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MATO GROSSO
Secretário de SP é condenado a pagar dívida com terreno que abriga Juruena
Juiz anula venda de área de cidade
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Uma decisão da Justiça de Mato
Grosso do Sul deve provocar uma
reviravolta na pequena Juruena,
cidade da fronteira agrícola de
Mato Grosso a cerca de 900 km ao
norte de Cuiabá. Parte do município de cerca de 5.000 habitantes
está dentro de uma área de 20 mil
hectares cuja venda foi considerada fraudulenta pelo juiz Sideni
Soncini Pimentel, da 7ª Vara Cível
de Campo Grande.
O processo refere-se à execução
de uma dívida do secretário de
Ciência e Tecnologia de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles,
que foi condenado pelo Superior
Tribunal de Justiça a pagar um
débito com o fazendeiro Antônio
Morais dos Santos.
A origem da dívida é um contrato de arrendamento de 4.000 vacas, celebrado em 1990 entre uma
das empresas de Meirelles e o fazendeiro. Para saldar a dívida,
Meirelles, que coordenou a campanha de reeleição do governador
Geraldo Alckmin (PSDB-SP), hipotecou duas fazendas localizadas em Bonito (MS).
Santos alegou no processo que
as duas fazendas são insuficientes
para o pagamento da dívida, que,
segundo ele, chegava a R$
20.371.829,40 no final de dezembro. Em razão disso, o fazendeiro
indicou a penhora da área de 20
mil hectares, localizada na região
de Juruena.
O juiz concordou com a penhora, mas a área já havia sido vendida e por isso foi considerada fraudulenta. Com a decisão judicial,
estão anuladas todas as vendas
que Meirelles fez nessa área após a
contração da dívida, em 1990.
Em entrevista à Agência Folha,
o advogado de Meirelles informou que recorrerá da decisão
(leia texto ao lado).
O juiz também intimou Santos a
fornecer à Justiça o endereço de
todos os ocupantes da área de 20
mil hectares a ser penhorada dentro de um prazo de dez dias para
que eles sejam notificados, o que
pode incluir a maioria dos moradores da cidade.
"Problemas seríssimos"
Em entrevista à Agência Folha,
o presidente da Câmara de Juruena, Odival Javorski (PSDB), afirmou que desconhecia o processo.
O vereador, no entanto, disse que
existem "problemas seríssimos"
em lotes vendidos por Meirelles.
"Nós, vereadores, tentamos fazer um levantamento, mas a coisa
é tão complexa que nós passamos
para um auditor para ver todas as
pendências", afirma.
Javorski culpa o secretário pela
estagnação do município. "Juruena não cresceu muito por causa
da empresa dele, que vendia lotes
a um preço absurdo", disse o vereador tucano.
O vereador, que também é dono
de um escritório de contabilidade,
prevê que a decisão judicial vai
piorar ainda mais a imagem de
Meirelles. "Isso vai dar uma revolta muito grande aqui."
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