São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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Erva que consome sal despolui solo e alimenta animais, diz pesquisa

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARRA DE SANTA ROSA (PB)

O camarão é o principal, mas não o único produto do aproveitamento do rejeito de água dessalinizada. A pesquisa realizada em Barra de Santa Rosa envolve também a irrigação da atriplex, uma planta nativa da Austrália e que só se desenvolve com a água salgada.
Conhecida como "erva sal", consome todo o sal da água lançada no solo, o que lhe dá uma função ecológica apropriada para o aproveitamento do rejeito. A atriplex pode resolver um problema grave do sertão, a alimentação do rebanho caprino e bovino.
Suas folhas e galhos substituem, por exemplo, o milho ou o sorgo -culturas irregulares na região devido à falta de chuva que são a base da alimentação animal.
Essas conclusões são de pesquisa da Embrapa do semi-árido, com sede em Petrolina (PE), que tem recomendado a disseminação da atriplex na região como planta despoluidora e complemento alimentar para os animais.
A experiência na Paraíba mostra o efeito devastador do rejeito dos dessalinizadores. Ao lado dos tanques de criação de camarão e tilápias, os pesquisadores irrigam uma lavoura da atriplex e uma faixa de 200 metros quadrados de vegetação nativa.
Após quatro meses, já não há mais vegetação nativa, morta pelo sal. Na faixa de cultivo da atriplex, o solo se mantém normal, segundo Reginaldo Guedes, pesquisador do CNPq. Ele está iniciando a pesquisa de utilização do rejeito do dessalinizador no cultivo de coco, melão e pimentão, o que pode abrir novas frentes de renda na região. Os estudos devem demorar ainda um ano.
"Se chegarmos a resultados satisfatórios, como os já obtidos com o camarão e a tilápia, estaremos contribuindo muito para a redução da miséria na região", afirmou Guedes.
Os melhores resultados da pesquisa com o camarão foram obtidos em um tanque com apenas um metro de profundidade. Foi nesse tanque que se conseguiu produtividade acima da média nacional. Nos tanques com maior profundidade, o desenvolvimento do camarão foi cerca de 20% menor se comparado ao tanque com um metro de profundidade.
No tanque com profundidade de um metro, a produtividade chegou a 3.300 quilos por hectare -a média nacional é de 2.500.
"Com profundidade menor a água fica mais quente, o que cria um ambiente favorável ao desenvolvimento do camarão", diz Maria do Carmo Carneiro, coordenadora do projeto. O programa usou uma saída regional para baratear a instalação dos tanques, que precisam ser impermeabilizados para evitar a contaminação do subsolo pela água salgada.
A escolha da bentonita, um mineral utilizado para vedar poços fechados de petróleo, foi sugerida pelo diretor-técnico do Sebrae da Paraíba, Francisco Nunes. Até então a forma tradicional era a utilização de lona plástica, mais de três vezes mais cara, o que poderia inviabilizar o projeto. "Gastamos R$ 1.500 para impermeabilizar com a bentonita 1.200 m2 de tanques. A opção da lona custaria R$ 5.000", afirmou Nunes. (AC)


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