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JUDICIÁRIO
Ministro afirma que não aceitará inspeção na Justiça, mas deverá receber observador para os direitos humanos
Relator da ONU não entra no STF, diz Corrêa
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, afirmou ontem que,
se a ONU (Organização das Nações Unidas) enviar um representante para inspecionar o Judiciário brasileiro, ele "não passará
nem na entrada" do tribunal.
O ministro deu essa declaração
ao mesmo tempo em que confirmou ter recebido aviso formal do
Ministério da Justiça sobre a visita
do relator da ONU para direitos
humanos e tráfico de crianças, o
uruguaio Juan Miguel Petit. Ele
disse que deverá recebê-lo.
A afirmação foi feita em resposta a pergunta sobre a possibilidade de vinda de um observador da
ONU para verificar se a Justiça
tem impedido o acesso dos cidadãos à moradia. O ministro disse
desconhecer esse fato.
"Se ele vier para fiscalizar, não
passará nem na entrada. Se vier
com a pretensão de inspecionar o
que estamos fazendo, seguramente não será recebido para esse fim.
Se quiser vir para saber as funções
do STF, as competências dos juízes, vamos mostrar o tribunal."
Corrêa disse que deverá receber
Petit. Estão previstas visitas dele
ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília entre 3 e 14 de novembro.
O ministro desvinculou esse fato das declarações que dera na semana passada contra a possibilidade de a ONU mandar um observador para inspecionar a Justiça. "A questão relacionada à violação de direitos humanos não
tem nada a ver com aquilo a que
fiz referência. Sou o primeiro a
defender os direitos humanos."
Novas críticas
Em novo ataque ao governo,
Corrêa disse ontem que as verbas
destinadas à reforma agrária são
"absolutamente irrisórias", classificou como "despautério" a existência da Secretaria de Reforma
do Judiciário, no Ministério da
Justiça, e concluiu que o Executivo deveria olhar a própria "vidraça" antes de "jogar pedra" na da
Justiça. Corrêa reagiu à afirmação
do presidente do Incra, Rolf
Hackbart, de que o Poder Judiciário, especificamente o STF, dificulta a reforma agrária no país.
Corrêa disse que houve "inoperância e erro" do Incra no caso da
desapropriação da fazenda "Estância do Céu", no Rio Grande do
Sul, citada por Hackbart porque
fora anulada pelo STF.
O Incra informou, por meio de
sua assessoria de imprensa, que o
presidente do órgão não comentaria ontem as críticas de Corrêa.
O presidente do STF disse que o
governo não vê os seus próprios
equívocos ao ser indagado se a
ministra de Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, tem
ou não a obrigação de devolver ao
erário o dinheiro gasto com viagem a Buenos Aires, onde participou de reunião evangélica. Mas
evitou atacá-la diretamente.
"O Executivo critica muito bem
a gente, mas precisa saber o que
tem acontecido dentro da casa dele também. Isso não tem sido feito." Horas antes, ele já havia afirmado, em resposta à mesma pergunta: "É muito fácil jogar pedra
na vidraça dos outros, mas é preciso primeiro olhar a deles antes
de jogar na nossa".
Na semana passada, Corrêa
acusara o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de estar com "total
má vontade" com o Judiciário ao
comentar a notícia de que o governo havia declarado apoio à
proposta de envio de um observador da ONU para inspecionar a
Justiça brasileira.
Reforma do Judiciário
Corrêa disse ontem que os tribunais ignoram a existência da
Secretaria de Reforma do Judiciário, criada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para
elaborar propostas de mudanças
nesse Poder e indicou que não
aceitará a atuação do órgão.
"Se o Executivo tem proposta a
fazer no que toca à reforma do Judiciário, só há uma sede competente, o Congresso, como nós estamos fazendo."
Essa afirmação foi feita durante
entrevista. Antes ele dissera que a
criação dessa secretaria, comandada pelo advogado Sérgio Renault, "é um despautério, uma
descortesia com o Judiciário",
quando discursava a advogados e
estudantes em congresso sobre
direito constitucional. A Folha
tentou ouvir o Ministério da Justiça, mas não obteve resposta até o
fechamento desta edição.
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