São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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NORDESTE

Criação de camarão já gera lucros; tilápia abre a perspectiva para a montagem de uma pequena agroindústria

Jovens mudam planos de deixar o sertão

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARRA DE SANTA ROSA (PB)

Quando foi oferecido às 12 famílias do pequeno povoado de Poleiros um projeto visando criar camarão a 197 km do litoral da Paraíba, não foram poucos os que fizeram piada.
Agora, quatro meses e uma "safra" depois, o lucro inicial do projeto está sendo reinvestido, e jovens que pretendiam ganhar a vida em centros urbanos fazem planos para se fixar na própria terra.
Um casamento ocorrido há 40 dias exemplifica essa transição no sertão, englobando uma prática passada e outra nova.
Na festa de Petronilo Santos Silva e Daniele, filhos de 2 das 12 famílias, a novidade foi algo impensável há anos: uma panela de dez quilos de camarão com leite de coco. Para manter a tradição, porém, o bode assado não faltou.
A expressão do passado, que o projeto de pesquisa do "camarão mandacaru" quer extinguir, foi o fato de que a cerimônia, mais uma vez, teve sabor de despedida. Após o casamento, os noivos mudaram-se para São Paulo.
O pai do noivo e presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Poleiros, Cícero Procópio da Silva, assistiu à partida do oitavo filho para São Paulo. Ele tem 14 filhos, mas só dois permanecem na região. "O camarão fez eu adiar mais uma vez minha partida para São Paulo, onde tenho emprego garantido. Se houver investimento, o camarão vai dar certo e quero trazer de volta, pelo menos, quatro dos oito filhos que estão em São Paulo", diz Silva.
Com o recursos da primeira "safra" de camarão, eles adquiriram uma balança de R$ 750 para a associação e vão construir mais três tanques para aumentar a produção. Silva disse que espera dar um salário mínimo para cada família como salário já a partir da próxima "safra". "Vamos pagar um salário para cada família e, no final do ano, após pagar tudo, vamos dividir o resto do lucro."
Eles introduziram a tilápia vermelha, também engordada em tanques com rejeito de dessalinizadores, no cardápio regional. Como produzem alevinos, os produtores distribuíram para outros moradores da região 30 mil filhotes de tilápia que estão sendo criados em açudes salobros de propriedades vizinhas.
A tilápia abriu a perspectiva para a montagem de uma pequena agroindústria. Eles já foram treinados pela Universidade Federal da Paraíba para produzir almôndega, hambúrguer e filé de tilápia.
O sucesso do negócio depende de um acordo comercial que os associados estão fechando com a prefeitura local com o objetivo de que os produtos da tilápia sejam vendidos para a merenda escolar.
Todo o projeto foi viabilizado graças à ação voluntária da fazendeira Maria das Neves dos Santos Silva, 71, que doou, em comodato de dez anos, os quatro hectares onde as pesquisas consorciadas estão sendo desenvolvidas.
"Doei para ajudar a comunidade. Depois que a seca acabou com nossa plantação de sisal, ficamos só com poucas cabras e poucos bois, o que não dá renda nem para a alimentação. Deus está nos apresentando uma saída", disse a fazendeira. (ARI CIPOLA)


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