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TRANSIÇÃO DIFÍCIL
Partido teme que voto de Heloísa Helena abra crise interna
PT fecha a favor de Meirelles; senadora permanece contra
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT fechou questão pelo voto
favorável de seus senadores à indicação de Henrique Meirelles
para a presidência do Banco Central, mas tenta ainda uma saída
para evitar que a posição contrária da senadora Heloísa Helena
(AL) se transforme em uma crise
interna de grandes proporções.
Em reunião hoje com os senadores petistas em Brasília, o presidente nacional do PT, José Genoino, mandará um aviso claro: o
partido não pode rachar logo em
seu primeiro teste real como bancada governista.
"Seria a desmoralização. O PT
não pode se dividir logo na primeira votação", disse Genoino.
O risco, reconhece a direção do
PT, é que a liberação do voto acabe se tornando um precedente perigoso. A consequência seria um
racha, já que Heloísa Helena, titular da Comissão de Assuntos Econômicos, que sabatina hoje Meirelles, votaria contra. "Se a porteira for aberta, a boiada passa inteira", diz o presidente petista.
A posição de Genoino é tentar
"convencer" a senadora radical a
mudar sua posição, em conversa
hoje. Mas deixando claro que o fechamento de questão é inegociável. "Há pluralidade de pensamento no PT, mas não pluralidade de voto, exceto em questões
que envolvem ética ou religião."
Com ele concorda o senador José Eduardo Dutra (PT-SE). "Cansei de perder em decisões da bancada, mas sempre votei de acordo
com o que a maioria decide. Isso
não pode mudar agora que somos
governo", afirmou.
Já o líder do PT no Senado,
Eduardo Suplicy (SP), tem posição contrária ao fechamento de
questão. "Nunca na história das
sabatinas de presidentes do BC o
PT fechou questão."
Ao mesmo tempo, os petistas
não querem que a crise ganhe
proporções maiores, segundo a
Folha apurou. Levar uma senadora conhecida e atuante como Heloísa a um processo disciplinar seria desgastante para a imagem do
PT e do futuro governo. Não vale
a pena, segundo um cacique do
partido, até porque a aprovação
de Meirelles é certa.
A saída seria fazer vista grossa a
uma eventual decisão de Heloísa
Helena de faltar à sabatina, cedendo seu lugar ao suplente do PT na
comissão, Dutra. Assim, não haveria processo disciplinar. A CAE
é composta por 27 senadores.
No plenário do Senado, a saída
poderia ser a de a senadora alagoana votar a favor de Meirelles,
mas fazendo uma declaração de
voto contrária.
Heloísa afirmou que está preparada para enfrentar um processo
disciplinar, que teria consequências como a suspensão. "Isso já
aconteceu antes com outros petistas. Sei que existe um estatuto que
precisa ser respeitado e que medidas disciplinares podem ocorrer.
Mas eu, que já apanhei muito, inclusive fisicamente, estou preparada para tudo", declarou a senadora, que não teme ser expulsa do
PT. "Para fazer isso, teriam de rasgar o estatuto."
Severidade
Suplicy disse que a bancada do
PT no Senado pretende sabatinar
Meirelles com "seriedade e até severidade, como sempre fizemos".
O senador declarou que o partido será tão firme como foi com o
atual presidente do BC, Armínio
Fraga, que, em 1999, foi comparado por oposicionistas à "raposa
que toma conta do galinheiro".
"Creio que essas frases mais
contundentes não serão repetidas
desta vez, mas vamos fazer uma
sabatina dura, respeitando o sabatinado", disse Suplicy.
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