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CELSO PINTO
A recuperação da balança
Antes da desvalorização cambial, havia um certo consenso de
que o real estava sobrevalorizado
em algo entre 15% e 25%. Desde
janeiro, a desvalorização real,
acima da inflação, já chegou em
torno de 50%, e a balança comercial continua no vermelho.
Será preciso uma desvalorização ainda maior para que os resultados melhorem?
Tudo indica que não. Apesar da
impressão de que a balança comercial não tem melhorado, os
resultados têm sido cada vez mais
animadores.
Os argumentos que justificam
as dificuldades na exportação são
conhecidos. Os preços dos principais produtos de exportação do
país caíram muito neste ano, enquanto o preço das importações
subiu.
Os termos de relação de troca,
que é a soma desses dois efeitos,
caíram 18,6% nos 12 meses encerrados em setembro, segundo a
Funcex. É o choque externo adverso mais violento desde o início
dos anos 80. Se os preços de exportação e importação tivessem ficado nos níveis que estavam em dezembro do ano passado, a balança comercial teria acumulado,
até setembro, um superávit de
US$ 6,5 bilhões e não um déficit
de US$ 767 milhões.
Do lado da quantidade exportada, contudo, as exportações têm
melhorado consistentemente.
Comparando trimestres deste
ano com os mesmos trimestres de
98, o quantum exportado saiu de
negativo em 3,5% no primeiro trimestre para positivo em 2,1% no
segundo e 5,8% no terceiro.
Os preços tiveram um comportamento menos regular: as quedas foram de 12,2% no primeiro
trimestre, 13,5% no segundo e
11,7% no terceiro. Graças à reação do quantum, contudo, a queda no valor exportado desacelerou: de 15,6% no primeiro trimestre para 11,8% no segundo e 6,8%
no terceiro.
Nesse período, o quantum subiu
muito fortemente no caso dos semimanufaturados: 9,5%; 19,3% e
12,5%. E reagiu muito no caso dos
manufaturados: passou de uma
queda de 14,2% no primeiro trimestre e de 1,5% no segundo para
um aumento de 4,7% no terceiro.
A queda no preço de venda dos
manufaturados cresceu (5,4%;
9,9% e 11,3%). A Funcex explica
pelo repasse de parte dos ganhos
dos exportadores com a desvalorização para os importadores.
No caso dos básicos, o aumento
do quantum se concentrou no
primeiro trimestre (13,1%), seguido por aumento de 0,2% no segundo e 3,1% no terceiro. A boa
notícia é a nítida redução no ritmo de queda dos preços: 20,1% no
primeiro trimestre, 16,5% no segundo e 12,1% no terceiro.
Também do lado das importações existe uma boa notícia. No
segundo trimestre, parecia que a
tendência era de aumento no
quantum, em função de a economia estar crescendo mais do que o
esperado.
No terceiro trimestre, isso não se
confirmou. No primeiro trimestre
a queda foi de 24,3%, no segundo
de 18,3% e no terceiro de 22,8%.
Isso fez com que a queda no valor
das importações aumentasse de
13,2% no segundo trimestre para
16,6% no terceiro.
Uma análise do banco JP Morgan adiciona outros argumentos.
A tese é que as exportações brasileiras estão seguindo o padrão
"J", onde há queda no valor, nos
meses pós-desvalorização (até
por descontos em dólares), mas
seguida de uma forte recuperação
na frente.
O banco prevê uma recuperação nos preços das commodities.
Olhando os ciclos econômicos dos
países da OCDE, em sete períodos
desde os anos 70, em média, a
queda dos preços, em estágios
comparáveis ao atual, foi de 4,4%
(dessa vez é de 3,4%), mas seguida por aumentos de 8,5% no ano
seguinte e 26,5% ao final de dois
anos.
A experiência de outras desvalorizações mostra que a quantidade exportada tende a crescer
muito nos dois anos seguintes ao
reajuste. Isso ajudará as exportações, mesmo que os preços se recuperem com mais lentidão. Além
disso, os parceiros brasileiros,
tanto na América Latina quanto
na Europa e na Ásia, vão estar em
melhor situação econômica no
próximo ano.
Do lado das importações, embora o banco espere um aumento
de 3% na demanda doméstica
(de indivíduos e empresas) no
próximo ano, comparado a zero
neste ano, o padrão histórico
mostra que o volume importado é
muito sensível ao câmbio. Portanto não se deve esperar nada
explosivo.
O banco estima um déficit na
balança comercial de US$ 1,8 bilhão este ano, seguido por um superávit de US$ 4,1 bilhões no próximo. Não vê nenhuma necessidade de maior desvalorização do
real. Ao contrário, imagina alguma valorização na medida em
que as contas externas melhorarem.
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