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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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JUDICIÁRIO

Ministro afirma que não aceitará inspeção na Justiça, mas deverá receber observador para os direitos humanos

Relator da ONU não entra no STF, diz Corrêa

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, afirmou ontem que, se a ONU (Organização das Nações Unidas) enviar um representante para inspecionar o Judiciário brasileiro, ele "não passará nem na entrada" do tribunal.
O ministro deu essa declaração ao mesmo tempo em que confirmou ter recebido aviso formal do Ministério da Justiça sobre a visita do relator da ONU para direitos humanos e tráfico de crianças, o uruguaio Juan Miguel Petit. Ele disse que deverá recebê-lo.
A afirmação foi feita em resposta a pergunta sobre a possibilidade de vinda de um observador da ONU para verificar se a Justiça tem impedido o acesso dos cidadãos à moradia. O ministro disse desconhecer esse fato.
"Se ele vier para fiscalizar, não passará nem na entrada. Se vier com a pretensão de inspecionar o que estamos fazendo, seguramente não será recebido para esse fim. Se quiser vir para saber as funções do STF, as competências dos juízes, vamos mostrar o tribunal."
Corrêa disse que deverá receber Petit. Estão previstas visitas dele ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília entre 3 e 14 de novembro.
O ministro desvinculou esse fato das declarações que dera na semana passada contra a possibilidade de a ONU mandar um observador para inspecionar a Justiça. "A questão relacionada à violação de direitos humanos não tem nada a ver com aquilo a que fiz referência. Sou o primeiro a defender os direitos humanos."

Novas críticas
Em novo ataque ao governo, Corrêa disse ontem que as verbas destinadas à reforma agrária são "absolutamente irrisórias", classificou como "despautério" a existência da Secretaria de Reforma do Judiciário, no Ministério da Justiça, e concluiu que o Executivo deveria olhar a própria "vidraça" antes de "jogar pedra" na da Justiça. Corrêa reagiu à afirmação do presidente do Incra, Rolf Hackbart, de que o Poder Judiciário, especificamente o STF, dificulta a reforma agrária no país.
Corrêa disse que houve "inoperância e erro" do Incra no caso da desapropriação da fazenda "Estância do Céu", no Rio Grande do Sul, citada por Hackbart porque fora anulada pelo STF.
O Incra informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o presidente do órgão não comentaria ontem as críticas de Corrêa.
O presidente do STF disse que o governo não vê os seus próprios equívocos ao ser indagado se a ministra de Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, tem ou não a obrigação de devolver ao erário o dinheiro gasto com viagem a Buenos Aires, onde participou de reunião evangélica. Mas evitou atacá-la diretamente.
"O Executivo critica muito bem a gente, mas precisa saber o que tem acontecido dentro da casa dele também. Isso não tem sido feito." Horas antes, ele já havia afirmado, em resposta à mesma pergunta: "É muito fácil jogar pedra na vidraça dos outros, mas é preciso primeiro olhar a deles antes de jogar na nossa".
Na semana passada, Corrêa acusara o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estar com "total má vontade" com o Judiciário ao comentar a notícia de que o governo havia declarado apoio à proposta de envio de um observador da ONU para inspecionar a Justiça brasileira.

Reforma do Judiciário
Corrêa disse ontem que os tribunais ignoram a existência da Secretaria de Reforma do Judiciário, criada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para elaborar propostas de mudanças nesse Poder e indicou que não aceitará a atuação do órgão.
"Se o Executivo tem proposta a fazer no que toca à reforma do Judiciário, só há uma sede competente, o Congresso, como nós estamos fazendo."
Essa afirmação foi feita durante entrevista. Antes ele dissera que a criação dessa secretaria, comandada pelo advogado Sérgio Renault, "é um despautério, uma descortesia com o Judiciário", quando discursava a advogados e estudantes em congresso sobre direito constitucional. A Folha tentou ouvir o Ministério da Justiça, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

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