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CRIMES ELEITORAIS
Decisão deverá ser política
Ministério
sugere veto
à anistia
da Sucursal de Brasília
O ministro da Justiça, José Carlos Dias, recomendou ao presidente Fernando Henrique Cardoso que vete a anistia a crimes eleitorais nas eleições de 1996 e 1998,
aprovada pelo Congresso -um
perdão de R$ 21,2 milhões em 16
Estados.
Em parecer encaminhado anteontem ao Palácio do Planalto, o
ministro alega que o projeto fere a
""normalidade institucional" ao
cancelar punições impostas pela
Justiça a candidatos eleitos e não
eleitos que cometeram crimes
eleitorais nos dois últimos pleitos.
Mas FHC terá dificuldades para
sustentar um veto com o argumento sugerido por seu ministro
da Justiça. Ocorre que o presidente já sancionou outro polêmico
projeto de anistia a crime eleitoral
no início de seu primeiro mandato, em 1995.
O beneficiado foi o senador
Humberto Lucena, já morto, condenado na época por uso irregular da gráfica do Senado em sua
campanha. Questionado sobre o
assunto, o STF (Supremo Tribunal Federal) não suspendeu a
anistia aprovada pelo Congresso e
sancionada por FHC.
Na opinião de José Carlos Dias,
o projeto aprovado não fere a
Constituição, embora classifique
de técnicos seus argumentos em
favor do veto.
Na avaliação preliminar da assessoria jurídica do Palácio do
Planalto, não foi encontrado nenhum aspecto inconstitucional
que recomendasse o veto.
A interlocutores, o presidente
tem dito que vetará a lei caso tenha argumentos jurídicos para fazê-lo. Há poucas dúvidas no Planalto hoje de que a decisão terá de
ser política. Avalia-se qual das alternativas causará menos desgaste para o presidente.
FHC tem até o dia 28 de dezembro para decidir o que fazer com o
projeto da anistia. No último final
de semana, durante visita a Buenos Aires, o presidente manifestou desconforto com a proposta
aprovada pelo Congresso. Disse
que não tinha simpatia pelo texto,
mas não antecipou sua decisão.
FHC tem ainda uma terceira alternativa, além de vetar ou sancionar a lei: simplesmente devolvê-la ao Congresso para que o
presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), se
encarregue de sancioná-la.
Na prática, não haveria muita
diferença entre essa alternativa, a
da ""sanção tácita", e a sanção de
FHC ao projeto.
Ontem, o Palácio do Planalto
não se manifestou oficialmente
sobre o projeto da anistia. O presidente não tem pressa em decidir, o que aumenta as chances da
chamada ""sanção tácita".
Dias considera essa hipótese
bastante provável. O Ministério
da Justiça não divulgou a íntegra
do parecer do ministro recomendando o veto.
CNBB
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) enviou carta
a FHC defendendo o veto.
Em nota oficial divulgada ontem, a CNBB diz que a aprovação
da lei pelo Congresso foi decepcionante. Segundo a nota, o mesmo Congresso que aprovou, há
pouco mais de dois meses, o projeto de lei de iniciativa popular
contra a corrupção eleitoral, agora legisla em causa própria, autoconcedendo-se anistia de multas.
"Imaginem se todos os brasileiros agirem da mesma forma, recusando-se a pagar multas?", indagou o presidente da CNBB, d.
Jayme Chemello, em entrevista
coletiva. "Isso é um mau exemplo
para a juventude", acrescentou.
D. Jayme não aceitou o argumento utilizado por alguns políticos que disseram ter sido vítimas
de perseguição por parte dos Tribunais Regionais Eleitorais.
"Contra isso eles dispõem de
outros meios. Eles deveriam buscar reparação na Justiça", disse.
Questionado sobre a possibilidade de FHC sancionar o projeto, o
presidente da CNBB disse: "Então
a vergonha será deles".
De acordo com a nota, "essa decisão prejudica gravemente a credibilidade da Câmara e do Senado
e é uma afronta à nação".
A nota da CNBB foi anexada à
carta em que a direção da entidade pede ao presidente o veto do
projeto de lei.
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