São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA

Ações contra programa do Incra devem começar em abril; agências dos Correios podem ser invadidas

Rainha ameaça iniciar onda de invasões

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


O dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) José Rainha Júnior disse ontem que ""está decretado estado de ocupação" no país, por não acreditar que o programa de reforma agrária pelos Correios, implantado pelo governo, dê resultado.
"A boiada vai estourar em abril. Vamos ocupar todas as terras", afirmou o dirigente.
O MST iniciou esta semana, na primeira mobilização nacional de 2001, inscrições em massa de acampados e desempregados da cidade no programa.
O movimento pretende, em 60 dias, fazer um balanço da proposta oficial.
Se não for apresentado resultado, será desencadeada uma onda de invasões de terras e de prédios públicos a partir de abril, promete Rainha.
Segundo o dirigente João Paulo Oliveira, da coordenação nacional do MST, além de terras, poderão ser invadidas agências dos Correios, parceiro no programa.
As inscrições em massa, incentivadas pelo MST, começaram na segunda-feira e vão até amanhã. Ontem, pelo menos 3.000 sem-terra lotaram as agências de seis cidades do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo, numa mostra da ofensiva. Rainha disse não acreditar em ""reforma agrária virtual". Com as ações, o MST diz querer ""desmascarar o programa", lançado em outubro pelo ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) como forma de evitar irregularidades na intermediação de terra e crédito.
Rainha elogiou a atuação do governo Mário Covas (PSDB-SP), que conseguiu fechar acordos com fazendeiros para assentar 2.000 famílias em 17 mil hectares de terras até abril.
""Elogiamos a reforma agrária do Covas. Nossa briga é com o governo federal", disse.

Incra O presidente do Incra, Orlando Muniz, criticou a posição do MST. Declarou que o movimento teria um papel "valoroso" se ajudasse a selecionar os candidatos, segundo os critérios do programa.
Segundo ele, apenas a inscrição não garante o assentamento. Existem critérios para a habilitação, como comprovar experiência de cinco anos em atividade agrícola, entre outros.
""O fato de estar desempregado ou sob o manto de um acampamento não significa que essa pessoa tenha tradição para ser assentada", afirmou.
A meta do governo neste ano, disse Muniz, é assentar 100 mil famílias, qualquer que seja a demanda.
Só o MST diz ter cerca de 80 mil acampados, sem considerar cadastros de outros movimentos sociais, de igrejas e, agora, dos Correios.
Para Muniz, o programa é uma ""opção de cidadania", porque elimina tutelas do movimento social e do próprio governo.


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