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Venezuelano cria tensão, afirmam analistas
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
As "espetaculares" compras
de armas pela Venezuela de
Hugo Chávez não chegaram a
criar uma "corrida armamentista" na América do Sul, mas
criaram tensão no continente,
concordaram especialistas em
assuntos estratégicos durante
conferência ontem no Rio.
O problema "não é a compra
das armas, mas sim a incerteza
da política venezuelana", disse
o brasileiro Alfredo Valladão,
diretor da Cátedra Mercosul de
Ciências Políticas, de Paris, na
quarta edição da Conferência
do Forte de Copacabana.
A modernização do arsenal
venezuelano tem sido usada
como pretexto para os militares brasileiros defenderem o
reequipamento das Forças Armadas com material moderno.
Valladão cita as "declarações
provocantes" do venezuelano
que trazem "problema de credibilidade e incerteza": sua
possível cooperação nuclear
com o Irã, a compra desejada de
submarinos russos, uma intervenção na Bolívia em caso de
ações contra Evo Morales, e a
produção de munição em grande escala para fuzis russos.
"Não há uma corrida armamentista do ponto de vista convencional", diz Clóvis Brigagão,
diretor do Centro de Estudos
das Américas, do Rio. Para isso
seria preciso que dois ou mais
países acompanhassem o ritmo
das compras venezuelanas.
O item mais vistoso das aquisições de Chávez são os 24 caças russos Sukhoi-30, dos quais
mais da metade já foi entregue.
Mas talvez o item mais preocupante para os vizinhos (especialmente para a Colômbia. envolvida com a narcoguerrilha
Farc) sejam os cem mil fuzis de
assalto AK-103, versão mais
moderna no famoso AK-47 russo, e da fábrica de munição para
eles. Há medo de que parte desse arsenal seja desviado para a
guerrilha ou o crime organizado através da corrupção.
"O terreno das percepções,
do que consiste uma ameaça ou
não, é pantanoso", disse Diego
Fleitas, da Associação para Políticas Públicas, de Buenos Aires. Fleitas citou como preocupante a declaração ao Congresso do general brasileiro José
Benedito de Barros Moreira,
secretário de Política, Estratégia e Relações Internacionais
do Ministério da Defesa, de que
o Brasil deveria ter condições
de fabricar uma bomba atômica, se achasse necessário.
O general Barros Moreira,
presente no seminário, defendeu suas declarações ao Congresso. Diz que deixou claro
que não está defendendo a
construção da bomba, mas
acha que o país deve ter as condições de fazê-la no futuro, se o
Estado assim determinar, por
força de circunstâncias futuras:
por exemplo, se outro país latino-americano decidir ter a sua.
A pesquisadora Francine Jácome, diretora do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e
Políticos, de Caracas, contrastou a maior cooperação no Cone Sul com as relações mais
"fragmentadas" da região andina. Ela elogia o maior controle
civil dos militares, a transformação da região sul do continente em zona de paz, a criação
de mecanismos de confiança
mútua e a participação em missões de paz como a do Haiti, na
qual militares do Brasil, Argentina e Chile trabalham juntos.
Já nos principais países dos
Andes a agenda dos países é diferente e ocorre debilitação do
poder civil. A Venezuela passou
a ver os EUA como ameaça e faz
discursos provocativos, sobretudo na área nuclear. "O discurso é de integração, mas na prática tem o efeito contrário", diz
ela das políticas de Chávez.
Sophie Jouineau, diretora de
assuntos latino-americanos da
área de estratégia do Ministério da Defesa francês, lembrou
que há pouco risco de guerra
externa na região, mas que a
"criminalidade extranacional"
tem a capacidade de reduzir a
capacidade dos estados de prover segurança a seus cidadãos.
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