São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Para participar do governo Lula, partido exige ao menos dois ministérios e o direito de definir titulares e assessores

PMDB quer nomear cúpula de suas pastas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na conversa que deve ter nas próximas horas com José Dirceu, futuro chefe da Casa Civil do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Michel Temer apresentará pelo menos duas exigências do PMDB para participar do novo governo.
A primeira é que o partido indique os nomes dos ministros nas pastas que ficarem com a sigla. A outra é indicar os integrantes do segundo escalão desses ministérios, ao menos dois, segundo espera a direção peemedebista.
As duas condições foram feitas pelas bancadas e por governadores do partido, consultados por Temer ao longo da semana passada. Segundo a cúpula da legenda, com 74 deputados e 20 senadores, o PMDB não poderia entrar no governo Lula para ser a "rainha da Inglaterra".
A cúpula do PMDB, na realidade, vive um dilema. Embora tenha aumentado o número de peemedebistas que dizem preferir que o partido fique numa posição de independência, ela teme recusar o convite para participar do governo e com isso perder o controle sobre a negociação.
O temor é que parte do partido passe a negociar diretamente com o PT. A médio prazo, a direção poderia ser ultrapassada pelos fatos e também ver o partido perder congressistas para outras legendas governistas.
A conversa de Dirceu com Temer pode ocorrer ainda hoje. Ontem o petista disse "que não existe nenhuma definição com relação a quais ministérios o PMDB ocupará porque não existe uma definição de que o PMDB participará do governo".
Trata-se de uma declaração cautelosa, bem diferente do tom que Dirceu adotou na conversa que teve em São Paulo, domingo retrasado, com o próprio Temer. Na ocasião, Dirceu acenou com os ministérios do Planejamento e dos Transportes e com a possibilidade de o PMDB indicar os integrantes do segundo escalão.
De lá para cá, a conversa azedou. Para o PT, os peemedebistas esfriaram a negociação porque não queriam os nomes do senador Pedro Simon (Transportes) e do economista Carlos Lessa (Planejamento). Para o PMDB, o PT cedeu a pressões internas, recuou da proposta inicial e tentou passar à opinião pública uma imagem fisiológica da sigla de Temer.
De fato, a cúpula do PMDB é que foi procurada pelo PT. A posição da sigla, até a reunião de Dirceu com Temer no hotel Sofitel, era de apoiar sem ter cargos, conforme fora decidido numa reunião com os governadores. Mas é certo que a cúpula não vai assumir nomes como Lessa.
O acordo, se houver, passará pela indicação de um nome pela bancada do PMDB no Senado e outro pela bancada da sigla na Câmara. No Senado, pode até ser que os peemedebistas aceitem indicar Simon, um nome sempre associado à dissidência da atual cúpula partidária.
Simon, mais recentemente, se aproximou do líder da bancada, Renan Calheiros (AL), que é candidato à presidência da Casa contra o ex-presidente José Sarney (AP), que seria o nome preferido de Lula para o cargo.
Em uma semana mudaram também os ministérios que podem ir para o PMDB. Agora fala-se na Integração Nacional, pasta já ocupada pelo partido, e na de Minas e Energia.
Segundo Dirceu, a participação do PMDB no novo governo "não é uma questão simples pelas circunstâncias que todo o país conhece e pelos acontecimentos recentes da semana passada, quando tentamos chegar a um ponto em comum".


Texto Anterior: Transição: Waldir Pires deve ir para Corregedoria
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.