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Após ouvir Lula, PT admite perder espaço para PMDB
Presidente do partido diz que o importante não são cargos, mas influência no governo
Lula vê aliança com PMDB como essencial para fazer frente à oposição PSDB-PFL e diz que PT terá de se adaptar a um governo de coalizão
Alan Marques/Folha Imagem
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O presidente Lula recebe o embaixador do Kuait, Waleed Ahmad M. Al-Kandari, no Planalto |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma reunião de duas horas e meia com uma comissão
de petistas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse que o
partido terá de se adaptar a um
governo de coalizão, pois vê
uma aliança com o PMDB como essencial para evitar que o
governo fique vulnerável à dupla oposicionista PSDB-PFL.
O primeiro encontro de Lula,
depois da vitória no segundo
turno, com representantes de
todas as alas do partido deixou
claro um temor crescente dos
petistas nas últimas semanas:
não só vai ser muito difícil aumentar a participação do PT no
primeiro escalão como existe
risco de perda de poder.
Uma das grandes preocupações do PT, hoje, é justamente
perder espaço para o PMDB,
partido que, apesar de dividido,
possui uma ala que dá apoio irrestrito ao presidente e almeja
mais cargos. Dos 34 cargos com
status de ministro no governo,
16 estão nas mãos de petistas e
2 com o PMDB. Segundo relato
de participantes do encontro
Lula disse, mais de uma vez, estar apostando tudo nessa coalizão com o PMDB.
Antes de seguir ao Planalto,
os petistas se reuniram para
elaborar uma pauta que apresentariam a Lula. Definiram
que a questão dos cargos do
partido seria tratada de forma
sutil, a fim de não pressionar o
presidente. No início da conversa, porém, Lula se antecipou. Disse aos petistas que esse
assunto, por conta do potencial
polêmico, seria tratado exclusivamente com Tarso Genro (Relações Institucionais).
Ontem mesmo Tarso ligou
para o presidente do PMDB,
Michel Temer, para marcar para a próxima quarta-feira um
encontro com Lula, dando início às conversas institucionais
para o governo de coalizão.
Após o encontro de ontem, os
petistas adotaram um discurso
de que o importante não é a "visão geométrica do espaço" na
máquina pública, mas sim o tamanho de sua influência nos
rumos do segundo mandato.
"O tamanho da participação
no governo, contrariamente ao
que alguns podem supor, não é
um tamanho que possa se medir com fita métrica, não pode
se medir com aritmética vulgar.
Mede-se concretamente pela
presença das posições políticas
essenciais de um determinado
partido ou de um conjunto de
partidos", afirmou o presidente
interino do PT, Marco Aurélio
Garcia, que falou em nome da
comissão depois da reunião.
"Isso não é um terreno que
vai ser dividido em termos de
hectares ou metros quadrados.
Vai ser dividido em torno da
formação de uma base sólida de
governo, programática, em torno de pessoas qualificadas."
Bem-humorado, mas firme
na condenação aos erros de seu
partido, o presidente também
cobrou "renovação" e "recuperação" da legenda. Segundo os
participantes, Lula disse que o
"PT não tem direito de errar
mais. Até quando acerta apanha. Imagina quando erra".
De acordo com a senadora
Ideli Salvatti (SC), o presidente
chegou a insinuar a hipótese de
tomar posse sem ter escolhido
sua nova equipe. "O presidente
disse que, diferentemente da
outra vez, quando tinha que tomar posse com todos os ministros, agora não precisa fazer isso até 1º de janeiro de 2007."
Além de Garcia, Tarso e Ideli,
participaram do encontro o ministro Luiz Dulci (Secretaria
Geral), Jilmar Tatto (terceiro
vice-presidente do PT), Maria
do Rosário (segunda vice), Joaquim Soriano (secretário-geral-adjunto), Paulo Ferreira
(tesoureiro), Renato Simões
(secretário de Movimentos Populares) e Valter Pomar (secretário de Relações Internacionais). Na conversa, Lula disse
que pretende mudar sua relação com o partido. "O nosso
diálogo será aberto", teria dito.
Afirmou que a prova disso será sua presença na reunião do
Diretório Nacional do PT, nos
dias 25 e 26 deste mês, em São
Paulo. Lula evitou falar sobre
Ricardo Berzoini, afastado da
presidência do PT em razão do
caso do dossiê.
(EDUARDO SCOLESE, FÁBIO ZANINI, PEDRO DIAS LEITE E FERNANDA KRAKOVICS)
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