-se por onde Palocci passou algum tempo depois. Os correligionários estimam, sob reserva, que Palocci faça dobradas
(campanha em conjunto) com
cerca de 100 candidatos a deputado estadual. Normalmente, banca todos os custos.
Um candidato disse à Folha
que o custo de uma campanha
expressiva beira R$ 1 milhão.
Disponibiliza pessoal para
trabalhar nas campanhas,
kombis, peruas, materiais. Tem
contratos de telemarketing, comitês espalhados em regiões
diferentes do Estado, e "profissionais especializados" atuando na campanha -prefeitos e
vereadores. Na capital, o seu
comitê fica num bairro nobre,
Jardim Paulistano. A estimativa de mercado para o aluguel
do imóvel é R$ 20 mil.
Palocci não sai pelas ruas.
Faz reuniões reservadas, conversa com empresários, prefeitos e grupos de militantes. Ele,
que tradicionalmente tinha seu
reduto eleitoral em Ribeirão
Preto, expandiu os horizontes.
Faz campanha no ABC Paulista, Sorocaba, Campinas, Alto
Tietê, na capital e na Grande
São Paulo. "Tem material dele
no interior todo", revela um
petista impressionado.
Grupo de Marta
Na capital e Grande SP, conta
com o apoio de políticos ligados
à ex-prefeita Marta Suplicy.
Sob a condição de ter a identidade preservada, um candidato
a deputado estadual revelou como foi sondado pelos aliados de
Palocci. Um dos interlocutores
é Branislav Kontic, ex-secretário de Marta e ex-secretário de
Desenvolvimento Urbano de
Guarulhos. Ele ofereceu ao
candidato uma dobrada arcando com todos os custos: contratação de pessoas, impressão de
material e toda a propaganda
visual. Kontic foi procurado pela Folha, mas não localizado.
Uma parceria que chama a
atenção com Palocci na capital
é a do deputado Adriano Diogo,
ex-secretário de Marta. Procurado, a assessoria dele disse
que ele faz dobrada com vários
candidatos e que Palocci arca
com metade dos custos.
Além da nova atuação na capital, Palocci dedica atenção
especial ao ABC. Há semanas,
segundo relatos de candidatos,
esteve em Diadema. Participou
de uma reunião na Papaiz. Circulou em outras duas empresas. Uma delas é a Paranoá. Numa fábrica de autopeças, um
empresário defendeu Palocci.
Na última quinta-feira, a Folha presenciou panfletagem da
campanha de Palocci na porta
da Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo. Uma kombi
chegou ao local. Os panfletos
pediam votos em Palocci e Mário Reali, para deputado estadual. O coordenador da campanha no ABC, Carlos Augusto
César, o Cafu, disse à Folha que
Palocci tem sete dobradas na
região. Diretor do Sindicato
dos Químicos do ABC, Cafu diz
que não recebe salário da campanha. Atua como militante.
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