São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÍDIA

Fala de Regina Duarte gera reação, divide artistas e leva PT a usar Paloma Duarte na TV

Com atrizes, Serra e Lula travam 'duelo do medo'

LAURA MATTOS
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa eleitoral do PT de ontem à noite na TV usou a atriz Paloma Duarte, da Globo, para responder ao depoimento de sua colega de emissora, Regina Duarte, que, desde segunda-feira, aparece na propaganda de Serra afirmando ter "medo" de um eventual governo petista.
Paloma disse que, ao ver Regina no horário tucano, sentiu-se "desrespeitada como eleitora". "Eu é que procurei a campanha do Lula e decidi vir aqui [na TV] para dizer como estou chocada com o terrorismo e o uso do medo nas eleições presidenciais do meu país". Referindo-se a Serra, acrescentou que "um candidato que precisa apavorar a população não merece ser presidente".
Imediatamente em seguida, entrou no ar o programa do tucano, em que a candidata a vice, Rita Camata, defendia Regina Duarte.
Após começar a aparecer no horário de Serra, Regina entrou em um verdadeiro fogo cruzado. Petistas a acusam de ser "medrosa" e "patrulhar" os votos. Tucanos a aplaudem por ser "corajosa" e enfrentar o "patrulhamento ideológico" da classe artística. A atriz não pára de receber e-mails e telefonemas. A maioria, segundo sua assessoria, com críticas.
Entre as mensagens, há uma carta de João Felício, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que apóia Lula.
Preocupado com a influência das palavras da atriz entre os eleitores, o PT quer transformar o lançamento do programa de cultura de Lula, na segunda, no Rio, numa espécie de resposta. A idéia é reunir artistas em apoio ao petista, no Canecão, e levar as imagens ao horário eleitoral.
A estratégia é sugerir ao eleitor que as palavras da atriz fazem parte de um "clima de terrorismo". "O depoimento teve repercussão negativa não pelo fato de ela apoiar Serra. Mas por ter feito coro a especuladores", disse Stepan Nercessian, presidente do Sindicato dos Atores do Rio.
O ator Raul Cortez, que organizou jantar de apoio a Serra, defendeu a atriz. "Regina tem o direito de achar o que quer para o país."
Para ele, o jantar em sua casa "não vingou" porque as pessoas "têm medo de dizer o que pensam e isso é um cacoete da ditadura".
Nana Caymmi, que gravou jingles e depoimento para Serra, disse que criticar sua atitude é uma "cretinice". "Tem muito artista que é uma farofada de merda. Eu, se fosse a Regina, mandava todos para a porra. Isso mostra um país racista, quase fascista." Nana disse que também foi condenada quando aderiu à campanha.
Chico Buarque, que participou do programa do PT na TV, destoou dos que apóiam Lula e também defendeu a atriz: "Ela tem direito de falar o que quiser".
Paloma Duarte -que, apesar do sobrenome, não é parente de Regina- disse à Folha que o problema não foi a participação da colega, mas "o clima de terrorismo". "O Serra é desagregador. É dele que eu tenho medo", disse.
Ontem, a propaganda tucana subiu o tom dos ataques a Lula. Continuou a bater na tecla de que o petista não quer debater com Serra e comparou Lula a um sabonete. "Quando perguntam o que ele pensa sobre certos assuntos, ele não diz, escorrega". O programa questionou o relacionamento de Lula com a CUT e o MST, afirmando que "agora ele só mostra os empresários que o apóiam".


Texto Anterior: Outro Lado: Autorização foi legal, diz secretária
Próximo Texto: PT critica atriz e PSDB defende o depoimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.