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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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PT NO DIVÃ

Ministro reclama dos gastos com o encontro do Diretório Nacional

Petistas precisam ter "apego à austeridade", diz Cristovam

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Defensor declarado da expulsão da senadora Heloísa Helena (AL) e dos deputados federais João Batista Araújo, o Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE) do PT, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, disse ontem que o partido precisa manter "o apego à austeridade".
A declaração foi feita quando o ministro comentava sobre o local onde foi realizado o encontro do Diretório Nacional do PT, no final de semana, que decidiu pela expulsão dos quatro do partido. A reunião foi realizada em um hotel de luxo em Brasília. O custo teria sido de R$ 150 mil.
"Encontro do PT deveria ser coisa mais austera. O partido tem que passar idéia de mais austeridade na hora de fazer encontro", afirmou o ministro durante café da manhã com jornalistas.
E depois completou: "Mas é possível que não tivesse outra alternativa. Mas não é só o hotel. O PT tem que manter apego à austeridade. Tem que ser como escoteiro. Sempre alerta", declarou.

Divórcio
Para Cristovam, a saída dos quatro parlamentares do PT era como um "divórcio". "Tinha que fazer logo", afirmou. O ministro reiterou que é a favor da liberdade do discurso. Mas, segundo ele, os quatro parlamentares não deveriam ter votado contra as decisões da bancada. "O discurso deles é um alerta, mas o voto foi errado porque desfaz o sentido de partido", declarou o ministro.
Ao falar sobre as eleições municipais do próximo ano, Cristovam não descartou a possibilidade de fazer campanha para candidatos do PT. "Vou consultar o partido, o governo e a Justiça. Se for necessário, possível e decente, posso fazer [campanha]", disse. "Só não pode sair em avião do governo para fazer campanha ou usar carro do ministério", acrescentou.
Para o ministro, o governo federal acabará de alguma forma participando das campanhas municipais porque a oposição deve usar projetos nacionais para tratar de assuntos locais.
Ao defender o governo Luiz Inácio Lula da Silva, Cristovam reiterou ser a favor da estabilidade monetária e do ajuste fiscal em curso. "A discussão é se precisamos ter nesse grau ou não [se referindo ao nível do superávit primário, economia para pagamento de juros da dívida]. Não dava para sair direto da esperança para a mudança. O governo do PT tinha que ganhar confiança."
O ministro afirmou que a discussão precisa ser em relação à definição da política orçamentária, ao estabelecer quais setores ou áreas terão mais investimentos no Orçamento da União. Segundo ele, Lula "ganhou" em duas áreas em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso era forte: relações internacionais e economia.
O ministro disse defender a política econômica há muito tempo porque sem estabilidade não é possível discutir investimentos. "De que adianta conseguir reajuste salarial para professores, por exemplo, se houver inflação? Aí é fingimento, não reajuste. A estabilidade monetária é uma forma de verdade", declarou.
Desde que assumiu o ministério, Cristovam reclamou em várias ocasiões da falta de recursos para a educação. Em setembro, chegou mesmo a incentivar estudantes a fazer protestos pelo aumento das verbas para o setor.
Cristovam defende que a sociedade se organize para reivindicar mais recursos de todas as esferas de governo para a educação. "O debate não é mudar a política econômica, mas sim mostrar que é possível tirar de outros setores para investir em educação."
(LUCIANA CONSTANTINO)


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