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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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Petista chama Kirchner de irmão e companheiro

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O mal-estar que houve no governo argentino pelo fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido reticente em apoiar o efêmero calote da Argentina no Fundo Monetário Internacional ficou soterrado ontem sob uma pilha de grandiloquentes juras de amor de parte a parte.
Lula e Néstor Kirchner haviam acabado de assinar os atos oficiais que marcaram a visita do brasileiro, no Salão Branco da Casa Rosada, quando o argentino foi ao pódio para iniciar o seu discurso com um "querido amigo Lula".
Lula, na sua vez, foi bem mais afetuoso. Tirou do baú das recordações frase que usava nas assembléias sindicais: "Nem todo irmão é companheiro, mas todo companheiro será um grande irmão".
Aí, voltando-se para Kirchner, que ouvia a tradução simultânea de um intérprete postado às suas costas, disparou: "Quero que você saiba, presidente Kirchner, que tenho em você um parceiro e, mais do que um parceiro, um irmão e, mais do que um irmão, um companheiro, para que possamos fazer o nosso povo andar de cabeça erguida e merecer o respeito a que temos direito".
A frase pode parecer exagerada, mas a visita de Lula foi, ontem pelo menos, toda ela marcada por esse tom fraterno em relação à Argentina, ao presidente argentino e à integração entre os dois países.
"Quero dizer ao presidente Kirchner que essa integração de corpo e alma [...] é vista por mim como uma das coisas principais que podem aparecer nos meus quatro anos de mandato", disse Lula, entre outras tantas louvações à integração. Kirchner foi mais contido, embora não tenha deixado de afirmar que "aposta seriamente na integração com o Brasil, com o Mercosul e com a América do Sul".
Ambos se referiram à necessidade de deixar de lado "pequenas disputas" (Kirchner) e "coisas menores" (Lula).
O presidente brasileiro, no discurso que pronunciou à tarde no Congresso argentino, cuidou de afastar históricos receios argentinos quanto à liderança do Brasil na América do Sul.
Disse que queria falar de uma "parceria em que não haja lugar para disputas pela liderança".
No primeiro discurso, Lula mencionou viagens anteriores a Buenos Aires e contou que já participou de marchas das Mães da Praça de Maio, que lutam contra as violações aos direitos humanos praticadas pela ditadura do período 1976-83. (CLÓVIS ROSSI)

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