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Petista chama Kirchner de irmão e companheiro
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O mal-estar que houve no governo argentino pelo fato de o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido reticente em apoiar o
efêmero calote da Argentina no
Fundo Monetário Internacional
ficou soterrado ontem sob uma
pilha de grandiloquentes juras de
amor de parte a parte.
Lula e Néstor Kirchner haviam
acabado de assinar os atos oficiais
que marcaram a visita do brasileiro, no Salão Branco da Casa Rosada, quando o argentino foi ao pódio para iniciar o seu discurso
com um "querido amigo Lula".
Lula, na sua vez, foi bem mais
afetuoso. Tirou do baú das recordações frase que usava nas assembléias sindicais: "Nem todo irmão
é companheiro, mas todo companheiro será um grande irmão".
Aí, voltando-se para Kirchner,
que ouvia a tradução simultânea
de um intérprete postado às suas
costas, disparou: "Quero que você
saiba, presidente Kirchner, que
tenho em você um parceiro e,
mais do que um parceiro, um irmão e, mais do que um irmão, um
companheiro, para que possamos
fazer o nosso povo andar de cabeça erguida e merecer o respeito a
que temos direito".
A frase pode parecer exagerada,
mas a visita de Lula foi, ontem pelo menos, toda ela marcada por
esse tom fraterno em relação à Argentina, ao presidente argentino e
à integração entre os dois países.
"Quero dizer ao presidente
Kirchner que essa integração de
corpo e alma [...] é vista por mim
como uma das coisas principais
que podem aparecer nos meus
quatro anos de mandato", disse
Lula, entre outras tantas louvações à integração. Kirchner foi
mais contido, embora não tenha
deixado de afirmar que "aposta
seriamente na integração com o
Brasil, com o Mercosul e com a
América do Sul".
Ambos se referiram à necessidade de deixar de lado "pequenas
disputas" (Kirchner) e "coisas
menores" (Lula).
O presidente brasileiro, no discurso que pronunciou à tarde no
Congresso argentino, cuidou de
afastar históricos receios argentinos quanto à liderança do Brasil
na América do Sul.
Disse que queria falar de uma
"parceria em que não haja lugar
para disputas pela liderança".
No primeiro discurso, Lula
mencionou viagens anteriores a
Buenos Aires e contou que já participou de marchas das Mães da
Praça de Maio, que lutam contra
as violações aos direitos humanos
praticadas pela ditadura do período 1976-83. (CLÓVIS ROSSI)
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