São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO DIFÍCIL

Partido teme que voto de Heloísa Helena abra crise interna

PT fecha a favor de Meirelles; senadora permanece contra

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT fechou questão pelo voto favorável de seus senadores à indicação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central, mas tenta ainda uma saída para evitar que a posição contrária da senadora Heloísa Helena (AL) se transforme em uma crise interna de grandes proporções.
Em reunião hoje com os senadores petistas em Brasília, o presidente nacional do PT, José Genoino, mandará um aviso claro: o partido não pode rachar logo em seu primeiro teste real como bancada governista.
"Seria a desmoralização. O PT não pode se dividir logo na primeira votação", disse Genoino.
O risco, reconhece a direção do PT, é que a liberação do voto acabe se tornando um precedente perigoso. A consequência seria um racha, já que Heloísa Helena, titular da Comissão de Assuntos Econômicos, que sabatina hoje Meirelles, votaria contra. "Se a porteira for aberta, a boiada passa inteira", diz o presidente petista.
A posição de Genoino é tentar "convencer" a senadora radical a mudar sua posição, em conversa hoje. Mas deixando claro que o fechamento de questão é inegociável. "Há pluralidade de pensamento no PT, mas não pluralidade de voto, exceto em questões que envolvem ética ou religião."
Com ele concorda o senador José Eduardo Dutra (PT-SE). "Cansei de perder em decisões da bancada, mas sempre votei de acordo com o que a maioria decide. Isso não pode mudar agora que somos governo", afirmou.
Já o líder do PT no Senado, Eduardo Suplicy (SP), tem posição contrária ao fechamento de questão. "Nunca na história das sabatinas de presidentes do BC o PT fechou questão."
Ao mesmo tempo, os petistas não querem que a crise ganhe proporções maiores, segundo a Folha apurou. Levar uma senadora conhecida e atuante como Heloísa a um processo disciplinar seria desgastante para a imagem do PT e do futuro governo. Não vale a pena, segundo um cacique do partido, até porque a aprovação de Meirelles é certa.
A saída seria fazer vista grossa a uma eventual decisão de Heloísa Helena de faltar à sabatina, cedendo seu lugar ao suplente do PT na comissão, Dutra. Assim, não haveria processo disciplinar. A CAE é composta por 27 senadores.
No plenário do Senado, a saída poderia ser a de a senadora alagoana votar a favor de Meirelles, mas fazendo uma declaração de voto contrária.
Heloísa afirmou que está preparada para enfrentar um processo disciplinar, que teria consequências como a suspensão. "Isso já aconteceu antes com outros petistas. Sei que existe um estatuto que precisa ser respeitado e que medidas disciplinares podem ocorrer. Mas eu, que já apanhei muito, inclusive fisicamente, estou preparada para tudo", declarou a senadora, que não teme ser expulsa do PT. "Para fazer isso, teriam de rasgar o estatuto."

Severidade
Suplicy disse que a bancada do PT no Senado pretende sabatinar Meirelles com "seriedade e até severidade, como sempre fizemos".
O senador declarou que o partido será tão firme como foi com o atual presidente do BC, Armínio Fraga, que, em 1999, foi comparado por oposicionistas à "raposa que toma conta do galinheiro".
"Creio que essas frases mais contundentes não serão repetidas desta vez, mas vamos fazer uma sabatina dura, respeitando o sabatinado", disse Suplicy.


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