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NORDESTE
Criação de camarão já gera lucros; tilápia abre a perspectiva para a montagem de uma pequena agroindústria
Jovens mudam planos de deixar o sertão
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARRA DE SANTA ROSA (PB)
Quando foi oferecido às 12 famílias do pequeno povoado de Poleiros um projeto visando criar
camarão a 197 km do litoral da
Paraíba, não foram poucos os que
fizeram piada.
Agora, quatro meses e uma "safra" depois, o lucro inicial do projeto está sendo reinvestido, e jovens que pretendiam ganhar a vida em centros urbanos fazem planos para se fixar na própria terra.
Um casamento ocorrido há 40
dias exemplifica essa transição no
sertão, englobando uma prática
passada e outra nova.
Na festa de Petronilo Santos Silva e Daniele, filhos de 2 das 12 famílias, a novidade foi algo impensável há anos: uma panela de dez
quilos de camarão com leite de
coco. Para manter a tradição, porém, o bode assado não faltou.
A expressão do passado, que o
projeto de pesquisa do "camarão
mandacaru" quer extinguir, foi o
fato de que a cerimônia, mais uma
vez, teve sabor de despedida.
Após o casamento, os noivos mudaram-se para São Paulo.
O pai do noivo e presidente da
Associação dos Pequenos Produtores de Poleiros, Cícero Procópio
da Silva, assistiu à partida do oitavo filho para São Paulo. Ele tem 14
filhos, mas só dois permanecem
na região. "O camarão fez eu adiar
mais uma vez minha partida para
São Paulo, onde tenho emprego
garantido. Se houver investimento, o camarão vai dar certo e quero trazer de volta, pelo menos,
quatro dos oito filhos que estão
em São Paulo", diz Silva.
Com o recursos da primeira
"safra" de camarão, eles adquiriram uma balança de R$ 750 para a
associação e vão construir mais
três tanques para aumentar a produção. Silva disse que espera dar
um salário mínimo para cada família como salário já a partir da
próxima "safra". "Vamos pagar
um salário para cada família e, no
final do ano, após pagar tudo, vamos dividir o resto do lucro."
Eles introduziram a tilápia vermelha, também engordada em
tanques com rejeito de dessalinizadores, no cardápio regional.
Como produzem alevinos, os
produtores distribuíram para outros moradores da região 30 mil
filhotes de tilápia que estão sendo
criados em açudes salobros de
propriedades vizinhas.
A tilápia abriu a perspectiva para a montagem de uma pequena
agroindústria. Eles já foram treinados pela Universidade Federal
da Paraíba para produzir almôndega, hambúrguer e filé de tilápia.
O sucesso do negócio depende
de um acordo comercial que os
associados estão fechando com a
prefeitura local com o objetivo de
que os produtos da tilápia sejam
vendidos para a merenda escolar.
Todo o projeto foi viabilizado
graças à ação voluntária da fazendeira Maria das Neves dos Santos
Silva, 71, que doou, em comodato
de dez anos, os quatro hectares
onde as pesquisas consorciadas
estão sendo desenvolvidas.
"Doei para ajudar a comunidade. Depois que a seca acabou com
nossa plantação de sisal, ficamos
só com poucas cabras e poucos
bois, o que não dá renda nem para
a alimentação. Deus está nos
apresentando uma saída", disse a
fazendeira.
(ARI CIPOLA)
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